deparo-me com o que já foi
e é então que a saudade dói
o poema, é caixinha de lembrança
sempre que a saudade me assalta
eu recordo-me criança,
solta como balão
com riso de gargalhada
sedento riacho de verão
descobrindo o mundo
na ânsia que despertava
livre estreei o mundo
e nele um melro cantava.
na palma da minha mão meu reino
um jardim
enquanto cuidava dele
esquecia de mim,
escrevia todos os dias, as palavras
eram voos, onde a luz se estendia
engendrava meu caminho
tudo rodopiava como sonhava
com a chuva foram-se os sonhos
côr de rosa
da flor que era, a corola ficou despida
e o aroma dessa flor generosa
foi ficando sem vida
todo o verdor seca
hoje é planície que asfixia
com uma dor surda que silencia.
natália nuno
imagem pintarest