sexta-feira, 6 de novembro de 2020

quando meu nome esquecer..



na penumbra dos meus olhos, 
há gotas de orvalho, que são mansas
lágrimas que vão rolando no meu rosto,
lembranças que vêm da profundidade da alma, 
lembranças de saudade...
rosto, que tem a quietude dum lago e a calma
da águas transparentes, onde mora
amiúde o sorriso, a minha identidade
em meus versos, meus olhos se abandonam
nos poentes, e às vezes se fixam numa dor
que percorre meu corpo, já longe da ascensão,
e são como uma flor a emurchecer pelo chão
- quando meu nome esquecer
ficarei longe da vida que arde
como folha extraviada pelo vento levada
numa tarde de outono,
será angústia o que me resta,
num silêncio golpeado
pobre rosto rasgado.
na memoria já o sono.

mas aos meus olhos ainda vêm odores
que lhe chegam com a formosura do vento
de flores fulgurantes, odorosas,
jasmins e rosas...
nas minhas mãos cairão cadentes estrelas
de desejo, e serão o ensejo
para voltar de novo a viver como se não fosse
passado o tempo, e os sulcos no rosto esquecidos,
será então a solidão mais doce
o esquecimento, os anos vividos, meus olhos de menina
não se deixam afogar de tristeza,
quando parecer soluçar
afundarei a cabeça no teu peito
e vou-te amar, deste meu jeito.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 3 de novembro de 2020

é a hora das sombras...


é a hora das sombras
passam aves voando ao relento
enquanto minhas lembranças sonolentas
se amontoam no pensamento
vai-se o céu escondendo entre as ramagens
e relampejam na memória imagens
da criança feliz, correndo rumo ao futuro
com seu corpo puro, de tenra idade
é a hora das sombras, hora da saudade
saudade que se levanta como um enleio
na sua verdura quando é primavera.

meu coração despenha-se no vazio
da espera, mas levo o peito cheio
e as palavras resvalam-me por entre os dedos
a cumprir um último destino
desprendem-se sem medos
na hora das sombras, tempo do divino

hora despida que o corpo me percorre
é quase noite na minha idade
mas a luz dos meus olhos não morre
porque até ao fim da escrita
sempre palpita a saudade...no coração!

natalia nuno
rosafogo