sábado, 23 de maio de 2020

porque me olham?...



um pouco de tudo, um pouco de nada
vou à frente, vou cansada.
espero a vez...
porque me olham? Ah sei... talvez!?
porque nenhum de vós conhece a caminhada.
cada dia é um milagre a acontecer
e o coração começa a apertar-se
mas eu quero escrever, escrever...
até sentir a morte a mim a chegar-se.


vai longe o passo da partida

aproxima-se o passo da chegada
caminhei tão distraída!?
que cheguei em menos de nada.
trago comigo a dor da saudade
mas enquanto escrevo sou imortal
mesmo agora que já é tarde
escrevo, escrevo e afasto o mal.
escrevo, ignoro para quem
escrevo palavras despretensiosas
quem sabe não haja alguém!?
que sinta nelas o odor das rosas.


eu sei que vivo de ilusões

mas trago ainda a coragem
ao escrever, passam todas as aflições
e até esqueço que estou de passagem.
esta escrita não me dá tréguas, tenho de escrever
podeis até rir à vontade
hei-de escrever até morrer
depois? depois podeis tudo rasgar!
enquanto me der saudade
de tudo quanto amei e hei-de amar
cantarei, até à loucura,
tal é minha necessidade.
desta doença sem cura.



natalia nuno

mas não me digas!...




tanta coisa passou...nem sei!

só tu podes dizer-me,
se algum dia te amei,
o que me leva a esquecer-me?
coisas nossas que nasceram
deram forma ao nosso amor
será que entretanto morreram?
sou aranha... pendendo de dor.

mas não te preocupes comigo
um dia desvendo a verdade
deste estar e não estar contigo
deste agonizar de saudade.

a vida é rio em fim de curso
amamo-nos de maneira estranha
longo vai o percurso
mas não me digas!
que a saudade levo tamanha,
e as palavras são minhas inimigas.
o tempo nos gastou! Com sorte?
há-de a neve em nós crescer
o Inverno a chuva trazer
a geada se quebrará em pedaços
e eu morrerei nos teus braços.

natalia nuno


já não choram os meus olhos...




meus dedos o lenço seco amassam
pois o choro, já aos olhos não vem
nasçam as rugas nasçam!
já não choram meus olhos por ninguém.
andam caídos em agonia
às vezes se esforçam por chorar
o rosto se contrai perdeu luz que esplendia
e meus dedos continuam a amassar.

dentro dos meus pensamentos moram

aqueles que tanto amei
por eles sim, meus olhos choram
a saudade que no coração guardei.
a saudade às vezes

me vence de tão severa
conspira por me esmagar
nas asas do pensamento trago a quimera
por ela me deixo enfeitiçar.
quero pensar claro e tudo é nevoento
como se caminhasse no fundo do mar
onde tudo é abafado, cinzento
carrego meus olhos tristes,
toldado o olhar.

já só quero os pensamentos aquietar

ultrapassar qualquer amarga sensação
quero as lágrimas de volta,
preciso de chorar!?
para acalmar este tonto coração.



natalia nuno


quinta-feira, 21 de maio de 2020

parti por não ter chão...



parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.
natalia nuno

terça-feira, 19 de maio de 2020

acordar memórias...



acordo as memórias e ponho-me
a cismar... como é que a mente
aprisiona o que a gente amou?!
tudo em mim,
o que ficou da criança
que fui e sou!
e assim me acalma a arte
do silêncio e nela, minha alma
se abandona.
silêncio onde me encontro
e me comovo,
fico em suspenso no mais íntimo
de mim, ponho de novo
o sorriso infantil, volto a ser
papoila vermelha por entre o trigo,
vejo-me nesta distância invertida
nela me abrigo
em tenra idade,
na simplicidade, do que foi
minha vida...

a infância povoada de sonhos que vivi,
onde sentada docemente... amor, esperei por ti.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 18 de maio de 2020

instantes da vida...



sinto vontade de prosseguir,
olhar-te e sorrir,
sinto o coração sair-me do peito
numa sensação agridoce,
desse outro tempo que me afaga
como se ontem hoje fosse.
é esta solidão tão estranha
sem fim à vista,
que abala meu pensamento
e me põe aos ombros
o peso duma montanha.

vai-me devorando o tempo
sem que colha nada da vida
fica a vida como noz partida,
abrem-se as manhãs, fecham-se os dias
fecham-se portas às alegrias.
e tudo o que me vem à cabeça
antes que adormeça
é o sonho de olhar-te e sorrir
é esse sopro de inspiração
que me aquece, e a ruidosa solidão,
do coração desaparece!

natalia nuno




domingo, 17 de maio de 2020

já não está mais em mim...



já não está mais em mim aquela que existia, mas está em mim aquela que sentia, que hoje traz os olhos vidrados e o sorriso morto ao canto da boca, desvanecido de doçura, suave como o último suspiro duma ave na noite escura... a saudade que vai moendo, é também fonte onde vai bebendo, onde esfria o pensamento mas acalora o coração, toma o destino, caminha decidida, alheia a esta nova idade vai até ao entardecer, na ilusão, deixa-se levar pela tarde, não olha quem fica, nem sabe o que aí vem,  só sabe que vive e sonha e, deixa a morte...aquém!

natalia nuno
rosafogo