a noite cresce, da serra chega «o cheiro das estevas e da urze», as ideias correm na mente como esse aroma fugidio, como trovão melódico explodem no coração desmanchando-se em ternura... sinto-me uma louca, com afeição a pequenas coisas à minha volta, fico escutando no silêncio as gotas de chuva que vêm pernoitar na minha janela fazendo companhia às minhas insónias e ao meu coração que quer ir mais além, procurando esquecer o tempo que aí vem...privada do sono, mas não da liberdade de pensar, continuo atrás da saudade como um vaga-lume na noite, numa teimosia de emoções que me fascina, sigo ao encontro da menina de tez morena, faces de âmbar e cheiro a jasmim que recordo saudosa, e vou amar até ao fim... a chuva embacia a minha janela sem hesitação, e deixa mais outonal meu coração...vem a madrugada, apagou-se a última estrela já cansada, oiço o piar do estorninho levando no bico um raminho com «o cheiro das estevas e da urze», o sol nasceu... logo volta a pôr-se, a saudade surgirá, as ideias correrão na mente, e o coração de novo ao Deus dará sem saber de verdade o que sente.
natalia nuno