sábado, 24 de junho de 2023

ainda me cabe o sonho...



ainda me cabe o sonho 
para esquecer o meu destino 
em fuga
sonho com palavras azuis
da côr do firmamento,
para ver se fujo ao esquecimento.

já ouço o rumor rasgando
o arvoredo, é o vento
no ribeiro do meu medo.

traz madressilvas e giestas
aos meus versos, traz trinados
e alfazemas em festas
aos meus olhos embaciados

queixosa desta opacidade, já
morre meu coração de saudade

natalia nuno
rosafogo
 

tudo parece nu...



há rostos que se cruzam
com uma indiferença cinzenta,
da côr do dia de hoje
frio e de solidão,
também a vontade me foge,
nesta tarde pardacenta
até que a vida  me devolva
a paixão por ela, 
perdida encosto o rosto
á janela, 
tudo me parece nu
e um sentimento cru,
lembra-me um último encontro

lentíssimos os pensamentos
perdidos os nomes na lembrança
perdida a fé e a esperança
gastas as cartas, onde era rei
o verbo amar,
dói na memória, 
é tudo quanto sei, e não posso calar.

cresce a manhã, aguardo milagre
que a vida se consagre.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 22 de junho de 2023

estranho cansaço...



fico imóvel como o silêncio
hoje não dou nem mais um passo
como ave na gaiola presa
meu corpo me soa suave
sou parte do tempo,
trago certeza
que ouço o silvo da morte
encurtando minha passagem,
fico sem norte
ainda assim, ascendo da realidade
ao sonho
e fico-me a recordar com saudade
o amor vivo,
a juventude dourada
e a felicidade da jornada
harmonizo palavras para a vida
vou acalmando a desenfreada perda
que me deixa caída.

natalia nuno
rosafogo


quarta-feira, 21 de junho de 2023

recordar



onde a luz não existe
o amor nos esquece
no peito uma débil presença
que vai caindo, 
mas que ainda persiste

nas densas madrugadas,
aparece
com sombras acinzentadas,
na memória que ainda o acaricia

aquele amor, violino,
que toda a noite se fazia ouvir
e era como se o tempo
parasse ali, tempo divino
com aroma a flores do vale
aroma tão dentro de nós
mesmo que apagada a voz

natalia nuno
rosafogo




domingo, 18 de junho de 2023

pensar ternura...


 


pausadamente

olho esta folha fria e lisa,
como a pele que já não tenho
e detrás do silêncio
torna-se minha confidente
com uma lentidão perfeita,
com a disposição
de ouvir meu coração

se a noite fosse somente escuro
sem a pausa para pensar ternura,
o tempo seria duro.
e a noite mais escura

a vida tem uma chave
que guarda com cuidado,
que a memória aclara,
que entreabre a saudade
liberada em poesia,
tudo que se amara é
sonho, donde brota nostalgia.


natalia nuno
rosafogo