sábado, 7 de agosto de 2021

um poema a mais por aí...





sentada sobre os dias me consumo
coloco  palavras linha a linha
e sinto-me viagem sem rumo,
para um beco sem saída, caminha.
hoje estou ausente e indiferente
o poema escreve-se sem minha intervenção
é ele que quer ser surpreendente!
mas, ninguém ama sozinho, ele não tem coração.
audacioso, dormiu no meu regaço
fiquei de peito aberto, e passo a passo
saíu do labirinto da minha mente
é feito de sobras da minha solidão,
no tempo vai varrendo o pó
e sente-se absoluto, poderoso
deixando-me só.

mas a mim já não me ilude
nem tem qualquer virtude!
é apenas um poema a mais por aí
nesta caminhada sem rumo
nos dias que passam como fumo,
e, na bebedeira doce de cansaço,
já não acerto o passo...desisti!

natalia nuno
rosafogo
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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

caída ao chão...



uma folha desprende-se e voa ao chão
porque será que tem de cair?
dá-me pena, lembra-me solidão
do tempo que está pra vir
assim me cai também o coração.
às vezes o vento da vida me abraça
talvez queira dizer-me que seja livre
e não seja sua intenção,
- derrubar-me ao chão!
ainda não enlouqueci
a verdade, digam lá o que disserem,
é que me vi
com este poema na boca
mas se quiserem,
podem dizer que estou louca.
trago um sorriso solitário, 
que talvez me doa um pouco
não queria o poema triste
mas se não é triste, é louco!
logo hoje, cruzei-me com o vento
que a escrever o poema me incitou,
submissa, aqui estou.
deixarei que sopre em meu coração
e me deixe um alma nova
para amanhã então,
compôr de novo, nova trova
à (folha) caída ao chão.

natalia nuno
rosafogo
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para quê?!...prosa poética



para quê mover os dedos, deixando explodir mil angústias, incertezas e medos, ouvir o estertor das palavras a corroer o silêncio, a ameaçar a solidão... para quê embrenhar-me na poesia,  incendiar os dedos de saudade, trazer a mim a alegria, se a seguir vier a tempestade à seara de outono que sou, à andorinha com asas de sono a que me dou, para quê deixar fecundar o sonho na esperança de iluminar a vida, se o vazio é medonho na solidão desmedida?!...já são sonâmbulos meus passos, ficaram-se pelas esquinas de breu os abraços, o silêncio sempre aparece e com ele a memória já esquece, este momento é breve esqueço até quem escreve, já só o sorriso semeia, quando surge alguma ideia ao pensamento...hoje viajo com o vento, abandono todas as emoções importantes, vou viver cada segundo como se fosse o último de todos os instantes.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

sou a minha tentação...



procuro o retorno dos dias felizes
busco sem alcançar
como se fugissem de mim
como se ficassem de longe a acenar.
humedecem-me as lágrimas pela recordação
e como ave voando por entre rochedos
levo um sorriso de esperança
esqueço meus medos
exilo-me na memória onde ainda sou criança
sou a minha tentação
ao querer fugir ao dia de hoje
quando tudo me foge
menos a solidão!

se eu corresse como as águas
ou apenas como a chuva gotejasse 
espalharia minhas mágoas
e o sol mais brilharia
se a alegria a mim voltasse.

ontem meus lábios beijaram o nevoeiro
e os pássaros dançavam por entre pinhais
embriagaram-me as flores com o cheiro
calei os ais...
dentro de mim dançou o vento
falou-me com voz cristalina
trouxe-me de novo a audaciosa menina
que não me sai do pensamento.

natalia nuno
rosafogo
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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

versos soltos...



a pouco e pouco envelheço
vou mudando de aparência
um dia mais que amanheço
saudade da minha ausência

trago fundas as olheiras
não pedi para aqui chegar
as rugas foram as primeiras
irónicas rondando meu olhar

voluntária não me ofereço
para morrer, tempo tenho
a pouco e pouco envelheço
grande saudade donde venho

virá a época da colheita
com sinceridade a temo
logo a morte estará à espreita
não a nego nem blasfemo

a noite apagará as estrelas
chega a nevoenta madrugada
sonhando inda irei vê-las
no fim desta caminhada

no poema vivo e candente
ficará a força que tenho
viverá a recordar eternamente
a saudade de onde venho...

numa pedra gravarei meu nome
talvez alguém me queira saudar
outro alguém por Poeta me tome
p'los versos q' meu sol m'fez semear

natalia nuno
rosafogo
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versos que são oásis...

 

andam os grilos por sobre as flores
 quando a luz do dia já se escoa
 volto à menina e seus amores
 e o seu riso ao ouvido inda me soa.

 como levíssima brisa do mar
 na minha memória se eterniza
 trago esta dor no peito a latejar
 mas de lembrar a memória precisa.

 nas asas frescas da madrugada
 andam pássaros tristes sem voo
 desesperam meus sonhos p'la calada
 e a seiva no meu peito secou

 interrogo-me sobre o seu destino
 destino da menina dos olhos meus
 que era de oiro... de oiro fino!
 o destino a coloca na mão de Deus.

 natalia nuno
 rosafogo
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domingo, 1 de agosto de 2021

amar é mansidão...




gosto de em teus olhos me sentir
calar as minhas palavras e apenas olhar
aquele rio d'amor recordar
queimar-me no teu corpo, e o fogo repetir.
vivemos agora a vastidão do outono morno,
correndo ainda como criança alegre
sabemos que não haverá retorno
mas a chama sempre jovem connosco segue.
tudo nos deixou recordação
até alguma lágrima no rosto
amar é mansidão
que às vezes ateia e é fogo posto.

as sombras vão ficando em nós
e a inquietude no coração se fixa
trazida pelo medo de ficarmos sós,
basta-me olhar-te para ter alegria
mas, nada permanece o que era
e esta ventura, vai desaparecer um dia,
o amargo da vida nos espera.

puder olhar-te me prende à vida
és ainda a sede dos meus sonhos
olho-te de novo com doçura
amando-te na minha memória
já um tanto adormecida.

natalia nuno
rosafogo
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