sábado, 13 de março de 2021

nos dedos da solidão...



as palavras podem ser fogosas
e cristalinas, com coração,
tranquilas ou fugazes
capazes, de se soltarem da nossa mão.
com vogais de cor
resolutas, ao encontro do amor
são sementeira, de grão a grão
crescem frescas em ser verdor
palpitam, crescem voam e sonham
fazem da folha branca seu chão
decididas são guerreiras
às vezes frias labaredas
as primeiras, a encher o nosso tempo
surgem de labirintos e veredas
murmuram a infância perdida
nos dedos da solidão,
às vezes ciladas de aflição
na minha memória preterida

rasgam a estrada dos sentidos
as palavras, falam de flores
quando há festa rufam os tambores
e nos corações nascem amores.

natalia nuno
rosafogo
2009/03




poema sem tino...



os dias são longos e as noites
fazem doer, tempo de solidão,
e há sempre um espelho que me olha
embora eu, não queira não!
dias em que se respira a medo
que nem ao sonho dão espaço
fica a fala em segredo
e o corpo sem abraço...
passageiros, passando devagar
dias fingidos de serenidade,
deito os olhos ao céu procurando verdade,
discreta inquietação
nesta partida do destino
palavras me caem da mão
neste poema sem tino.

deixei de correr, nos passos
morreram as asas, nasceram cansaços
o silêncio povoa o meu deserto, 
não sei se a memória esquecida
o que me lembra, é errado ou certo
nascida no tempo, só sei que me foge
a vida!
dizem que há um mar de esperança
dizem que haveremos de voltar a sonhar
assim, neste rendilhado de ideias, nesta dança,
vivo de credo na boca, e o melhor é nem pensar.

natália nuno
rosafogo


terça-feira, 9 de março de 2021

fogo para a alma...



ao olhar no espelho vejo meu olhar angustiado, deixo o espelho embaciar, e meu coração pára de gritar, o sonho é meu único limite, esqueço o espelho, acaricio o rosto com gestos e palavras, e não exijo mais nada, o sonho diz-me que ainda sou amada...meu coração baloiça quase morto, não fosse o teu olhar no meu com linguagem que me toca, sentir-me-ia uma noite de breu, hoje minhas mãos são asas que levantam vôo e tocam os teus dedos, perco meus medos, redescubro a tranquilidade e sinto a saudade desse tempo diamante, onde era tua mulher amante...

natalia nuno
rosafogo
2008

amemo-nos até morrer...


leva-me ao céu
cobre-me com cobertor de nuvens
ou lençol de linho,
ensina-me o caminho
onde só tu e eu
possamos adormecer
e ao acordar num balancear
amemo-nos até morrer,
as minhas palavras
têm o peso da claridade
espelham-se nas livres águas
onde a saudade é um rio
de mágoas
que p'lo rosto me
escorre, 
em suave vapor
só por ti não morre, 
este meu grande amor.

natália nuno
rosafogo
10/2008

a memória é fiel espelho...



a memória é um fiel espelho, guarda tudo num cofre  profundo e duradoiro e põe o coração no peito a bater melodiosamente com as reminiscências de muitos anos passados, fazendo com que seja abolida a distância quando recordamos...às vezes penso ter tudo perdido, mas num instante volto a reviver tudo de novo e são relíquias as recordações que amo, porque amei outras pessoas, outras coisas, que não passaram por mim em vão, mas que partiram fustigadas pelo vento da vida, são realidade passada, mas duradoiras dentro de mim para sempre... ressuscito o passado nas mais pequeninas coisas e aí a imaginação também se liberta e eu fico fora do tempo descobrindo assim a minha essência e agarrando-me às lembranças, às raízes, e tudo é  como pão com manteiga para mim, saboreio cada instante que a memória me permite, com entusiasmo e sinto a inspiração brotar com palavras maleáveis, doces, sem barreiras, como flores abrindo-se ao sol do meio dia e assim escrevo as vivências de outrora...encarcero-me de livre vontade na solidão, quieta, feliz por dentro arrepiando caminho ao encontro de cheiros e afectos, puxando forte pela memória.

natália nuno
rosafogo

domingo, 7 de março de 2021

quando a nostalgia se faz valer...



o tempo me agasta
quando não estou contigo
da felicidade me afasta!
deixa a vida numa estreitura, sem abrigo
sombria, sem claridade como noite escura,
abrem as rosas, e eu sem tua doçura.
surdos meus ouvidos, emoções apagadas,
minhas mãos quietas, ideias quebradas
o coração guarda segredo
avança na sombra
toca-lhe o amor com o dedo,
logo as mãos a querer voar
bate o coração para ser amado
e poder livremente amar.

a saudade já adivinhas
nas palavras destas linhas.
a poeira do caminho se agiganta
ouço o coração bater
e um nó na garganta
quando a nostalgia se faz valer!
confundo sonhos com o que não terei
vejo horizontes onde nunca me verei
faço deles companhia da minha solidão,
nas noites invernosas e nas tardes
melancólicas de verão,
quando o tempo me gasta
e de ti me afasta...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

o amor que te tenho...



hoje vou escrever teu nome
mil vezes na areia
e gritá-lo bem alto ao mar,
este amor que em mim se ateia,
haverás sempre de lembrar!
deixo-me a divagar, 
nesta saudade que dói,
e regresso ao amor que foi 
e que só a morte há-de calar.
escrevo sobre as ondas
este amor a que me avenho
e permaneço no êxtase, enquanto
no coração e na memória te tenho.

vou encher de ternura este poema
nesta solidão que vem e vai
vou perfumá-lo de alfazema
eternizar o amor, que do coração não sai.

que venham mil sóis ele irá soçobrar
mil horas vazias, alguns fortes ventos
ninguém vai sepultar este amor
nem meus pensamentos,
nem o tempo que dispõe de mim
porque este amor por ti não terá fim.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest
Abril de 2004