quinta-feira, 16 de agosto de 2018

hoje é assim que me sinto!



hoje apetecia-me ler cartas de amor que nunca me escreveram, e que ao ler me rasgassem o peito de saudade, e, me cobrissem os olhos de água, me lembrassem que já foram meus olhos verdes motivo de paixão...já me esqueço uma vez ou outra, e só a lembrança do teu sorriso me desperta os sentidos. mas hoje nem o vento vem falar-me do poema onde fui notícia, nem das primaveras de esperança, nem das rimas nostálgicas que me sussurravas aos ouvidos em noites d'amor...hoje queria que o sol procurasse meu endereço, ouvisse meus sentimentos e me desse um abraço quente, fizesse parte da minha solidão e me trouxesse de novo horas felizes já de mim distantes... fujo da realidade e embora pareça leviandade, para mim é um impulso de bom senso, deixo-me num mundo mágico onde eu e a poesia desfrutamos do aroma das giestas e do alecrim e assim, não me sinto derrotada, a vida é dura agora que está madura, mas a poeta essa é um ser inconstante ora feliz ora não, entra em contradição constantemente, seus dias são preciosos ou moribundos, seu sonho é um prado verde ou um céu cinzento, para sua ventura há velhas nuvens arredias do pensamento e hoje tudo vibra no coração lugar comum do amor, onde nasce sempre uma flor no seu chão....
hoje é assim que me sinto!

natalia nuno
rosafogo

pensamento...



o sonho são tuas mãos em sussurros p'lo meu corpo despido

natalia nuno


https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

secam os goivos no jardim da horta...



sem fala com garganta a apertar
sigo em frente, ergo-me da solidão
e deixo-me desaparecida, vou então
tão longe quanto a minha memória
pode recuar...
provida de esperanças
albergo o sonho no coração
e a menina abismada
que caminha incerta, dá-me a mão.
numa solidão só sua,
encoberta pelas romãnzeiras
e seguida pela lua neste momento
que invento...de novo
volta a ser, a menina do povo.

deixa-se impregnar desse mundo
onde nada mais sabia, além
do que dizia o pai e a mãe
embalada pelo som do rio
olhando-se na corrente
- lá fica entre sempre e agora
numa ída e volta, lá onde o sonho mora

secam os goivos no jardim da horta
ai de mim, que o sonho é já tão baço
minha gente está morta...
chora o salgueiro quando por ele passo
no celeiro já não há nozes,
nem grãos de trigo ou cevada
estremeço ao ouvir-lhes as vozes
na noite pela calada, partiram,
- tudo agora é nada.

estas memórias guardadas
que às vezes penso esquecidas
são lágrimas dos olhos molhadas
são sorrisos e tristezas de chegadas e
partidas... de partidas e chegadas.
na terra onde nasci meu sonho já entardece
e meu coração estremece
o que tive, a memória não esquece,
mas já se esfuma...
que siga eu sempre em frente,
que terra pra mim só há uma,
aquela com que ainda sonho

natalia nuno
imagem da internet
pintarest







domingo, 12 de agosto de 2018

é poesia o que escrevo...



é poesia o que escrevo
escrevo um verso
um pássaro me cai aos pés
tenho de lhe dar um céu, onde possa voar
uma árvore para pousar
o silêncio do céu, o ruído da terra
um barco na linha do horizonte
ah...invento uma ponte
num lugar qualquer
e o poema começa a nascer
é poesia o que escrevo
é nela que vivo, ao longe e ao perto
na segurança do seio materno
felicidade, saudade, viver eterno
pôr do sol, fim do dia
tristeza. alegria
é poesia o que escrevo
tantas rajadas do céu
e eu a pensar
onde é que o pássaro se meteu?!

tanta inquietação no vôo
que presa ao verso me deixou
é poesia o que escrevo
devo ou não devo...sonhar?
arranjar de novo outro céu
. para o pássaro voar?

e já que metade de mim é saudade
e a outra  metade é sonho
- é nele que vôo até ao fim!
e o pássaro cantando encontrará o ramo
o canto ecoará como uma oração
sempre que por ele chamo
ele volta, é minha inspiração

é esta a felicidade de ser
enquanto a vida não me esquecer
vou em busca duma luz que esconde
o pássaro, que tenta fugir sem q'eu saiba
 pra onde.



natália nuno
rosafogo
20009/01
imagem retirada da internet