sábado, 18 de abril de 2015

resta-me, que me abras os braços...



pequena prosa


a frondosa ramagem que avisto da janela dos meus olhos, é a que tantas vezes aparece nos meus sonhos, repetidamente, como se fosse uma armadilha do tempo a querer dizer-me que não saí da margem do meu rio de árvores frondosas, que sou ainda aquela menina que vai lavar ao rio, que corre despreocupadamente pelo açude... e a minha pobre memória que já tudo confunde, acredita…e então escrevo poemas de amor em letras  que ficarão para sempre com a impressão que a juventude ainda em mim habita… uma hora, um dia, um mês, um ano mais, não importa, há sempre um instante de felicidade que me aguarda, o amor é o sonho dos sonhos é a felicidade, e só o sonho comanda a vida... mas é nesta loucura, cansada, que vou morrendo todos os dias mais um pouco, esquecendo mais um pouco, desgastando a vontade mais um pouco, com a solidão mais presente, com a dor mais persistente, e a última esperança a adormecer…o desânimo a percorrer-me as veias, parda a minha alma, as palavras a fugir, perdida a audácia que me restava de menina, mas que estação sombria!...resta-me que me abras os braços e me acolhas, bastando-me esse instante, que será o instante de todos os instantes a provar a força que nos une. Na casa dos meus versos há nostalgia, há palavras submersas no crepúsculo, e na mente um inventário de recordações, um jardim onde rasgo emoções,  e um passado que escuto, mas já não alcanço...

natália nuno
rosafogo

quarta-feira, 15 de abril de 2015

nas mãos do tempo...





pequena prosa

fico imóvel como o silêncio, de pernas e braços extenuados, meu corpo é um barco sem remos, que oscila ao sabor da maré…e apesar da vontade me agitar, já é difícil libertar-me deste estranho cansaço como se estivesse no centro do vento sem conseguir aguentar a tempestade, e assim se seguem os dias sepultados no silêncio, vivem e morrem tal como eu num mundo de recordações. Sedenta alcanço cores e claridades, que surgem no ar cálido do entardecer  e me olham jovem na minha idade sem tempo, e me deixam esquecida do tempo real… mas, o tempo crava as suas garras sem dó nem piedade e em certas horas me despe da ilusão, me retira essa existência feliz do sonho…no entanto, a minha ânsia queima todos os tempos, emudece a solidão, e também a melancolia, entrego-me de novo à vida e prossigo e é como se esse vendaval  aprisionado em mim voltasse sem demora em busca do azul do meio dia onde eu volto a ser a gazela livre e feliz...nada permanece como é, o horizonte começa a ficar sem luz, vou esquecer a fuga dos dias, espero que o próximo me aguarde porque no peito trago a avidez de viver, e um desejo sempre presente na memória, o de caminhar escrevendo pedaços de recordações... com palavras ternas que me saltam dos lábios e me fazem renascer...

natalia nuno
rosafogo