sexta-feira, 26 de abril de 2019

quando a saudade é tema...




hoje vou despir a ilusão
e vou vestir a realidade
tenha eu medo... ou não,
vou dizer não à saudade

sou como ave que voa
d' meus olhos para os teus
não quero saudade que doa
tão pouco dizer-te adeus

ando sem sentido algum
como a luz do sol tardio
sonhos não tenho nenhum
são as lágrimas como rio

batem os dedos no papel
como se batessem no poema
arrepia-se-me a pele...
quando a saudade é o tema

carrego em mim a tristeza
sobe aos olhos a escuridão
sobra esquecimento, incerteza
paira no rosto a solidão...

embrulho estrelas à noitinha
escrevo versos pra esquecer
que a morte ao lado caminha
floresce a vida... pra morrer

esvoaçam gaivotas no peito
e eu morro nesta escrita
trago meu sonho desfeito
sinto a saudade que me grita.

natalia nuno
rosafogo





quinta-feira, 25 de abril de 2019

tão perto de mim e tão perdida...



a vida estremece com delicado frio
e a solidão desponta
em tremendas tempestades
lá vêm as saudades!
de fio a pavio
vai a memória dando conta,
nas insónias acesas e persistentes
onde escuto o lento chilrear dum pássaro perdido
nas sombras intermitentes dum mundo a desabar
quero esquecer-me, quero escapar

e a memória dos dias volta do anoitecer ao
amanhecer...
lembro de ser
um ser feliz
de asas a bater,
a levitar num avanço e recuo
leve e doce a tocar as pétalas das flores
perdida de amores
com o sol à minha volta a rastejar
logo que a manhã solta surgia espelhando as águas
do rio... e eu estremecia com delicado frio.

agora sobrevivo à memória e ao tempo
inunda-me o peito a solidão que grito,
o vazio das horas
o vento turbulento baila no parapeito
dos meus olhos que não sabem porque choram
e aqui fico tão perto de mim e tão perdida
neste estreitar de tempo, nesta enorme descida.

natalia nuno
rosafogo