sábado, 11 de dezembro de 2010

IRONIA














IRONIA

Hoje perdi-me na fonte
Longe, muito para lá de além
Deixei-me a olhar o horizonte
A ver o sol morrer e eu também.
Na memória a vida inteira
E a cântara ainda vazia
A fonte ali à beira
E eu com sede, que ironia.

De barro a cântara é feita
E quebra com facilidade
Quebrado  meu coração se deita
Sofrendo de doida saudade.

Enquanto esta dor depura
Me deixo a olhar o céu
A memória já não tem cura
Uma teia de luz lhe valeu.
Vejo a fonte a secar
A noite é breve, o dia finda
Vem a morte celebrar
E a cântara vazia ainda.

Lembra-me a terra onde nasci
O chão pisado na infãncia
O caminho que percorri?!
Era de barro, quebrou
Não sobra um palmo,
só a distância...
E, a saudade que restou.


rosafogo
natalia nuno

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

EM CÉUS DE POBREZA
















EM CÉUS DE POBREZA

Ouço no silêncio da noite, um ruído seco
O vento roubou-me a voz.
Levou-a a alguma viela, algum beco
Da minha terra, da terra dos meus avós.
Por lá ficaram os pássaros de vigia
E eu menina de pés imersos
Esquecida da fadiga
Olhos sem medo, vazia a barriga
Colhendo o sol do dia,
Fazendo versos.

Fiozinhos da nascente
Orvalhados de limpidez
Por lá me fiz gente
Madura de suor e altivez.

Este ruído seco, não me sai da cabeça
Provoca-me e eu parto sem freio,
Antes que a memória amadureça
E me visite a escuridão
Eu volto sim, minha terra ao teu seio
Colher papoilas e pão.

Hoje é dia de vendaval
O vento roubou-me a voz
Sou resto de temporal
Menina , trança, tristeza
Desato da vida os nós
Já fui pássaro de leveza
Na terra dos meus avós.

Fico à escuta de tudo e de nada
Nesta minha ingenuidade
Trago a infância atravessada
Na chama desta saudade.

rosafogo
natalia nuno

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SÓMENTE SONHO














SÓMENTE SONHO

Imagens do passado já imprecisas
Como a luz que empalidece minha parede
Tempo meu, minha vida também ela indecisa
Resplandecente, real a luz da lua
Lambendo a nostalgia,  minha e sua
Água dos sonhos da minha sede.

Estilhaça o coração o tempo finda?!
É um galopar de saudade
Virá outro dia e a vinda
Será uma pesada continuidade.
Virá um vento sem razão
Que me trará de novo a saudade.
O cheiro da terra,  a verdade.

É nesta hora que fico menina, traquina
Esquecida da VIDA, como criança sonho!
Canso o sol, de o olhar a repousar na colina
Parte, e me parte o coração deixa o olhar tristonho.

Desarmada pelo tempo, já perco meu pé
Mas reforço a minha fé.

No ventre trago a força e o querer,
que é o leme e as asas, com que rumo
E mesmo que não haja nada a acontecer
Remo e vôo à  infância, da realidade sumo.

A vida já não me traz rumores
Nela  não acontece nada!
Tantos sonhos e velhos amores
E eu menina já tão desasada.

rosafogo
natalia

Sonhar é fácil.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DESCONFORTO













DESCONFORTO


Bastaria um gesto um só!

Ah...mas isto são detalhes apenas
Sou eu a julgar-te!?
Às vezes de mim tenho dó,
E a minhas penas?
Frestas que no meu coração deixáste.

Acontecimentos estão esquecidos
Como quem crê e ama!?
Trago ainda meus versos nos ouvidos
Centelhas da minha chama.
Hoje sinto-me um espantalho
Mas os espantalhos não choram
Valho o que valho!?
Sou brecha nos sonhos que demoram.

Desatou-se este nó
E meu coração gemeu-te, e foi tudo.
Bastaria um gesto só!
Uma palavra mentida, um olhar mudo,
Um desperdício que caíria no esquecimento
Mas não, fiquei estrela sem dono
Ao mesmo tempo num doce amargo pensamento
Espalhando minhas sementes ao abandono
Como um baloiçar magoado, do sol ao vento.

Fico silenciosa de sinais
Com a esperança p'lo chão
Que me importam os demais?
É para ti minha mensagem de desilusão.



rosafogo
natalia nuno

domingo, 5 de dezembro de 2010

DESVARIOS


DESVARIOS

Faz tempo, que do tempo, tempo fiz!
Acaba-se o viver e o tempo basta!
Passou o tempo, que foi tempo de ser feliz?!
É agora o tempo, que desse tempo me afasta.

Trago minha alma perdida num deserto
Coração a bater no peito de ansiedade
E ao invés de alegria, a tristeza trago por perto
Nos meus olhos poços de luz , habita a saudade.

Neste tempo, já nem palavras tenho para dar
O tempo me desarma é senhor omnipotente
Cai sobre mim tão bruscamente!
Só a esperança me vem ainda agasalhar.

É o tempo que passa com firmeza, indiferente
O tempo que se infiltra contra minha vontade
Tempo que goteja sombras sobre mim
Cai sobre mim tão bruscamente!
Eu lhe peço e me despeço é já o fim
Tempo do adeus e da saudade.

rosafogo
natalia nuno

DESALENTO



DESALENTO

Olho meu rosto ao espelho
Mas não me deixo cair em vão
Talvez o espelho esteja velho
Ou sofra de solidão.

Sento-me no chão
Apanho os pedaços
da mágoa
Caídos do coração.
Deixo-me aprisionar nos passos
Do tempo que me quer levar
Atirando-me ao rosto areia
Enredando-me em sua teia
Sem me deixar escapar.

Nada mais me interessa
Fiquem-se meus olhos a olhar
E que a memória não impeça
De ir à fonte me banhar.
Fonte, ponto de partida
Onde ainda vou colher
A Juventude por mim não esquecida
Mas que o espelho quer esquecer.

Caminho ao lado da vida
Apresso-me porque o tudo é nada!
Levei desatenta a vida,
a levo perdida.
Sou sombra, neste espelho mal amada.



natalia nuno
rosafogo