sexta-feira, 23 de agosto de 2024

todo o verdor seca...



deparo-me com o que já foi
e é então que a saudade dói
o poema, é caixinha de lembrança
sempre que a saudade me assalta
eu recordo-me criança,
solta como balão
com riso de gargalhada
sedento riacho de verão
descobrindo o mundo
na ânsia que despertava

livre estreei o mundo
e nele um melro cantava.

na palma da minha mão meu reino 
um jardim
enquanto cuidava dele
esquecia de mim,
escrevia todos os dias, as palavras 
eram voos, onde a luz se estendia

engendrava meu caminho
tudo rodopiava como sonhava

com a chuva foram-se os sonhos
côr de rosa
da flor que era, a corola ficou despida
e o aroma dessa flor generosa
foi ficando sem vida

todo o verdor seca
hoje é planície que asfixia
com uma dor surda que silencia.

natália nuno
imagem pintarest

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

palavras...do meu amigo da Clara Dias

 


PALAVRAS

*nada procuro nem espero
apenas umas palavras por dizer*
in  "desespero" de Natalia.C. Nuno

*****
Sei que não basta um rio de palavras correntes,
um lençol plácido de letras alinhadas,
uma caterva de ideias polivalentes
para construir um poema de pequenos nadas

Sei e( antes soubesse o que não quero)
que todas as palavras têm o seu mister
e "se nada procuro nem espero"
tenho ainda "umas palavras por dizer"

são curtas, breves, sem cerimónia
despojadas de brilhos ou fantasias
para dizerem tudo o que tenho para dizer

Escolhidas num alfarrábio com parcimónia
juntei-as junto ao peito todos os dias
para as sentir vivas enquanto puder

22.08.2024
da Clara Dias
sentir vivas as palavras, é sentir-me viva!
É esse o meu desejo. Obrigada ao amigo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

desespero...


aperta-se o quarto contra
meu peito, cresce o silêncio,
há uma luz que se aproxima
ao mesmo tempo se evade
surge a recordação
permanece a saudade

afundam-se os dias
rápida passagem
e num breve instante
chega ao fim a viagem

trago as palavras num espaço
fechado
e o pensamento despojado
sem tempo para a felicidade
a noite atravessa-me,
e é ferida aberta a saudade

o vento esvoaça a cortina
escrevo com hesitação
esta saudade repentina
que de longínqua distância
me chega ao coração

nada procuro nem espero
apenas umas palavras por dizer
se tudo muda eu desespero
ante o nada do papel, 
será que tenho tempo para as escrever?

 natalia nuno
imagem pinterest