sexta-feira, 27 de setembro de 2024

um poema inútil...




hoje sou uma folha transviada
num espelho de águas
neste poema onde as palavras
se apagaram
da memória, restam as mágoas.

este é um poema torpe e inútil
para encerrar a vida com alguma
lucidez,
virá a desmemória tudo se apaga de vez
entre o sol e um voo
até ao obscuro.

contarei as rugas novas
continuarei a viver? 
sei que é duro!
e com lucidez interrogo-me
serão minha última derrota?
talvez a amargura se vá fundindo
e eu resistindo.

tenho a certeza de ter vivido
escrevo este poema, meu universo
pode não fazer sentido,
na minha insanidade é verso
mais um verso

confuso meu rosto desolado
lembra quando a vida ardia,
derrubado,
- resiste mais um dia.

natalia nuno


quinta-feira, 26 de setembro de 2024

são rosas que trago na mão...



são rosas que trago na mão
abro-te o meu coração
com transparente lealdade.
meus olhos em nua claridade
se abrindo,
sinto o impulso do sangue
em tão grande ansiedade
sou amor em dádiva plena
ascendendo em felicidade
trago um sorriso derramado
sou outono que não morre,
trago o aroma dos frutos maduros
e a sede dos sonhos em mim corre.

apesar dos dias duros
no  coração há ternura
e há nele pássaro ardente
e um grande amor que perdura

no coração permanentemente
há cascatas de amor pra dar-te
nele um rasto de primavera
de amendoeiras brancas
que me protegem do esquecimento
onde o tempo range sem parar
e de tanto recordar-te
a vida foge...

como um sonho perdido para sempre
ou ventura que passou ao nosso lado
fica o coração como um poema rasgado
 a renascer em mim, até ao fim.


natalia nuno

terça-feira, 24 de setembro de 2024

um dia comovido...


partiu o calor do verão
precipita-se a chuva em ondas
de vento
em delírio as sombras das ramas
agarradas em lamento.

calaram-se as cigarras, cresce
a nostalgia
tocado por um último raio de sol
morre o girassol,
- ao fim do dia!

vibrante e redentor, novo sonho,
distancia-se do tempo
e da dor.
e a felicidade é o último pássaro
procurando resplendor

já é pura a geada
surge uma agitação de cores
reúne sonhos e amores
outros, se perdem pela calada

fica o poema ao abandono
em modesta tristeza, 
sente-se subitamente
a última ave
- perdida no poente.

natalia nuno

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

canto confidente...




minha alma murmura
enquanto meus dedos escrevem,
o que meus sonhos lhe pedem

meus olhos aguentam a secura
galgam distâncias como luas
brilhando, com saudades tuas!

trago lírios brancos, 
nos dedos de solidão
ficam as paredes do coração,
em floração

sonolentas as palavras amontoam
nos meus lábios roxos de rapariga

e os pensamentos doem pois que
doam!
que os pássaros já entoam no jardim
nostálgica cantiga

também eu canto com veemência
para que a poesia nunca silencie
que a sede inteira
 passe por mim, e por ti
enquanto a vida não nos passe
uma rasteira.

natalia nuno
imagem pinterest