sábado, 29 de maio de 2021

rosas e espinhos...

de que servem tantas quimeras
tudo se ama e tudo se aborrece
por aqui tantas primaveras
passaram por mim, já nada floresce!
detenho-me a pensar no que vivi
outrora, estou certa, feliz!

meu coração, vivo... por ti!
o amor mostrou-se p´la primeira vez
e em teu abraço me perdi
num estreito laço,
que nada, nem ninguém desata
pois é forte a laçada.
tantas vezes te olhei e outras tantas
o rosto virei, para não veres-me chorar
de saudade... ficando sem alma nem vida,
depois de tanta partida.
vivas lembranças, 
das horas de tão longos dias,
de esperanças vazias...
chegou o inverno e o pensar me leva
recordar é bom... mas não sei se deva!

natalia nuno
rosafogo
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quinta-feira, 27 de maio de 2021

inocência perdida...




a recordação dos trinados
traz-lhe à memória a inocência perdida
e a saudade morde-lhe as pálpebras
que choram pela menina esquecida
apaga-se o mundo, nos olhos
sonhos e promessas
emergindo do vazio, sonhos
daquilo que nunca conseguiu alcançar,
e que o coração já não quer escutar.
atravessa-lhe a pele um rio
um tremor os olhos sentem
e agora que a vida reduziu
as mãos afogadas em delírio,
não mentem.

já não é borboleta nem procura voar
percorre as sombras com serenidade
e mantém no coração ainda o latejar
cobre as manhãs de luz e de saudade
há nela ainda cheiros de aurora
das madrugadas que aos ombros traz
e silêncios onde só ela chora
e assim renova a alma sempre que é capaz.

natalia nuno
rosafogo
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a viagem...

 


não sou rio, nem barco
nem hora de navegar
deixo-me a morrer nas ondas
ferozmente enfurecidas
até meu corpo encalhar
nas saudades perdidas.

à minha espera, 
uma brisa sobrevoa
e a vida com  falta de compaixão
desta dor que levo à toa.
vou fazendo oração
e no leito dos meus olhos
que ainda decidem ver
milhares de estrelas aos molhos
uma a uma a morrer.

esta é a porta de fuga
só eu lhe conheço a saída e entrada
não vá querer quem me julga
tornar mais sombria minha estrada.

minha palavra já não tem fulgor
já fraquejam os meus passos
já nem lhes sinto o rumor
nem dos teus braços os abraços.
coso e descoso pensamentos
cruzo e descruzo caminho
no coração levo pressentimentos
e a saudade imensa onde me aninho

natalia nuno
rosafogo
01/2005

tão quase tudo, tão quase nada...



as linhas dos olhos e canto da boca
dão-lhe uma expressão cansada,
o riso continua cantante
como água corrente,
olha-se e fica chocada...afinal o que sente?
sem laços dourados, nem blusa colorida
com flores a cobrir-lhe os seios,
faz agora o caminho com alguns receios.
a vida é agora como sol desaparecido
e a cotovia já não canta
traz na garganta, um som dorido,
e tempo de sobra, a tecer fantasias
a salpicar os olhos de alegrias
com versos de água, a disfarçar a mágoa.

um raio de sol ela era, olhos côr de avelã
coração dos ventos pela manhã
lufada de mimosas no rosto,
entre palavras de partir e palavras de ficar
entre a manhã e o sol posto
até a memória escorregar...
menina com asas e com vontade de pão
com risos para esquecer
que hoje é só solidão.

natalia nuno
rosafogo
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terça-feira, 25 de maio de 2021

permito-me sonhar...



é bom sentir o começo
dum novo dia
mostrar entusiasmo
profundo amor à vida, alegria,
olhar o verde macio
das encostas, o branco dos rebanhos
contrastando com o azul do céu
ou o ecoar da mata silenciosa,
maravilhas que Deus nos deu!
olhar o trigo a ondear com a brisa
as urzes e as urtigas
e, escutar as vozes das raparigas.

o nascer dum novo dia
é como uma nova aventura
acariciar o sonho com ternura, fantasia,
o tempo passa desfaz ilusões
mas eu permito-me sonhar,
em vez da vida insípida
prefiro nem acordar!

olho o brilho do mar
sinto-me grata e aliviada
mergulho em meus pensamentos,
quem não amou, não sabe nada de nada.
quem vai olhar a jovem voluntariosa
de seios arredondados, juvenis,
quem vai lembrar senão eu,
o vestido cor de rosa,
aquele que ela sempre quis?
páro a olhar o campo, para quê
negar emoções tão normais?
soltam-se em mim tão naturais como um rio,
ou um ribeirinho no verão, 
apenas um fio...de água, que afrouxou
sem o sol do meu coração.

natalia nuno
rosafogo
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segunda-feira, 24 de maio de 2021

feita de caminhada...



de nada vale erguer sonhos
vou escolhendo palavras
para que não se perca a magia
e não sejam meus versos enfadonhos
ah como eu queria, lê-los um dia
e que me cheirassem a terra e água
e lesse neles uma menina feliz
sem mágoa...
menina papoila cheia de vida
com sonhos de domingo, atrevida
cantando com os pássaros p'la tarde
a celebrar a sua verdade. 
com olhos de águia, o coração a bater
esquecer a tez macilenta e tudo o que agora inventa
para ele não sofrer...

feita de caminhada
um rio, ora cheio, ora vazio
e de que pouco resta ou nada!
sem mais palavras para dar
segue as curvas do caminho
cheio de sombras de vento e também de luar,
a saudade é seu beijo e é seu lamento
traz no âmago pontes que atravessa
com fé, quer e é!
não tesouro, nem lua, mas continua
a menina, que ainda às vezes amua.

natalia nuno
rosafogo

é bom lembrar...



é bom lembrar coisas passadas
é bom delas rir ou chorar
mesmo não sendo coisas abastadas
lembrar com saudade o que havia à nossa volta
atrás da  nossa casa, 
em liberdade ser à solta, 
passarinho mesmo sem asa
o querer saber tudo e não saber quase nada
descobrir como era livre o vento
nadar no rio até ficar cansada,
escutar a voz das águas à tardinha
e logo o canto das rãs mais à noitinha
como é bom lembrar!

ler as horas na parede da velha casa d´avó
inventar histórias para não me sentir só.
histórias que me levavam sempre mais além
a um mundo que para mim fazia sentido
às terras longínquas, terras de ninguém
lá onde o sonho era consentido.
como é bom lembrar!

ria de mim e para mim,
tudo era mistério
ninguém me dizia não
mas não me levavam a sério,
numa mágoa sem remédio 
hoje ao olhar para trás,
fico de saudade inundada
olhando-me estou em paz
hoje, sou uma criança velha
quando meu rosto no rio se espelha.
como é bom lembrar!
é que hoje?! não sei de mim, não sei de nada
vivo de saudade inundada
e para não me sentir só
dou um íntimo laço com um nó
às coisas passadas
mesmo não sendo coisas abastadas.
como é bom lembrar!

natalia nuno
rosafogo
11/2005

epifania...


a terra espalha seus odores
como os sonhos se espalham em mim
tudo nela se renova
só eu estou chegando ao fim.

presa a um fio da tarde
olho os arco-íris no céu disfarçados
e sinto de verdade
os sonhos emaranhados.
secaram as searas e os risos
de outra idade,
sorvidos pelo tempo e pela saudade,
sem lágrimas, choro o esplendor caído
dou conta de no meu coração ter chovido.
deixo sinais da verdade que mais doeu
seco os olhos com mil sóis
e deixo pousar os pássaros no regaço meu
enquanto semeio no coração girassóis.
abro as portas para que o coração se ilumine
nele deposito a inocência das palavras
numa epifania deixo entrar o sonho de verdade
até que Deus o fim... determine.

natalia nuno
rosafogo
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