palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
sábado, 16 de janeiro de 2021
ja a noite desce branda...
fogo de outrora...
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
o passado dorme...prosa poética
o passado dorme enquanto o futuro murmura e o presente vive e chora por dentro e eu exilo-me apagando-me a mim mesmo, desvaneço nas palavras que convoco e os pensamentos abrem-se ao vazio, aceitando o inevitável... como a areia que o mar engole, assim o tempo amargo faz nascer em mim a desmemória, conspira em segredo e é como uma sombra que me persegue, deixando-me sem flores nos olhos e sem o sorriso nos lábios de onde as silabas íam nascendo...agora andam gaivotas embrumadas em delírio sobre o meu corpo de trigo, numa liberdade de espuma...
natalia nuno
prosa poética...observo últimos raios de luz
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
lembranças miúdas III...
pequena prosa poética
Há p'los campos flores baralhadas, remando contra a força do vento, assim morrem os sonhos no silêncio dos que sofrem de saudade ao peso das lágrimas. Vivem-se assim tempos de asperezas onde o remédio é resistir às pressões do dia a dia. Ando para aqui de pensamento em pensamento, interrogo-me constantemente do porquê de nem as flores escaparem e numa rapidez espantosa serem despetaladas no encontro com o tempo. Oscilante é a vida, ameaçador o tempo, indiferente é já a vontade e tudo fica assim mesmo, só o coração pode mudar e transformar o nevoeiro instalado, em sol, abrindo o verão e agasalhando de novo a esperança. Seja amanhã, ou já tarde do dia, tudo chega ao fim, não lamento, pois trago em mim Poesia, que é festa no coração partido e é dança nos meus dedos, ou até flor cheirosa do jardim...lembranças de mim.
pequena prosa...sonho
agarram-me pelo braço...e eu, e as recordações fugitivas do tempo... o coração dando asas ao desejo de atravessar a fronteira, ver de novo os instantes que alguma vez amei, os pássaros avisam-me que a memória tem de ser audaz, capaz de fugir ao tempo que me rouba o meu mundo, que hipnotiza minhas horas...este tempo que é anjo e demónio que me vigia em qualquer canto onde me abrigo, a maior parte das vezes me deixa criança confusa, que não distingue o sonho da realidade...então, deixo o pensamento ganhar asas, levantar vôo e, aguardo que o sonho me abrace...
lembranças miúdas V...
Pelo tempo desarmada, trago estradas e atalhos a correrem-me p'lo rosto mas prossigo serena, abraçada à saudade e ao sonho que tiro da gaveta, sempre que preciso sonhar...a luz em mim se faz tanta, que separo as horas tristes, vivo as restantes, e calo a solidão, fica apenas aos meus ouvidos o chilrear e o bater de asas que passam rasando o telhado e me convidam a apanhar amoras, a bicar figos maduros, a respirar a brisa que vem do lado de lá do rio e é nesse momento que os meus olhos esbugalhados miram as chaminés fumegando, ali me deixo a olhar o fumo em direcção às eiras, o sol chegando, clara a manhã, a erva prateada e a água do rio espelhando...foi aqui! Aqui que nasci, bem no ventre deste lugar, coberto de orvalho, com o azul do céu lá p'las alturas e com as romãs a abrir como pássaros querendo sair das gaiolas...quantos viveram semelhante sonho? Quantos fruíram tal como eu deste sonho que foi crescer na natureza? Só mesmo esses saberão do que falo e desta minha saudade, assim como do meu apego às raízes, das saudades do largo da praça e a graça das cachopas do meu tempo com trajes domingueiros dirigindo-se à missa como se fossem princesas... na cálida tarde a luz reverbera, ao ouvido ainda soam as músicas bem distintas do açude moendo o trigo, e a voz do sino em repetidas carícias, em sussurros enternecidos, chamando o povo à reza do terço...e nos sentidos explodindo de saudade há ainda o cheiro das flores abrindo...volto à juventude e ao riso franco, sonhando sempre que preciso.
Assim saudades de mim!