quinta-feira, 3 de julho de 2025

silenciosa passagem...



com o tempo tudo se tornou
saudade
e meu coração é grato
por tanta serenidade,
canto à vida com gratidão

na silenciosa passagem,
como a água dum ribeiro
sigo caminho, levo no rosto,
da madrugada a aragem

mudei ideias e sentimentos
choro até já sem voz,
na noite eternamente surda,
fica meu pensamento veloz
na angustia que a vida
lhe impõe.

o tempo e a incerteza
provocam-me fragilidade
quero seguir com firmeza
e, esquecer, a cruel verdade

uma névoa já me confunde
os passos,
a memória em esquecimento
sem ela vem o nada
quase absoluto vazio
recordações aos pedaços


natalia nuno
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na companhia do silêncio...


as palavras cálidas foram
levadas p'lo vento,
num dia nascido sem horizonte
nenhuma ficou,
- lamento!
não há agora saudade que me afronte.

as recordações desperdicei na hora,
ficaram para trás, deixaram
um sabor nostálgico,
já nada me satisfaz.

mesmo que não existam já palavras
o meu céu se ilumina
e isso me basta!
a esperança em mim
veste-se de menina
a tristeza se afasta.

quero que fique de fora
o medo
contemplo serena a vida
e dos momentos absurdos do
meu esquecimento,
- faço segredo!

esqueço o espelho
nu e velho!
que me observa cruel
sorrio-lhe ainda que vencida
aproveito a longevidade
que me ofereceu a vida,
e vou encarando a realidade.


natalia nuno
imagem pinterest










utopia que me move...

o rumor dos pássaros
anuncia o dia,
correm as águas do rio
olho-as, preencho o vazio
enxergo um dia feliz!

será a minha esperança vã
ou será que foi Deus quem 
assim quis?
que este querer meu
esta minha ousadia
de escrever dia após dia,
fosse utopia
que me move?

ouço sussurrar aos ouvidos
a música das águas me revigora
é saudade de volta
sou feliz nesta hora!

mas o sonho é breve, do nada
a realidade bate-me à porta
e eu sem coragem,
nem viva nem morta!

cansei de caminhar
acabou o ritmo da corrida
caminhei ao sol e à chuva,
e, ainda assim,
cabe que nem uma luva 
a saudade em mim!


natalia nuno
imagem pinterest


quarta-feira, 2 de julho de 2025

pensamentos perdidos entre si...



este zumbido que enlouquece
restos da festa que soam na mente
como enxame de abelhas em festim
quando o corpo desfalece
e o coração já não sente
é a aproximação do fim

não deixo que o sonho se extinga
jubilosa, festejo ainda a vida
resignada como rosa desfolhada
mas, com vontade que não finda

há coisas que a gente não esquece
olham-se em silêncio as molduras
enquanto o tempo nos envelhece
fica o coração,
- pássaro de penas escuras

como malmequer
que não resiste ao vento
já o sonho vai caindo 
no esquecimento

-e um apertado medo
arqueja na almofada
chora até de madrugada,
o peito estilhaçado em pedaços
clama p'los teus abraços.

natalianuno


do que já não volta...




entra a noite agressora
despoja-me do sono
e do sonho,
o corpo fria mais frio
em submerso abandono
sombras pavorosas
correm no pensamento
difíceis se fazem as palavras
já não são generosas
nem a meu contento

já o desejo não me pertence
só as recordações dão algum alento
e o coração sente
que já nele houve sol a incendiar

amar?!
hoje é nostálgico o sabor
não há caminhos que ofereçam
um possível regresso
neles se cala o amor.

natalia nuno
rosafogo

meu pensamento inventa...



às vezes regressam os medos
os presságios,
os dias desolados,  segredos,
pensamentos longínquos alcançados
nas sobras perdida
sem esplendor de vida

às vezes rompem meus dias
como cristais
num amplo corredor 
com apertado amor
que me dão sinais
de luz, que me conduzem 
à vida

e sempre o meu pensamento
inventa
que o amor é viva companhia
e tenta
trocar a tristeza  por alegria.

natalia nuno
rosafogo


domingo, 29 de junho de 2025

teimosa nostalgia...

teimosa nostalgia
que nunca me abandona,
é dona, de meu recolhido coração
onde não mora a alegria
e a felicidade já pouco pulsa,
na memória é tarde demais, 
apagou-se o clarão
trago agora o olhar preso à solidão.

há uma luz que se instala
no meu frio,
o teu olhar parecendo atento,
olha-me, também ele vazio!

como água clara da fonte
abraço-te com ternura
tocamos o horizonte,
esquecemos a noite escura
claros os silêncios,
insinuas apenas um sorriso
e é tudo o que preciso!

então a morte não se atreve
deixa-nos a sonhar, é saudade
sem saber se deve ou não deve
pressagiar tempestade,

fica nosso céu cristalino
traz-nos um sol, é saudade
e um alento ressuscitado,
eu ainda menina, tu menino,
num passado
que não quer ser apagado.

natalia nuno
rosafogo