sábado, 24 de outubro de 2020

deixa-me o sabor da tua boca...



deixa-me o sabor da tua boca, acaricia meu rosto fatigado na tarde lenta em que as minhas mãos tecem palavras de loucura, como se rezassem!...olha-me com espanto, como se eu continuasse a ser o teu encanto, nua ou vestida percorre a minha pele, poro a poro, afunda-me no teu peito com aquele jeito, com que eu sempre coro...não me deixes neste silêncio estranho, ou no vendaval onde me dobro para não quebrar, o tempo cruzou-se comigo nestas longas caminhadas pejadas de partidas e chegadas, deixou sinais que não posso esquecer e restos de esperanças que quero reter...há lembranças que se vão desvanecendo tal como a tarde, percorre-me o sonho na claridade do teu olhar, onde a felicidade e a ternura são canção de embalar...os meus dedos de menina escrevem umas linhas de amor, e nas tuas mãos, esconde-se a lua vestida a rigor...

natalia nuno

lembranças...

Hoje lembrei a adolescente que conservo na lembrança com comovido afecto, e recordei-a feliz e descontraída, no seu sapato alto e saia reduzida. Orgulhosa da sua aldeia e da sua gente que apesar de pobre , era rica de sentimentos, sendo eles que deram sentido e esperança ao desabrochar desta adolescente. Hoje, lembrei também dos rapazes de mãos rudes e palavras desajeitadas e dos bailes onde sonhava ser princesa sem castelo. Há diariamente uma história que conto a mim própria que jorra desta fonte que é meu passado, ora alegre ora sombria mas sempre viva. A aldeia e eu seduzimo-nos mútuamente, há recordações que acarinho e evoco nas minhas horas sombrias e assim me vou distanciando, sentindo-me agora um ponto ínfimo no fim da caminhada. Devora-me o tempo, só a Poesia me reconforta e a memória é ainda guardiã do arquivo onde guardo recordações.


natalia nuno

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

pensamento...




passam meus dias em suspenso, a memória estagnada, sinto que além do que sou e do que penso, que a vida parou, trago a alma angustiada...estou entre o ser e não ser nada!
natalia nuno


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

tempo impalpável...

 

 tantas vezes no pensamento,
- não posso ter morrido assim!
«há dentro do momento que te abala»
a interrogação...ao que vim?
este caminho que piso, 
prolongado de lembranças
ainda resgata o bater do coração
no peito.
tantos passos em vão
quantas marés eu preciso
para aconchegar este meu viver?
perguntas sem respostas  na minha mente
por nascer...
tantos sonhos por desabrochar
«há dentro do momento que te abala»
um sol moribundo, 
e um pássaro por libertar!
mesmo com a vida tão incerta
cumpriu-se o caminho
desde o meu perdido berço,
e agora para aqui estou
rezando à vida sem terço!
«há dentro do momento que te abala»
a memória esquecida,
e a boca sem palavras, 
em silêncio,
deixando correr a vida...

natália nuno


 



segunda-feira, 19 de outubro de 2020

apronto meus passos...

trago sempre presente o amor,
que me embala o sonho noite e dia, 
e me faz sentir um malmequer que ao vento dança
apesar do inverno que já me cansa, 
amor, que me traz o mel ao peito,
sempre que me olhas
enquanto tuas mãos minhas folhas desfolhas.
neste inverno já amadurecido
há gotas de chuva no meu rosto
trama pelo tempo urdido.

pela tarde é hora da melancolia
até o melancólico sol-posto me faz companhia
as saudades entram em delírio
apronto meus passos mesmo não sabendo 
se me negas teus abraços, 
e neste caminhar louco, 
a vida já vai a uma ponta
caminho, onde vamos morrendo um pouco
mas ainda o sol desponta.

natalia nuno
rosafogo
manta rota 19/10/2020

domingo, 18 de outubro de 2020

já se perdem minhas folhas...

 


já se perdem minhas folhas, neste outono tardio assoladas pelo vento da saudade... hoje ouvi as harpas do canavial, e recuperei o sorriso, subitamente vieram-me as lembranças às águas da memória, e de lembrança em lembrança voei caindo no silêncio...sento-me no chão, sou agora um vaso quase vazio onde  repousam flores sem vida... e a borboleta que voeja na desordem da minha folhagem caída, pergunta-me: que fizeste da vida? fico-me silenciosa, e olho a minha triste caligrafia, as palavras caem da boca como frutos maduros, e as sílabas já não querem mais voar...é nas linhas tracejadas que me encontro de partida e as flores reinventadas, já não esperam primaveras...


natalia nuno(rosafogo)

imagem pintarest

meu mar...

 


vim ao mar segredar, 

tudo ouviu da minha boca, 

beijou-me os pés veio me saudar

 achou minha saudade louca.

vi-me nos seus olhos de prata a brilhar... 

mostrou-me seu rosto risonho

 e no seu vestir de azul rendilhado

 portou-se como se fosse meu amado 

 veio até mim se espraiar, 

perdida no seu encanto esqueci até a solidão, 

e ao segredar-lhe da vida e do meu desencanto,

confortou-me o coração.

apressou-se a beijar-me a mão 

e assim escrevi este poema tão nosso, 

poema de veemente paixão! 

mas logo meu sonho deu à costa, 

enfrentei a realidade,  um outro mar, 

tantas vezes tempestade,  dor e saudade. 

 natalia nuno

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