terça-feira, 21 de abril de 2020

a noite cresce...



a noite cresce, da serra chega «o cheiro das estevas e da urze», as ideias correm na mente como esse aroma fugidio, como trovão melódico explodem no coração desmanchando-se em ternura... sinto-me uma louca, com afeição a pequenas coisas à minha volta, fico escutando no silêncio as gotas de chuva que vêm pernoitar na minha janela fazendo companhia às minhas insónias e ao meu coração que quer ir mais além, procurando esquecer o tempo que aí vem...privada do sono, mas não da liberdade de pensar, continuo atrás da saudade como um vaga-lume na noite, numa teimosia de emoções que me fascina, sigo ao encontro da menina de tez morena, faces de âmbar e cheiro a jasmim que recordo saudosa, e vou amar até ao fim... a chuva embacia a minha janela sem hesitação, e deixa mais outonal meu coração...vem a madrugada, apagou-se a última estrela já cansada, oiço o piar do estorninho levando no bico um raminho com «o cheiro das estevas e da urze», o sol nasceu... logo volta a pôr-se, a saudade surgirá, as ideias correrão na mente, e o coração de novo ao Deus dará sem saber de verdade o que sente.

natalia nuno


domingo, 19 de abril de 2020

voltei a sonhar...



olham-se os salgueiros nas águas claras do rio,
olho com emoção as laranjeiras em floração,
e ao rio revelo meus segredos, meus medos...

beija-me os dedos, em silêncio,
falo-lhe como quem se queixa,
num queixume choroso, e, ele me deixa
uma lembrança, do rosto de criança,
água tão pura como era então, é agora a realidade dura...
que amor é este que me prende a este rio,
a este vento, a este odor a laranjeira,
como se voltar lá fosse sempre a vez primeira ?!
quem sou eu que um dia vou partir sabendo que não regresso?
que impaciente viverá minha alma!
nem os salgueiros, nem os pássaros falarão mais de mim,
ouvir-me-ás no canto das aves na primavera,
num véu de palavras que te fui murmurando com nostalgia,
e espera por fim,
pelo vento onde prendi minha inspiração,
em tudo encontrarás o amargo traço do meu rosto,
curvados sobre ti continuarão
os salgueiros, velhos de tantos Janeiros,
pedindo que eu regresse de onde nunca parti.

hoje as nuvens estão ao meu alcance
talvez a vida avance, continuo a sonhar
as palavras sentam-se aqui comigo
vou prendê-las nos meus versos
sempre que as saudades voltem,
estarão aqui contigo!

natália nuno
rosafogo

quase mágico...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

natalia nuno

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