quinta-feira, 17 de outubro de 2024

incógnita que me rodeia...



interrogo-me incessantemente
o que procuro?
o coração não se rende
insiste e continua e, a vida
flui, sem poder atrás voltar
tanta vez estrada florida
outras tantas em aborrecimento
a afundar

cruzo caminhos
o coração continua a pulsar
marcando o seu propósito
e, a resposta não chega,
quase sem rosto, sem identidade
sobre mim recai a saudade!

o passado me estimula
e o presente ainda me pertence
mas sinto o desconsolo do que perdi
e o desencanto às vezes me vence

a memória faz eco, do que já não
existe
a vida vai distante mas, persiste,

com calma, abafo o rumor
que me aflige
aqui dentro de mim onde procuro,
não há rancor!

só mal curadas, algumas cicatrizes.

natalia nuno
imagem do pinterest

poesia em tempo de outono...



os sonhos confundiam-me
atrevia-me a sonhar
enquanto certezas procurava
com esperança de alcançar,
poemas foram crescendo
até o rosto enrugar

ainda com vigor 
e palavras aprendidas
em noites de amar,
tudo era amor, até o tempo
da dor chegar.

removi ideias
maldisse o destino
duvidei do Divino

a menina inocente
reclama-me ainda,
olha-me fixamente
consola-me sua fugacidade
que tanto me dá saudade!

resta um passo ténue
até ao esquecimento,
e nas águas frias navega
o pensamento

perdem-se as palavras no vazio
das horas, no vazio da boca
que o esquecimento mastiga,
é já o domínio da morte
que apregoa ser minha amiga

natalia nuno


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

mãos sem nada...



hoje não me lembro onde deixei as mãos
queria tanto baloiçar nelas os sonhos
escrever sentimentos ao rubro
lapidar emoções
acreditar que o sol, ainda é sol
que no meu peito ainda há fogueira
soltar gritos, como ave nocturna 
disfarçar as rugas desta casa velha

- a minha cabeça é um baú de memórias
que as minhas mãos vão bordando no silêncio
no frio da insónia
mas hoje minhas mãos não têm poesia
refugiaram-se nesse silêncio
a noite morreu, e eu não as reconheço

talvez queiram que enlouqueça em paz
com saudade a viver dentro de mim
e a boca cheia de palavras saudosas
porém inaudíveis...

que se vá a noite, que as sombras
se vão e, a cada palpitação
floresça de novo, poesia
nas minhas mãos
mãos sem nada...impossível a esperança!

natalia nuno
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palavras que queriam ser poema...



às vezes sinto-me só,
num mundo estranho de esperanças poucas 
e sentindo que nada posso mudar, avanço
nas horas sem remos, debaixo de calor
sem dar pela dor

basta saber-me viva!
perco até as palavras e
aguardo pela paz em mim,
então, faz-se aurora e na hora
eu sou a viagem
e sigo minha trajectória
seguirei com coragem.

palavras que queriam ser poema!

natália nuno
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domingo, 13 de outubro de 2024

entre o júbilo e a tristeza



o sino está velho
de tanto chorar os que partem
e o caminho está gasto de tanto passo
os corpos cansados de tanto abraço

passa-se a curva do rio
e segue-se adiante,
e num instante
a dor dos que ficam

as lágrimas juntam-se às águas
do rio
amanhã a vida continua
quer faça calor, ou frio
e o sino não pára
e a dor não sara

quando nasci o sino não tocou
só o rio transbordou
e eu chorei de emoção
era aquele, o meu chão!

lá, sempre volta o sol ao amanhecer
lá pela tarde, volta a pôr-se no poente
a primavera volta verde e colorida
volta a crer-se na vida da gente

e os pássaros que cantaram à minha chegada
chorarão à minha partida
recebi sem prazo um destino
e pernas ágeis para correr
hoje no ouvido inda ouço o sino
e nos meus braços recordo, três gerações
a adormecer e a crescer

brota vida nova à minha volta
cruzo as noites e lentas madrugadas
escrevendo palavras soltas
entre a tristeza e o júbilo
de estrofes inacabadas.

natalia nuno
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