palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
domingo, 30 de dezembro de 2018
poema maldito...
espreito por entre o tempo
para ver se me encontro
e a cada entardecer, há uma notícia falsa
um desencontro
ninguém me viu, ninguém sabe
perguntam até se sou fugitiva,
quem pode saber se ainda estou viva!?
ninguém tem interesse em saber
sou agora uma representação
sem alma nem coração...
o tempo não me leva a nenhum lugar
adormeci e acordei comigo
procurei algum lugar para me acomodar
mas não sei onde, não me encontro
nem encontro o abrigo
há três versões da minha história
ou fugi, ou estou por aí, ou me apaguei
de morte inglória.
olho para mim e digo sem dizer
confortada...que mal te fizeram mulher!?
este é o resultado das noites de insónia
mas está mal contado
não saltei, não esvoacei
e nem foi maldição
Mulher,
asseguro-te que estás viva
liberta os demónios da alma e do coração.
natalia nuno
rosafogo
sábado, 29 de dezembro de 2018
avenidas do meu viver...
a casa lá continua com pintura esboroada
em sua pesada realidade
na solidão, por todos abandonada
a casa onde tudo cabia, até a saudade
a chaminé já não fumega,
já não se dá volta à fechadura
mas ninguém nega
que por ali houve sonoras gargalhadas
e alguma ventura
definitivamente no crepúsculo
difícil é vê-la a morrer
tal como a menina que corre veloz
infatigável corre, agora sem se mover
num caminho donde não se retrocede
e está a chegar ao fim
e a menina vai e a mulher sorri
onde está essa menina que nunca mais vi?
longas são as margens dos meus sonhos
e largas as avenidas do meu viver
lembro os dias risonhos, do amor doce
da felicidade de poder dizer
que as lembranças suavizam o momento
que a vida tem a rota marcada
seu curso seguirá , nada poderá fazer nada
regado o meu pensamento, espero a alvorada
fumegante de harmonia, com a ilusão oculta
que a porta da casa de pintura esboroada
onde tudo cabia...
afinal sempre para mim se abria!
natalia nuno
rosafogo
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
a saudade em memória...
oiço a respiração do silêncio
tudo no escuro parece assombração
há molduras abandonadas na parede
pára o meu coração e
na garganta a sensação de sede.
sente-se o bolor, a humidade
manchas amareladas fazem parte
ainda assim a saudade
eu sinto, das filhós na lareira
feitas com arte...
entra o vento pelas frestas da janela
treme a torcida na candeia
aqui estou a esperar por ela
tarda nada é hora da ceia
encostada à parede a mesa
com toalha branca desenxovalhada
passada a ferro como quem reza
pela avó que em solidão se sente
abandonada...
os pratos na cantareira
os talheres da bisavó
neste dia é grande a canseira
e eu ali estou, sentada na minha pequena cadeira
aguardando a minha filhó
na casa vazia, oiço a lenha que estala
e há fantasmas que vêm comigo à fala
em frente à janela pequenina
avisto a macieira, lá em baixo o laranjal
no meu quarto a mesa de cabeceira
onde ponho as memórias deste Natal
este é o refúgio da minha imaginação
onde o silêncio é total e o sol já vai a pique
brinco à apanhada no adro e o sino pede
que eu fique... a lembrar-me que ali pertenço
ele estará sempre nas dobras do meu coração
será sempre constante o amor à terra,
este amor imenso.
natália nuno
rosafogo
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
pensamento...
Mil pensamentos chocam-se no cérebro, recordações, frases sem sentido, gritos da alma, e a vida murchando como um balão que perde o gás e o desespero a extravasar como a água que não vence a barragem.
natalia nuno
gente com quem cruzamos...
há gente com quem cruzamos
trocamos olhares seguimos em frente
gente que não conhecemos, mas que amamos
porque nos fizeram lembrar alguém
mas, depois olhando bem,
afinal nada mais era que apenas um desconhecido
que o nosso olhar não vai mais lembrar.
há gente que muda nossa vida, outra nosso dia
uma carta que chega, uma companhia
ninguém sabe o quanto é importante
por momentos na vida da gente,
nem o que o coração sente
quando damos de frente
e nos fazem lembrar alguém que partiu,
e o olhar nunca mais viu
e naquele momento se tornam para nós reais.
admiro a memória que não quer esquecer,
e serve-se de tudo para relembrar
esperando sobreviver
e o coração agitar...
quando a noite não desiste de me trazer
a insónia, relembro tanto com rigor
dos pormenores de há muitos anos atrás,
e sou como o galo cantador, capaz
sem perceber como, passar da realidade ao sonho
nas ilusões das madrugadas e isso me satisfaz...
os meus olhos já não choram
p'los que se foram embora,
estarão de pedra e cal no coração
de olhos fechados os recordo agora
nesta noite fria...
mais uma vez no sonho da noite, na escuridão
mas hei-de voltar sempre mais um dia,
ás memórias que não quero perder.
natalia nuno
rosafogo
sábado, 15 de dezembro de 2018
Boas Festas aos amigos que visitam meu Blog
MAIS UM NATAL MAIS UM FINAL DE ANO...sempre que qualquer coisa acaba, sinto-me um pouco perdida, ansiosa, não sei se deva olhar para trás, e olhar o que perdi, ou olhar em frente e acreditar que ainda alguma coisa boa irá acontecer...assim espero para mim e para todos os meus amigos! BOM NATAL E UM ANO NOVO, SEM MUITAS DIFICULDADES, e que todos tenhamos pelo menos o essencial para vivermos uma vida digna. Abraço-vos.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
efémero vôo...
Vão-se todos os meus dias
numa febril inquietude,
calada pena os meus olhos
apaga, as palavras perdem-se na bruma
insistindo em deixar-me, uma a uma.
apagaram-se os anos lentamente
tenho agora o tempo que me resta
que serve para tudo e para nada
o coração já não se sente em festa
e a paz que tanto queria traz-me fatigada
dias que esculpem meu rosto obstinadamente
e a inquietação deixa-me prisioneira
o tempo mede-me o pulso com desejo voraz
com olho de falcão furiosamente...
não me deixa em paz!
crava as garras na minha memória
mas eu, entrego aos dias o meu ser
e prossigo inteiramente com o sonho
meu... este que sempre me habita
meus olhos criam uma estrela
quando surge a obscuridade
cruzo-me com a saudade
e meus passos encaminham-se
para uma audaz primavera
abre-se a noite
e eu volto a ser quem era...
natália nuno
rosafogo
domingo, 9 de dezembro de 2018
eu sei que é sonho...eu sei!
eu sei que meus dias são quase felizes
quando recordo minhas raízes,
ninguém sabe até onde meus pensamentos vão
nem por onde andam meus olhos errantes
nem as lágrimas que neles se acendem,
nem quando há sol ou chuva no meu coração.
abro as janelas do peito e a aragem entra
vou arejando p'lo caminho num passo
que já não voa, nem corre,
mas o sonho continua e não morre.
às vezes a alegria faz-me companhia
ponho no rosto um sorriso
aspiro o ar que o vento faz mover na verdura
subo ao céu azul intenso onde o sol flameja
encho o peito de ternura e ele me beija,
fico numa paz perfeita, aconchego-me a ti
eu sei que é sonho ...eu sei!
mas é um como real acontecimento
e minha alegria desperta,
sonhar com a felicidade é alegria certa.
rubra de paixão, olho a vida com profundidade
com o pensamento numa doce recordação
hoje sonhadora, banho-me nesse mar da saudade
já tão distante...guardo a recordação em mim
e minha alma verte doçura
turva-se de lágrimas o olhar, era tempo de amar!
não está esquecido o beijo dado, nem o roubado,
generosa idade, dela sinto saudade.
nos sonhos da noite, volto a reviver
o tempo desfolha eu sei, mas hoje do presente, não sei
nem quero saber...
natália nuno
rosafogo
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
à procura de paz...
invejo as árvores silenciosas
invejo as folhas que o sol doura
invejo a terra de tojos juncada
e o campo de trigo que o tempo já aloura
as vinhas generosas, de folha avermelhada
tudo se move alegremente com o sopro do vento
e eu feliz por existir... é meu contento
longa subida esta que me faz arquejar
rumorosa a vida, e eu continuo à procura
dum lugar...
como sulcos da terra, o rosto de rugas coroado
duras são as palavras, mas o poeta
vive a mim agarrado.
meu pé pisa o chão da saudade
e o dia de hoje é melhor que ontem
mas nunca foi a felicidade...
o tempo terá suas razões, mas eu o ignoro
fantasio, crio manhãs e tardes d' ouro
quebro o gelo no coração
e nas noites surge sempre mais uma recordação
o vento corre a meu favor
traz-me recordações da infância
onde eu e outras caprichosas flores
odorávamos os dias de feminina fragrância
natalia nuno
rosafogo
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
saudade, forte refúgio...
lembro quando os pirilampos
corriam à minha frente
iluminando o caminho
e eu inocentemente corria
e a terra já dormia
as estrelas olhavam-na do céu
o vento brincava nos meus cabelos
que caíam em anéis espessos
e meu riso soava doce
lembro-me como se hoje fosse,
o orvalho tombava do céu
tão puro quanto eu.
já dormiam os vivos
os pássaros recolhidos no ramo
só os pirilampos me faziam companhia
também som das águas do rio que da janela
ouvia...
o vento sempre me fala da saudade
saudade do freixo, saudade do açude
e da menina que nos sonhos vejo
a atravessá-lo amiúde,
quando é maior a solidão
e o sonho ilusão
volto à meninice, onde os pássaros cantam melhor
e o rio chama por mim
eu sonhadora lá acudo ao chamamento
e vou ao lugar de onde vim
e se por ventura o moinho ainda chora
interrogo o vento na hora
invento, invento como se os pirilampos
ainda estivessem por perto
e com o coração aberto
tudo o resto passa ao lado
dos meus olhos fechados
.....................
tudo isto sonha o poeta
mas o poeta não sabe nada
fala por ele a saudade, quando
faz poemas na madrugada
saudade é sua chuva seu sol,
seu ânimo para qualquer ocasião
é o acomodar a paz no coração.
palavras e lembranças, adoçam-me a boca
aos ouvidos fazem cantar os pintassilgos
docemente... e assim, ainda me sinto gente!
neste mundo meu, há lírios que a memória retém
que só eu vejo crescer, que serão o embalo
do inverno que aí vem...
natália nuno
rosafgo
domingo, 25 de novembro de 2018
vento da minha imaginação
morreu o vento
choram meus olhos em desalento
e o dia entristecido já declina
a chorar a chuva fria e fina
- fecha-se o céu em escuridão
nada se conhece, para além do que parece...
meus olhos a querer decifrar
teu coração e sem nada descobrir
nos olhos que venho a amar
se hei-de ficar ou partir!
morreu o vento
no ar se dispersa meu pensamento
sou mortal que ama e sente
às vezes sofro resignadamente
- a vida reduz-se a nada
se não me sentir amada
como um mar que brame
se não tenho quem me ame
mas tudo se atenua
no peito o sonho a transbordar
serei tua se me souberes amar
se fôr grande o sentimento,
que importa se morrer o vento?!
experimenta! ... o amor, não se acorrenta.
natalia nuno
rosafogo
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
meu nome...
meu nome alguém mo deu
lembro-me dele de tenra idade
dizem que foi meu pai que o escolheu
lembra inverno, lembra natal, lembra saudade
escrevi-o em cartas de amor mal sabia escrever,
quando a lua aparecia ou o sol me vinha aquecer.
escrevo-o agora ao ritmo dos meus dedos
às vezes como uma ave lenta
no lirismo dos meus versos
onde grito os sonhos, o desfolhar da rosa
os medos...e tudo o mais que a poesia
me tenta...
meu nome, rabisco-o de vez em quando
nem sei às vezes porque o faço
em letra miudinha e vou sonhando
com quem mo deu e seu abraço
e logo meus dedos lançam sementes à sorte
sonham com o apanhar das amoras
despidos de palavras aguardam a morte
que há-de vir cedo, ou tarde, ou a más horas
meu nome já não escrevo, porque me fugiram
as letras em noites de solidão
e os dedos já não cantam e errante anda o coração.
foi nas minhas memórias esquecidas
que deixei o nome, com as saudades de ternura
vestidas... perdeu-se no passado
como um vôo que se esvai num ai
ou como um grito que ecoa no infinito
e chega até mim já desfasado
deixei-o no cantar das cigarras, na solidão
do olhar, nas tuas mãos quando me agarras
na aliança que trazes nos dedos,
nas sombras por onde vagueio, em cada emoção,
nas marcas do desespero, nos medos
no silêncio a que me enleio para não enlouquecer
no chão da minha pele a envelhecer...
meu nome lembrará sempre saudade
não sei bem sua história, já não é de prata a memória
mas, lembro-me dele de tenra idade.
natália nuno
rosafogo
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
é hora...
é hora de abandonar calendários
é hora de esquecer a idade
neste torvo mundo de tempos solitários
onde o vazio me veste de saudade
é hora de nos teus braços me embalar
de me deixar no sono ao abandono,
e não querer mais acordar...
fechar os olhos à solidão
e sonhar-me perdida nos teus olhos
perder-me no teu afago, em desvario e
emoção...
é hora de gastar minha última estrela
de abandonar as sombras e o cismar
abolir nuvens cinzentas do meu céu
olhar-me no brilho do teu olhar
matar a sede do sonho que não esmoreceu
provocar o sorriso em tua face
envolver-me no teu abraço
é hora... antes que a hora passe.
natalia nuno
rosafogo
perder-me no teu afago, em desvario e
emoção...
é hora de gastar minha última estrela
de abandonar as sombras e o cismar
abolir nuvens cinzentas do meu céu
olhar-me no brilho do teu olhar
matar a sede do sonho que não esmoreceu
provocar o sorriso em tua face
envolver-me no teu abraço
é hora... antes que a hora passe.
natalia nuno
rosafogo
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
emoções...
Fez-se noite!
os meus gestos são os mesmos, repetidos
mas, ao alvorecer de cada dia
uma nova esperança, uma nova alegria
há paz em meus sentidos
rasga-se o véu negro da noite
nasce a luz redentora de mais um dia.
Fez-se dia!
subo mais um degrau da escadaria
o sol beija-me ardentemente
sinto-me no céu em vida
cheia de recordação e saudade
que me toca com suavidade.
olho as flores preciosas
os raios de sol alaranjados
farrapos de nuvens rendilhados
deixo-me extasiar com as rosas
tranquilizo os pensamentos
às vezes de negrura manchados
logo o teu abraço forte carinhosamente
é prémio de mais um dia
deixo-me abraçar amorosamente.
mas, na vida tudo é efémero
lá se vai a alegria.
Chega a noite! Foi-se mais um dia,
nasce em mim de novo a melancolia...
surge o canto da ave
emurchecida, resta-me a saudade!
natália nuno
rosafogo
quinta-feira, 8 de novembro de 2018
entressonhar...
agarro com minhas mãos este pedaço de esperança
e desperto para a luz, neste meu anoitecer...
cingida a ti, sempre que as tuas mãos tão amantes
leves, tocam os meus dedos e levam meus medos
sei que hás-de amar-me até um dia
há em mim uma voz juvenil que me canta
primaveras que florescem, rosas que se abrem
e crescem...
como calar tanto sonho
e tanto desalento que já nos pesa
nesta noite silenciosa, lembremos a juventude
generosa...
sem pressa, sem demora, caminhemos desde
agora...voemos como uma águia na azinhaga
esqueçamos a idade, existe amor e a mão que afaga
dá-me a tua mão, quero saber que existo
ajuda-me a subir só mais um pouco
há o vazio das sombras que me atormenta , mas eu persisto
mesmo quando tudo cessa e já se apouca
caminhemos sem vacilar
até ao encanto do amanhecer
como se fossemos um livro não acabado de ler
no entressonhar, como será para lá
do que já vivemos?
natalia nuno
rosafogo
domingo, 28 de outubro de 2018
mariposas no meu sentir...
olha-me sempre que quiseres
com essa demasiada chama
eu serei a tua presa, aquela que te ama
pousa a mão no meu ventre
e sentirei uma delícia extrema
adivinha meus pensamentos
adoça os meus lábios sedentos
e busca neles meu amor ardente
abre tu a porta a estas devotas carícias
ver-me-ás de pálpebras cerradas
e coração a palpitar...
mariposas no meu sentir,
a minha língua navegando na tua
e a esperar-nos, o melhor que há-de vir.
não deixes que minhas pétalas caiam
ao chão, levadas p'lo vento negro
faz de mim teu desejo, tua paixão
e ama-me em segredo
é esse amor que me ergue viva
teço teia, prendo meus braços aos teus
e elevo-me aos céus...
nossas mãos unem-se felizes
pensamentos ao abandono, nosso mundo é de prazer
tudo é triunfo e ternura,
enquanto o amor dura
e nos sente a envelhecer
hoje fizeste-me sonhar nesse abraço terno
neste ofício de amar
esquecemos o inverno da vida, a chegar.
natalia nuno
rosafogo
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
saudade das madrugadas em que me tinhas...
trago no rosto o tempo
no olhar o deserto árido
anos de solidão, como se cada um
pudesse trazer uma réstia de esperança
para continuara viver....
farta de tudo e de nada, a alma desorientada
tudo inútil, tudo ilusão
há sentimentos sempre em contradição
e o cansaço me empurra para onde não há saída
fico sem chão, só o meu coração
faz o que pode p'la vida...
quando a tarde cair, e o sol se afundar no horizonte
escreverei meia dúzia de linhas
onde misturarei emoções, deixarei
os pássaros cantar em meus lábios a saudade
das madrugadas em que me tinhas
e antes que o sono me vença
faremos amor, nem uma nuvem cobrirá a lua
só o luar fará presença, trazendo-me o calor da tua voz
e até o dia nascer, entre desejos e memórias
seremos só nós...
ficaremos no sonho antigo onde nos deixámos
- nesse fim de tarde em que nos amámos.
natalia nuno
rosafogo
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
mil pensamentos galopam...
tardes plácidas em que tudo sorria,
- bela era a mocidade
ingénua flor, à procura do amor
hoje sinto desse tempo saudade,
vão meus olhos
suportando da vida os escolhos
já a vida soçobra,
acabou o roseiral que em mim havia,
e as estrelas do céu que me beijavam
e abraçavam, levaram com elas minha alegria,
hoje rio e choro de saudade
ao lembrar-me ainda criança de tenra idade
tempo de ilusão e sonho
mágica fragrância, rosto risonho
tamanho alvoroço, emoção tamanha
asas de ave, o sol na voz
como é bom ter pra recordar, neste tempo
já sem surpresas, atroz!
deixo-o passar indiferente
fico na imensidade deste meu silêncio
chegaram os dias melancólicos
dum tempo inclemente
mil pensamentos galopam
a arrancar-me da solidão
agita-se o coração, sou ainda essa menina
que me fascina e me faz viver do sonho,
agora serena, com alguma esperança viva
o sonho dolente e a vida fugitiva...
trago nas mãos tulipas delicadas
e no olhar rosas desfolhadas
o tempo me abalou, mas meu caminhar é sereno.
natalianuno
rosafogo
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
os crisântemos vão morrendo...
procuro apoio, o sono já me dobra
e o sonho já me convida
dou por mim jovem, sentada à lareira
e minha avó mexendo o café
na cafeteira.... o outono vai adentrando
como a querer chamar o frio,
e ela mulher do seu tempo
no rosto mantém o desgosto e
no olhar o vazio
assaltam-me as saudades destes momentos
dias cinzentos, com a chuva a bater no telhado
e eu com um ar descuidado, libelinha sempre
a crescer, na esperança de voar
tudo em meu redor se aquieta
apenas dos galhos secos o crepitar
lá fora os crisântemos vão morrendo
enquanto eu vou dizendo, o padre nosso a
avé maria, e minha avó agora o terço dedilha
acabada a reza, um ténue suspiro de alento
escutamos a noite e uma solidão sem par
no céu nem uma estrela, o povo recolhido
e eu desenho no bafo do vidro
sonhos de encantar
estou bem acordada ainda
e minha avó sempre com esta tristeza que não finda
degrada-se a lembrança do tempo que foi feliz
e como pomba sem ninho, a felicidade
ficou pelo caminho.
na parede quase nua, apenas um retrato
do homem jamais esquecido
em seu coração de sombra já vestido
à luz da candeia ali ficámos depois da ceia
mais um serão se passou e eu durmo na minha lembrança
adentro-me em mim mesma, vou onde posso sentir-me
escondo-me atrás das horas, deito a cabeça no regaço da avó
e nunca me sinto só...................no sonho deixo-me afundar
e apalpo palavras para a saudade embalar...
natalia nuno
rosafogo
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
chega a hora...
a noite envolve a terra cobre-a em breve com manto de escuridão, já a harmonia da tarde se quebra, dormem os vivos, e minha alma erra, canta o rio com voz clara e sonora, enquanto no peito bate lento o coração, chega a hora, recolhem-se os pássaros nenhum ficou de fora, o ar é morno e à escrita retorno... o vento fala-me da saudade e aqui me deixo diante da vidraça enquanto ela me abraça, a noite chega silenciosa, só o vento em desalinho senhor da liberdade faz subir o perfume da última rosa, é então que finjo que existo e no sonho persisto, sacudo o sono dos dedos, invento-me pássaro, poiso nos teus olhos, cruzo-me com teus sonhos, mas não me atrevo a pousar os pés por não saber mais quem és!
natalia nuno
domingo, 14 de outubro de 2018
a noite morreu...
hoje não lembro onde deixei as mãos, queria tanto baloiçar nelas os sonhos, lapidar ilusões, deixar sentimentos ao rubro, acreditar que o sol ainda é sol, que no meu peito ainda há fogueira, soltar gritos, disfarçar as rugas desta casa velha... a minha cabeça é um baú de memórias, que as minhas mãos vão bordando no silêncio, no frio da insónia... mas, hoje minhas mãos não têm poesia, ficaram paradas no silêncio, a noite morreu e eu não as reconheço, talvez queiram que enlouqueça em paz, com a saudade a viver dentro de mim e a boca cheia de silêncios...
natalia nuno
uma pequenina e muito singela prosa, feita aqui e agora, neste domingo soalheiro, e que ofereço a todos a todos os meus amigos que gostam de ler.
uma pequenina e muito singela prosa, feita aqui e agora, neste domingo soalheiro, e que ofereço a todos a todos os meus amigos que gostam de ler.
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
um sonho após outro...
habita em mim a angústia dos dias
e a frialdade das noites
as lembranças são brasas frias
que arrefecem nas horas desertas
dum tempo cinzento,
o relógio parou os ponteiros
ouvindo meu lamento.
é agora outro o meu silêncio
e eu como se outra fosse,
aguardo na solidão, um outro tempo,
uma quietude mais doce que seja
recompensa duma vida cheia de nuvens e aragem
que venham novos sonhos, e promessas maduras
falando ciciosamente ao meu ouvido, acariciando o peito,
e o tempo me deixe ilesa nesta minha passagem
empurro o cansaço dos passos e sigo
trago em mim um cheiro a saudade
poiso borboleta num sonho antigo
um sonho após outro, traz-me felicidade
natalia nuno
rosafogo
sábado, 29 de setembro de 2018
já não há malmequeres...
já não há malmequeres no meu outono
nem nos meus sonhos há qualquer segredo
já me arrancaram até o sono
já o vazio me apanha e me faz medo
faz tanto tempo que dormia numa cama
de folhedo...
abandono-me na tarde e regresso ao aroma
que a saudade me traz dessa primavera,
de sangue novo, saudosa, de quando era
menina do povo...
já o vento do poente não me enche o peito
de ar
extraviou-se a memória, quebrou-se o olhar
ainda assim escrevo, escrevo exaustivamente
tenho tanto amor no peito que de mim não estou
ausente...
fiz barquinhos de papel, pu-los a navegar
como se a vida de par em par se abrisse
e os peixes de prata vinham as m' mãos beijar
hoje, pra não sentir a solidão, apanho tílias e giestas
e os sonhos voltam a fazer-me festas...
acordo p'la manhã, e sinto-me botão por abrir
apesar de viver não seja perfeição
a natureza está sorridente, tenho de sorrir,
é agora tempo que afaga, dá-me a tua mão
que a desesperança não se abata sobre nós
esqueçamos a longínqua margem do verão
e amemo-nos, neste outono sereno que nos leva à foz.
natalia nuno
rosafogo
terça-feira, 18 de setembro de 2018
neste dormir, acordada...
a saudade é tão dolorosa,
no olhar lágrimas de sal
e essa inquietude custosa
e esse amor no peito fatal.
morrem olhos de paixão
do céu caem mil águas
mil anos levo de solidão
a curar minhas mágoas.
haverá sempre um dia
que se quebrará o gelo
como de amor feliz seria
só sonho e não pesadelo
aos m' gritos, e meus ais
digam que morri um dia
gastei sentimentos demais
mas, amor igual eu daria
saudade e dor adormecidas
por não querer-me ninguém
rugas no rosto esquecidas
só o amor o peito o retém...
há quanto tempo aqui estou
vai pouco mais do que nada
- meu corpo é teu, eu me dou
neste dormir ... acordada
natália nuno
08/08/2008
sábado, 15 de setembro de 2018
pequena prosa...
que difíceis se fazem as palavras quando queremos falar daqueles dias em que o sol girava nas nossas mãos, e a vida tinha um som distinto e tomava seu rumo dando-nos felicidade, deixou-nos um sabor nostálgico, horas talvez mais solitárias, mas ainda assim o sorriso sempre aflora e a saudade que abraçamos nos traz bem estar. Assim com esta simples prosa, venho desejar um bom fim de semana... sereno e feliz a todos os amigos que visitam este meu lugar... abraço-vos
natalia nuno
rosafogo
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
das minhas penas...
hoje trago nos olhos o verde
da campina, dançam os ramos
embalados p'lo vento,
os pássaros são linhas escritas no pensamento
voando aflitas, inventando palavras choradas
num desejo abafado de ter-te a meu lado,
palavras com a leveza das penas
das minhas penas...
os pássaros agarram.se aos meus olhos
com tristeza, outros partem à debandada
pelos escolhos da vida... causam-me tempestade
agora que a vida é já saudade
adormeço com as lembranças no peito
e o coração embebido de ternura
tudo parece ser perfeito
amanhã recomeça o desencanto
da realidade, mas a procura de ser feliz
continua está viva, bem viva
ao meu olhar os pássaros vão voltar
o verde será mais verde
como o desejo infinito de te amar
é minha sede.
tremem os ramos e as folhas
meu amor quando me olhas
agora que finda a viagem
meus sentidos ainda por ti reagem!
natalia nuno
rosafogo
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
sinais de luz...
o dia está prestes a raiar
sinais de luz entram pelas janelas
voltam as recordações antigas
e eu sonho com elas
lá está a cortina branca transparente
e a cama de latão cor de azeitona
mas onde está minha gente, que
agora me abandona?
meu olhar contorna o guarda fato
e o espelho, a mesinha de cabeceira
tudo na mesma, a fita rosa com que ato
o cabelo, a boneca de trapo comprada na feira
gosto de levantar os puxadores um a um
aceito a ilusão de lhes ouvir o barulho, caindo
tenho medo de sufocar, não sei bem
o que estou sentindo,
casa pequena à minha medida
chão de soalho, conheço-lhe os nós
sinto-me perdida...onde estão meus avós?
ouço as gavetas a abrir e a fechar
ouço até o barulho dos talheres
como posso a saudade calar?!
meu pai dizia: casa de mulheres
esposa e duas filhas, e a avó sempre a espiar
a avó fonte de sabedoria, generosa inclinação
para ensinar, as tarefas de aprender e fazer.
acordava a sorrir, o pai levantava-me nos braços
dessa manifestação de carinho,
como é boa esta ilusão de ainda lhe sentir os abraços
uma surpresa, tem que surpreender
hoje esqueço a morte e trago tudo de volta
com inabalável convicção, e o coração
se solta, abro a janela da mente de par em par
e deixo o sol de vez entrar, deixo a saudade no parapeito
e deixo-me na expectativa, quem sabe não arranjo jeito
de voltar a sonhar com estas viagens que não são novidade,
onde eu mato sempre a saudade.
as lembranças vivem, martelando-me o pensamento
e eu sinto-as vivas a cada momento,
liberto-me das exigências da vida e, vou fazendo a despedida.
natália nuno
rosafogo
quarta-feira, 29 de agosto de 2018
rio da memória...
é no rio da memória que me sento
na margem, lembrando o tempo em que sonhava,
não escondendo a emoção, dava-te a mão
era um tempo diferente este que lembrar eu tento
em que um bando de aves nos pousava no peito
e eu te amava, tão menina, ainda sem jeito
como a vida é breve,
lembro a cada momento.
ainda hoje espero pela visita dos pássaros
e do vento, a trazer-me de novo
num golpe de magia, o encanto e a alegria
desse tempo que corre no rio da memória
onde me sento.
navego, estou de abalada
o tempo é escasso
levo a saudade e a carência do teu abraço
já cansam meus olhos de ver a imagem,
menina deste meu sonho sem idade
sonho que é já miragem
no verde dos meus olhos é saudade
num bater de asas me liberto
deste sonho e do resto do caminho tão incerto
mas se tempo me sobrar hei-de voltar
aqui à margem do rio da memória onde me sento
sonhando,
aliviando meu pensamento.
natalia nuno
rosafogo
domingo, 26 de agosto de 2018
amor...
amor é sentimento forte
nasce da fonte do sentir
do mais profundo do coração
há quem nele creia
quem se enrede eternamente na teia,
é a alma que se incendeia e refresca
o ar que se respira, vindo do alto
o amor é a vida no céu
são as mãos que despem, olhos que envolvem
pensamentos que trazem a linguagem pensada
é música e poesia cantada.
mas é também a vida em sobressalto.
é voltar à juventude amiúde
é sonhar ao morrer da tarde
quando o sol acende o ouro alaranjado
confiar no laço que nos atou e que Deus traçou
hoje é esperança o que resta no corpo cansado
sentir o caminho vivo e lembrar o passado
que o amor seja eterno em nosso coração
divino licor, eternidade,
eternos sejam os abraços
e acabados os passos... seja ele também
SAUDADE.
natalia nuno
rosafogo
sábado, 25 de agosto de 2018
JÁ TE FALEI DE SER FELIZ'
Á TE FALEI DE SER FELIZ?
À minha amiga e poetisa Natália Nuno.
Já te falei hoje das flores e do riacho?
Do chapinhar saltitante das rãs e do seu coaxar sincero?
Do zumbido franco das abelhas e das libélulas,
rondando de cá para lá como se à face da terra
não restasse tempo para a monotonia?
Do latido indistinto do guarda-mor a olhar os passantes
e a abanar o rabo quando um da família chegava?
Do chapinhar saltitante das rãs e do seu coaxar sincero?
Do zumbido franco das abelhas e das libélulas,
rondando de cá para lá como se à face da terra
não restasse tempo para a monotonia?
Do latido indistinto do guarda-mor a olhar os passantes
e a abanar o rabo quando um da família chegava?
Já te falei do calor dos dias sob a sombra queimante
dos figueirais, quando Agosto pingava o mel
dos frutos e a agonia da canícula?
Do fuga rastejante das cobras e da azáfama penitente
das formigas, carregando o futuro nas mandíbulas,
enquanto no canavial um melro compõe uma melodia encantatória
absorto no desaviso das horas?
dos figueirais, quando Agosto pingava o mel
dos frutos e a agonia da canícula?
Do fuga rastejante das cobras e da azáfama penitente
das formigas, carregando o futuro nas mandíbulas,
enquanto no canavial um melro compõe uma melodia encantatória
absorto no desaviso das horas?
Já te falei de ser feliz? De ser muito feliz?
De ser eternamente feliz e grato?
De ser puto com asas invisíveis e sonhos inflamados
de girândolas de foguetes e tantãs de tambores guturais?
De ser pássaro como os pássaros e avião como os aviões,
para galgar muito além das nuvens e conhecer os lugares
inóspitos e os jardins plantados à beira dos rios serenos?
De ser eternamente feliz e grato?
De ser puto com asas invisíveis e sonhos inflamados
de girândolas de foguetes e tantãs de tambores guturais?
De ser pássaro como os pássaros e avião como os aviões,
para galgar muito além das nuvens e conhecer os lugares
inóspitos e os jardins plantados à beira dos rios serenos?
Se já te falei de tudo isto, deixa que te diga, finalmente,
que ainda há constelações por descobrir
e mundos para além do mundo ao meu redor
que não conheço e que anseio encontrar ao virar da esquina.
Talvez nos teus olhos de ver mais além ou no teu coração
de surfar as ondas do oceano e a escuridão das noites de insónia.
Vamos plantar canteiros de estrelas no cimo da serra?
que ainda há constelações por descobrir
e mundos para além do mundo ao meu redor
que não conheço e que anseio encontrar ao virar da esquina.
Talvez nos teus olhos de ver mais além ou no teu coração
de surfar as ondas do oceano e a escuridão das noites de insónia.
Vamos plantar canteiros de estrelas no cimo da serra?
Regalas-e-mos com as nossas lágrimas de alegria.
E amanhã veremos mais longe o arrebol da aurora!
Está na hora... É agora!
E amanhã veremos mais longe o arrebol da aurora!
Está na hora... É agora!
Em 25.Ago.2014
PC
PC
obrigada Paulo César
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
olho-te...falas-me...não é isto felicidade?
pousam meus olhos nos teus
como se perguntassem o que sentes
o tempo, esse não nos sobrou
saudade em nós deixou,
sonhos dormentes
e a vida se apoucou,
repetem-se os dias da viagem
e a solidão é como um rio que nos atrai
irrompe no espelho a nossa imagem
fingimos não ver, nem querer saber
o certo é que a vida descai
que importa reclamar,
sobreviveu alguma coisa de nós?
as palavras caem-me. da boca
abrigo-me nos teus braços
não me digas nada
a saudade leva-me sempre pela mão
triste sombra a minha pelo chão.
hoje nem o rubro vivo da tarde
nem a música do vento na ramagem
só a nossa imagem perpassa nas águas
que levam com elas minhas mágoas
olho-te...falas-me...não é isto felicidade?
o tempo sempre amanhece
o teu sentimento é o meu
a felicidade brota em dobro
e eu à vida já nada mais cobro
revejo poemas incompletos
beijos guardados num verso
é o passado insistente, fulgente
a que me não nego,
atiço as chamas, saltamos labaredas
e dizes-me ao ouvido que me amas
olho-te...falas-me...não é isto felicidade?
somos esse rio onde nos miramos
o silêncio onde nos amparamos
não podes voar sem mim
e eu sou asa sem pássaro
se vôo sem ti.
natalia nuno
rosafogo
terça-feira, 21 de agosto de 2018
frase3...
levo sempre o mesmo jeito de caminhar, o meu rastro é um rastro imperceptível de formiga, só meu espírito busca as palavras e eu me espanto de as escrever...
natália nuno
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
viver será assim tão absurdo?...
os dias morrem as noites também
e eu aqui a pensar na vida
é preciso caminhar e não deixar
de sonhar...
o vento uiva suavemente,
conheço-lhe a voz sonora, ora terna,
ora irritada e exigente
e logo o dia se vai embora,
morre a vontade no meu coração
chega a noite com sua altivez de rainha
aumenta esta solidão tão minha
a vida que era um pássaro livre,
é agora amarga como o choro dum violino triste,
e eu, velha árvore batida pela tempestade
que anda sem tino,
caminho p'las ruas da saudade.
os dias morrem e as noites também
caminho com um passo arrastado
como o lento navegar das nuvens p'lo céu
a morte espreita. e o corpo vai cedecendo
quebrado... sem que entenda nada
fustiga-me o tempo e eu fico num pranto surdo
e nas janelas da insónia eu vejo como viver
é um absurdo....
e o que não entendo, é estar tão perto de mim
e tão de mim perdida,
no frio silêncio da tarde, deixo-me a pensar na vida,
com o bulir gritante da memória que não dá descanso
arrasta-me como um vendaval que não cede,
é na saudade que mato a sede, essa saudade
que me molha o peito
tatua em mim a ternura
de voltar a sentir a inocência,
e me enlaça com braços de frescura.
faz-me sentir andorinha da madrugada
ou primeira flor da primavera,
solitária e fugaz pincelada
de sol acariciante...
e aqui fico numa alegria transbordante
a relembrar a juventude, enquanto
os dias morrem e as noites também.
natalia nuno
rosafogo
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
hoje é assim que me sinto!
hoje apetecia-me ler cartas de amor que nunca me escreveram, e que ao ler me rasgassem o peito de saudade, e, me cobrissem os olhos de água, me lembrassem que já foram meus olhos verdes motivo de paixão...já me esqueço uma vez ou outra, e só a lembrança do teu sorriso me desperta os sentidos. mas hoje nem o vento vem falar-me do poema onde fui notícia, nem das primaveras de esperança, nem das rimas nostálgicas que me sussurravas aos ouvidos em noites d'amor...hoje queria que o sol procurasse meu endereço, ouvisse meus sentimentos e me desse um abraço quente, fizesse parte da minha solidão e me trouxesse de novo horas felizes já de mim distantes... fujo da realidade e embora pareça leviandade, para mim é um impulso de bom senso, deixo-me num mundo mágico onde eu e a poesia desfrutamos do aroma das giestas e do alecrim e assim, não me sinto derrotada, a vida é dura agora que está madura, mas a poeta essa é um ser inconstante ora feliz ora não, entra em contradição constantemente, seus dias são preciosos ou moribundos, seu sonho é um prado verde ou um céu cinzento, para sua ventura há velhas nuvens arredias do pensamento e hoje tudo vibra no coração lugar comum do amor, onde nasce sempre uma flor no seu chão....
hoje é assim que me sinto!
natalia nuno
rosafogo
pensamento...
o sonho são tuas mãos em sussurros p'lo meu corpo despido
natalia nuno
https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
secam os goivos no jardim da horta...
sem fala com garganta a apertar
sigo em frente, ergo-me da solidão
e deixo-me desaparecida, vou então
tão longe quanto a minha memória
pode recuar...
provida de esperanças
albergo o sonho no coração
e a menina abismada
que caminha incerta, dá-me a mão.
numa solidão só sua,
encoberta pelas romãnzeiras
e seguida pela lua neste momento
que invento...de novo
volta a ser, a menina do povo.
deixa-se impregnar desse mundo
onde nada mais sabia, além
do que dizia o pai e a mãe
embalada pelo som do rio
olhando-se na corrente
- lá fica entre sempre e agora
numa ída e volta, lá onde o sonho mora
secam os goivos no jardim da horta
ai de mim, que o sonho é já tão baço
minha gente está morta...
chora o salgueiro quando por ele passo
no celeiro já não há nozes,
nem grãos de trigo ou cevada
estremeço ao ouvir-lhes as vozes
na noite pela calada, partiram,
- tudo agora é nada.
estas memórias guardadas
que às vezes penso esquecidas
são lágrimas dos olhos molhadas
são sorrisos e tristezas de chegadas e
partidas... de partidas e chegadas.
na terra onde nasci meu sonho já entardece
e meu coração estremece
o que tive, a memória não esquece,
mas já se esfuma...
que siga eu sempre em frente,
que terra pra mim só há uma,
aquela com que ainda sonho
natalia nuno
imagem da internet
pintarest
domingo, 12 de agosto de 2018
é poesia o que escrevo...
é poesia o que escrevo
escrevo um verso
um pássaro me cai aos pés
tenho de lhe dar um céu, onde possa voar
uma árvore para pousar
o silêncio do céu, o ruído da terra
um barco na linha do horizonte
ah...invento uma ponte
num lugar qualquer
e o poema começa a nascer
é poesia o que escrevo
é nela que vivo, ao longe e ao perto
na segurança do seio materno
felicidade, saudade, viver eterno
pôr do sol, fim do dia
tristeza. alegria
é poesia o que escrevo
tantas rajadas do céu
e eu a pensar
onde é que o pássaro se meteu?!
tanta inquietação no vôo
que presa ao verso me deixou
é poesia o que escrevo
devo ou não devo...sonhar?
arranjar de novo outro céu
. para o pássaro voar?
e já que metade de mim é saudade
e a outra metade é sonho
- é nele que vôo até ao fim!
e o pássaro cantando encontrará o ramo
o canto ecoará como uma oração
sempre que por ele chamo
ele volta, é minha inspiração
é esta a felicidade de ser
enquanto a vida não me esquecer
vou em busca duma luz que esconde
o pássaro, que tenta fugir sem q'eu saiba
pra onde.
natália nuno
rosafogo
20009/01
imagem retirada da internet
quarta-feira, 8 de agosto de 2018
entrega...
quando a noite fôr já agonia
e despertar a madrugada
dentro das paredes do nosso quarto
quero ser amada.
a lua gagueja à nossa janela
dou conta da brisa na minha pele
e na noite que nos resta
matamos a sede com beijos
de sabor a mel.
o amor é a forma perfeita da liberdade
um beijo a felicidade
e se a vida é correnteza, seguirei confiante
entregando-me a ti, como mulher e amante
às vezes cerramos os olhos
ao sombrio presente
e vivemos o sonho que continua a arder
as recordações estão na alma da gente
e os sonhos não queremos deixar morrer
estremecem nos meus olhos cotovias
quando juntos viajam nossos corpos
meu desejo orvalhado de fantasias
lírios de prazer, margaridas em festa
tão único é este amor nosso
e o sol já espreitando na janela do quarto
acariciando-nos por uma fresta...
é sonho?! mas, sonhar eu posso.
deixemos jorrar o sol cantante
que eu quero ser tua mulher amante....
neste instante!
natália nuno
rosafogo
março 2002
pedaços de dor...
o sol é já uma linha esguia
a esgueirar-se no horizonte
o barco partiu do cais,
já vai além,
levando a saudade e os ais
ilusões e sonhos d'alguém,
deixou pedaços de dor
o silêncio do beijo da despedida
e no coração o amor, sem vida.
morde os lábios pra não chorar
quem sabe não se irão esquecer?!
e assim se deixa a suspirar...
suspiro entalado na garganta
o barco sumiu com o sol
já de pouco adianta...
as estrelas iluminam o tecto da noite
afogam-se na solidão,
caída a esperança
resta a memória de tempos felizes
caminho aberto à saudade
ficaram os olhos rios com o furor de tempestade
o amargo da saudade na boca,
a dor a rasgar a esperança pouca
uma lágrima a dizer não
vai acenando o adeus... a sombra já esmaecida
ficou a vida um mar encapelado
e tão longe vai o seu amado.
natalia nuno
rosafogo
1992
domingo, 5 de agosto de 2018
choro brando...
tua boca divina
onde o sol nascia
e eu tão menina
por ela me perdia
contigo noivei
e contigo fiquei
agora somos passado
dum passado encantado
saudade, alma quebrada
saudade que ninguém crê
deixo-me até de madrugada
sonhando cartas de amor
que ninguém já lê...
escrevi canteiros de poesia
para os que vierem depois
meia noite, meio dia
rouxinóis ao luar
estrelas, mil sóis.
agora aqui estou só
em farrapos os sentidos
na garganta um nó
pelos teus beijos perdidos
só minha alma resiste
e ainda enche com um pouco de sol
meu rosto de sorriso
frio e triste..................
natália nuno
velhas trovas, agora transformadas
em poema, estas nem sei a data em
as criei no papel... acho que ainda não
era rosafogo... e nem sonhava haver internet.
sábado, 4 de agosto de 2018
neste mar embalador...
não sei das ondas que hão-de vir
nem sei para onde me levarão
mas se o coração partir
nem mais um ai me ouvirão,
ando neste mar infinito
ondas vêm outras vão.
em vão contra a tempestade
com o coração aflito
a morrer de saudade
ondas vão e outras vêm
trazem saudosas vozes de outrora
presa ao passado me têm
no sonho e na saudade agora
deixo-me ao sabor da corrente
outras vezes em mim me abrigo
e o passado se faz presente
e no sonho estou contigo
neste mar embalador
onde não somos indiferentes
na corrente vamos ao sabor
do amor, que sinto e tu sentes
brilha a chama no meu olhar
na minha boca há desejos
deixa as bocas de inveja falar
e enche a minha de beijos
trago o coração satisfeito
de ouvir somente o que dizes
quase não cabe no peito
por sermos assim felizes
ficam os olhos marejados
será a vida uma ilusão?!
os pensamentos fatigados
onde está a ventura então?
grito por amor em vão
daquele amor que me ofertaste
onde está a ventura então?
se ao sonho te negaste!
natalia nuno
2001/3
eram quadras que hoje transformei num inocente poema
segunda-feira, 30 de julho de 2018
inquietação nocturna...
sou o aconchego do teu coração
sou a trave a que te encostas
eu te dou e me dás a mão
digo gosto...dizes gostas
sou o teu calor de inverno
e o teu luar de Agosto
é o nosso amor eterno
estrela para lá do sol-posto.
reforçamos sentimentos
cada dia mais lembranças
são violinos numa velha caixa
de madeira,
até que Deus queira
razão porque se caminha
a vida é nosso bem maior
apesar das adversidades
segue com nosso amor
um cálice, a transbordar de saudades...
.......................................
os dias avançam e morrem
e o que fica neles de mim?
um avanço, um recuo
e uma melancolia sem fim
quando me tocas, ainda que seja com o olhar
deixo o corpo ao abandono
e de amor o coração deixo de novo inundar
recolho aos sonhos
e é como se me abrisses os braços
eu me perco para te encontrar
atravessas-me o coração que do teu
segue o compasso...o amor queima-me os dedos
e é já de madrugada, empalideço como a lua
esqueço o poema, esqueço que fui tua
sinto-me uma cana arrancada,
semente longe da raiz
ou estrela apagada, tão somente a que tanto te quis.
natalia nuno
rosafogo
esgota-se o tempo...
Uma insónia me persegue...
através das cortinas da mente,
acordo do meu sonho ardente
e numa erma ternura
relembro o sonho
da idade da candura
mergulho o rosto na
noite crua
e o amor que damos um ao outro
triunfa feliz
tu és meu e eu sou tua.
Sorvo o teu odor
e o desejo floresce
esgota-se o tempo
afasta-se o pensamento
e só o prazer cresce
calaram-se os gemidos
há os beijos com sabor a mel
estamos mudos, enfeitiçados
da vida esquecidos,
os arrepios vagueiam em nossa pele.
Ficou o sonho suspenso no vazio
só sinto a escuridão da noite
o frio , lentas as horas
mais uma ruga incipiente
e eu sem sono
que foi feito do sonho da gente?
O amor chegou com inteireza
este amor que me prende e dá certeza
chego-me a ti, o consolo da tua mão
é o regozijo do meu coração.
natalia nuno
rosafogo
2001
sábado, 21 de julho de 2018
a sombra...
hoje anda como quem morre
sem encontrar direcção
é a sombra duma lembrança
no retrato uma recordação
secou o sol o seu rosto
onde cabia por inteiro
secos ficaram os olhos
não há mar, mas um ribeiro
já não são os seios duros
nem as mãos colhem frutos
passa por ela a sombra rente
seus sonhos são agora prematuros
morre tão completamente
no rosto olhos sem brilho, enxutos
sufoca o grito na garganta
a vida a meio parou
a sombra já se agiganta
sua pele o outono manchou
traz o corpo na prisão
e a alma em liberdade
perdida no seu cansaço
só o sonho e a saudade
tomam conta da sua mão
sentimentos e emoções
ao longo de anos acumulou
indagações ao divino sem resposta ficou
a quem entrega o destino?
em crepúsculo a vida, num
inverno se tornou.
natália nuno
rosafogo
terça-feira, 17 de julho de 2018
que o poema não me ignore...
quando o corpo tropeça
a alma guarda as memórias
e é como se um enxame de saudades
viesse p'la mão do vento a trazer-me alento,
e tudo recomeça
vem aquela lembrança que não esquece
que traz com ela a luz e me afasta da sombra
surgem pétalas de luz na escuridão
disfarço o vazio que há em mim
e ninguém sabe o que me vai no coração
a minha alma desorientada
é como o canto nocturno duma cotovia
cinzenta num inverno de nostalgia
quando o corpo tropeça
é tanto o tédio,
que as palavras desbotadas saem de mim
vindas dum labirinto da mente
sem fim.
entre pétalas de solidão,caminho p'lo tempo,
que o tempo apagou
mas a luz me dá a mão
no declínio a vida desatou
em mim a saudade
e até o brilho dos olhos me tirou de verdade
mas quando o sol declina nas horas tardias
no sonho me encontro ainda menina.
natalia nuno
rosafogo
o vazio em mim...
sem uma só lágrima
não encontro o pranto
agora choro por dentro
enquanto a vida
como vôo a precipitar-se
se escoa e revoa até cansar-se,
e a mim só resta esperar
enquanto a morte urde a trama
e numa manhã qualquer
me diz: anda mulher!
- por mim chama!
a abundância das estações terminou
não há mais o espanto no olhar
não há mais o coração a palpitar
como outrora,
abruptamente chegou a hora.
liberto lembranças enredadas na teia
da nostalgia
deixo as palavras foragidas, em liberdade
os pássaros virão chorar por mim todo o dia,
e eu partirei com saudade.
natalia nuno
10/12/2003
subida nostálgica...
já as sombras das árvores se deitam
e a tarde empalidece
e, a enlaçar-e apenas a saudade
pois no presente nada mais acontece
sobre as tílias um ar quente,
inconscientemente, ponho-me a fantasiar
noutro tempo que era tamanho
e passava tão devagar...
hoje traz asas na corrida
e depressa me leva a vida.
que escada enorme foi esta vida
tanto degrau, tanto degrau na subida
agora, vai a uma ponta
oiço meus ais, por entre vendavais
escadaria imensa que agora me amedronta,
trago o sol doendo nos olhos
e lágrimas caem ao chão
subida nostálgica, que me afronta o coração
a vida dobrou-me, dobrou-me,
e eu julgando morrer, cansada de subir
enquanto me afasta, me rouba as certezas
do que está por vir...
é agora outono, não me apresso
subo devagar e não esqueço
que subo para atrás já não voltar
a felicidade não deu ponto sem nó
ficou longe e eu aqui tão só...
sou passado, vento que dobrou a esquina
sou o sol que já declina
para trás ficou a alegre menina em flor
a tenra idade e o fulgor da mocidade,
no velho albúm, conservo o seu sorriso
mato a a saudade, ouvir-lhe a voz
para me sentir viva...preciso!
natalia nuno
rosafogo
segunda-feira, 16 de julho de 2018
os sonhos na mão...
preciso falar das noites
quando as recordações latejam
na mente e passam por mim como pardais
esvoaçantes, apressadamente.
suspensa, deixo-me em pensamentos irreais
num estremecer de vida
e é como se fosse um tempo novo
a memória vibra como uma campainha
no silêncio caminha e se distende
enquanto o peito fala e as mãos escrevem
o que ninguém entende
só os pássaros que em mim bebem
vão fazendo a viagem de penas soltas
recrio e dou voltas e volto a ser criança
criança que embala o sonho
que não dá descanso às palavras
que guarda na lembrança com amor
o adro a praça, o rio e as águas verdes
que deram ao seu olhar a cor.
falo das noites, quando as lembranças
são mais vivas, e as saudades surgem
intempestivas, ou afagando meu pensamento
e nele vão deslizando...
a noite me envolve, o sono não chega
e é minha mãe que o cobertor me aconchega
os sonhos eu teço num breve tecer
quem sabe amanhã possa já não ser
dobro e desdobro nos olhos primaveras
lembranças se enredem em mim
como folhas de heras
daqui a pouco nascerá o dia, celebrarei
a chegada, colho mais uma saudade
e ponho-me a cismar lá mais para a tarde
e é como se fosse um tempo novo...
natalia nuno
rosafogo
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