sábado, 13 de fevereiro de 2021

estou sem um abraço...



o vento persegue o vento
e o sonho prepara-se para me perseguir
lá fora ouço um lamento
será a chuva a cair?
chora infinitamente,
um choro sem sentido
saudosamente
como quem chama p'la gente
fazendo eco ao nosso ouvido.
longo inverno, tempo eterno
de solidão sem abraços
raros os passos, não poder voar,
sono, abandono a eternizar, 
eternidade, paciência nesta hora
um pouco de felicidade
a vida me implora!
sou natureza morta
fechei a porta, a vida fechou-me
reduzido o espaço
estou sem um abraço
a vida parou-me...receio esta imobilidade
recomeçou a chover, trago da vida saudade
sou prisioneira, sem pena ter!
tempo ao tempo eu agora dou
vou atrás de mim, para ver até onde vou
mais ou menos viva, será que estou morta?
Não! Apenas  tranquei a porta.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

fantasias...


quedo-me em silêncio,
olho o horizonte pintado de vermelho
o sol caprichou, e apesar de velho,
alaranjou... nos meus olhos
o espanto, e aqui fico eu
como árvore solitária olhando o céu,
descobrindo no acaso o encanto.
mais um pouco e surge a lua cheia
suspiro de emoção
e deixo-me dormitar nos braços da solidão.

de repente, reavivam-se histórias,
inquietam-se as memórias, e a mente
traz-me um verso à mão,
fico no sonho e na ilusão,
crio uma ilha só minha, 
na esperança dum novo dia
que me traga alegria, e
que chegue sem dores,
como se existisse só primavera e flores.
e no poema sem começo, meio ou fim
haja sempre uma fantasia, amanhã
quero de novo que o sol venha a mim,
no interior do meu peito, o poema nunca se rende
e assim deste meu jeito
vivo num sonhar permanente.


natalia nuno
rosafogo
imagem pintrest
1988/09

sou um tempo..



sou a que ficou no tempo
distante a minha voz e o meu riso,
subitamente perdi o abrigo
duma  infância feliz, 
escondo agora meus anseios,
em tudo que digo, 
e o tempo me desdiz... 
que aconteceu comigo?! 
numa lágrima perdida
perdi-me de mim à despedida.
desatino da vida!
dia a dia mais entendo,
que a vida é como balão a esvaziar
passei por ela como pássaro a voar
mas estou viva, minhas rugas são 
de gratidão, atiro-me à ilusão, 
de que o tempo não passou, rasgo a escuridão,
alivio dos espinhos, e sou
de novo flor no meio da multidão.
prendo sonhos nas minhas mãos
minha alma agita-se ao recordar
a menina, e a recordação
é sol que me ilumina.
saudade dá aperto no peito,
trago um medo atado à garganta
fico sem jeito, a mente povoada
de historias e a vida ainda me espanta.
sinto-me solidão duma terra desabitada, 
outras vezes ave de asa quebrada,
debalde me procuro, nesta noite fria
e orvalhada...

natalia nuno
rosafogo
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domingo, 7 de fevereiro de 2021

entre o poema e ela...



Havia tufos de flores que oscilavam ao vento suavemente, eram restos de verão, lembra-lhe o tempo em que escrevia versos d'agua saídos do coração, resta a mágoa, porque hoje ela vive e não vive, só lembra de amar tudo e toda a gente, e escreve a saudade nos versos que são sua semente... um ramo de rosas nas mãos nervosas, os olhos tão verdes que a terra os invejava, a ternura p'los seus, era o que mais lhe sobrava...tanta ilusão perdida! Sem certezas no amanhã, mas sempre falando de esperança, com uma pincelada de verde forte...assim, procura esquecer a morte! flores silvestres e um pequena telefonia, faziam parte do seu dia, do seu sonho,  às flores na jarra, mudava-lhes a água com frequência para não murcharem, mas não esquece a mágoa, hoje é uma mulher sem idade, que escreve na ternura da tarde quando o sol declina, esquece o doer do corpo, não quer piedade, sonha com a juventude e vive da saudade. 


natalia nuno
rosafogo
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