terça-feira, 14 de novembro de 2017

olhar longínquo...



junto sorrisos na penumbra
e na face já adulterada
sinto a brisa da folhagem,
surge-me então a imagem que trago comigo
e a ninguém digo...o que sinto!
já não me amo inteiramente
trago o corpo desabrigado
já nada sente, cansado...
olho o espelho a que o inverno embaciou
o cristal, agora tão velho!
como posso levar-lhe a mal?
mas há uma luz que não se apaga
a mesma que às vezes os meus olhos alaga.

quiméricas lembranças vêm à minha memória
consumida...
de todo esse tempo que passou por mim
abre-se me o peito, e enternecida,
alargo o sorriso, o olhar longínquo
a cismar, a cismar sem fim.

procuro espantar o frio que chegou à vida
levo aves de sonho no meu caminho
e deixo a manhã em meus olhos crescer
a cada instante proponho-me a um
sorriso de murta e jasmim
sou um outono que não quer morrer
e assim renascem rouxinóis adormecidos
em mim...

e no sonho me perco e carícias teço
nele pé ante pé, com jeito
e de lá não regresso, tudo é perfeito
em sol e lua aninhada...
amanhã, talvez amanhã quando me sentir
amada!

natalia nuno