sábado, 9 de abril de 2011

MAIS UM DIA



Sinto-me tão cheia de vazios
Hoje fiquei com menos um dia
de vida
Tantos foram... perdi-os!
Ficou minha mágoa comprida.
Mais um dia que conta
Menos um dia na conta
Vou o tempo rasgando
Já me enegrecem as asas
Vai a Vida enfarruscando
Penas minhas são brasas.

Porque a verdade é só uma
Hoje mais um dia se foi!
Não é mais um, coisa nenhuma
É menos um ...e me doi!

Apelo aos meus sentidos
O ouvido não quer ouvir
Diz serem meus sonhos desmedidos
Não ouve, nem quer sentir.
Apelo ao tacto, ao olfacto
Todos no tempo distante
Ficaram-se p'lo vôo das andorinhas
Só meu coração amante
Ouve as tristezas minhas.

Às vezes me sinto com algum talento
Escrevo com alguma qualidade
Mas logo perco o alento
Se me ignora a saudade.

A Poesia é como um vitral
Ornado que se olha iluminado
Um altar numa catedral
Onde Deus mora e é amado.
Por isso a escrevo sem parar
Meus versos me bebem o sangue
Julguei ter forças para andar
Vou escrever até me sentir exangue.

natalia nuno
rosafogo
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NA PENUMBRA

Векторные фоны

O quarto envolto em trevas
Uma chávena de chá
Olhos que se fecham já.
O sono, me leva
Para um outro olhar repousante
Onde o emaranhado da Vida
se desfaz.
Num instante,
fico em paz.

Adormecidos os pensamentos
de dor ou de alegria
Tudo passa livremente
Até ser dia
novamente.

Assim fico como folha caída
inerte esquecida
num estado vegetativo
Numa luz suave, atenuada
a memória velada.
Mas com o coração bem vivo.

É como perder o eu
É como ficar no céu.

Num sono profundo
Eu viajo pelo Mundo
Na mesinha o relógio indiferente
No seu tic-tac continua
Fingindo que nem sente
Que a hora de acordar é sua.
Não mexem cortinados, nada!
O espelho mostra a sua hostilidade
E eu vejo-me ameaçada
De acordar me foge a vontade.

Lá fica meu coração a bater
Ao espelho peço compaixão
Pois já nem quero saber
Se sou morte ou ressureição.

natalia nuno
rosafogo
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sexta-feira, 8 de abril de 2011

BATE LEVEMENTE



Hoje é demasiado brando o vento
Do sol um resto de suavidade
Se arrastam nuvens sem alento
E em mim se arrasta a saudade.
No ocaso o Sol inflama
Com seus raios tranquilos de sono
Já se apaga em mim a chama
Na vida consumida
Me abandono.

Vou enchendo folhas
Com a mão nervosa
Evito olhar quando me olhas
Como se eu ainda fosse uma rosa.

Multiplicam-se no pensamento
Mil e uma ideias
A olhar as macieiras me sento
De primavera tão cheias!
E eu num Outono sem alento.
Os anos me marcaram a Vida
Também a infância e os livros
E tudo quanto amei, estremecida
Todos continuam para mim vivos.

Ouço o voo dos pássaros, incessante
Isolada me deixo na natureza
Meu espírito vazio por instante
E meu pensamento sem nenhuma certeza.

Seria bom dormir
P'lo vento embalada
Deixar-me ir...
Mas brando ele está hoje!
Nem mexe a ramada
Nem uma aragem
Levou minha imagem
E já a vida me foge.

Vai o Sol a desaparecer,
Saio do meu torpor
Só para te ver,
Mais uma vez meu AMOR.

natalia nuno
rosafogo
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

JÁ OS VENTOS ME FUSTIGAM




Memória e desmemória
Labitrinto de sombras e visões
Meus dedos palpitando na escrita
Já não sei se vivo só de ilusões.

Se é sorte ou desdita
Andar na penumbra adormecida
Nesta sombra encadeada
Solitária sem saída.
Como lágrima desprezada.

Uma e outra vez
Sempre o mesmo pensar
O tempo me tráz surdez,
passa por mim...a correr
Exala avareza, sinto-o passar.
Indefesa, como posso compreender?
Desunindo-me do Mundo
Com afiado gume
deixando-me golpe profundo.

Já os tempos me castigam
Já as manhãs não me abrem as portas
Já os ventos me fustigam
Calafrios nas horas mortas.
O silêncio?
Espreguiça-se nos meus ouvidos
E as palavras vão nascendo
Vão-me fugindo os sentidos
Como estrelas vão morrendo!

Tudo como relâmpago fugiu
Tudo como labareda se apagou
O sonho, onde está? Alguém o viu?
Também ele p'los meus versos passou.

rosafogo
natalia nuno
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

MORRO SEM MORRER



Será que a palavra felicidade
já não faz sentido?
Faltam-me forças para amar,
Mas de tudo que foi perdido
Quero para sempre lembrar.
Penso que já não estou aqui
Só a memória me faz companhia
Minha alma perdida  por aí
De afecto e ternura vazia.

Confundo-me no meio da multidão
Sem que alguém em mim repare
E na liberdade da minha solidão
Vou curando a ferida para que sare.

Vou criando a ilusão
De alguma vez ser comprendida
Que algum dia por certo dirão
- De saudade andou perdida!
Escrevi meu livro precioso,
Volto a mergulhar na leitura
De corpo e alma,
neste poema misterioso
Que pulsa em mim com ternura.

Esquecerei até as estações
Posso suprimir o que me rodeia
Suplico, deixem-me as ilusões!
Quero ficar, solitária na minha teia.
Jurei não sucumbir á dor
De ver moribunda a poesia
Neste Mundo sem Amor
Em noite escura ou á luz do dia.


rosafogo
natalia nuno
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PRIMAVERA DA VIDA


Disponho apenas da espera
Dum som, dum odor
Ou dum sabor.
Para relembrar a Primavera.
Primavera da vida
Um mito feito nada
Migalha já escurecida
Me sinto injustiçada.

Paira sobre a minha memória
Uma figura graciosa
Que brota como uma rosa
Que aparece
Desaparece
Testemunha da minha história.

É ela que me conduz ao destino
Dela me vem a força e a vontade
Me põe neste desatino
Ao acaso da saudade.

Nada está morto na mente
E a minha alma está em todo o lado
Meu coração assim sente
Derrama amor ao lembrar o passado.
Os sonhos se desvanecem,
São efémeras constelações
Mas as recordações?
Essas não perecem!

Foi ontem era menina
Ainda estou dela a dois passos
Aperto-a contra o peito
Envolvo-a nos meus abraços
E até horas tardias
Bem do meu jeito
Vou sonhando fantasias
Nesta doce passividade
Acorrentada, livremente á saudade.

natalia nuno
rosafogo

Imagem ret. do blog-imagens para decoupage.

terça-feira, 5 de abril de 2011

RENASCEM RECORDAÇÕES



Renascem
na memória recordações
E é nelas que eu respiro, vivo,
me tranquilizo
São verdadeiras emoções
Nelas que me inspiro sempre
que preciso!

Nelas minha poesia idealizo.

Renascem e,
Mitigam-me as angústias e esqueço,
Redescubro o gosto de viver
Me reconfortam e nelas adormeço.
São memórias que não vou nunca esquecer.
Eliminam minhas desarmonias
Aliviam minhas tensões
Ajudam a passar meus dias
São verdadeiras emoções.

E no silêncio e tranquilidade
Esqueço ruídos e pesadelos
Ás vezes me sinto longe, eu e a saudade
Perto da criança que ainda me faz apelos.

rosafogo
natalia nuno

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MEMÓRIA DUM TEMPO



Ao Sol, à chuva, na neblina,
na noite ou sob o voo das andorinhas
Vou sonhando, sonho de menina
Imersa em fantasias minhas.
Trago em mim
A espessura dos anos,
Escrevi mágoas e desenganos
Assim:
Trago meu livro inacabado,
Fiz apenas um esboço
O resto trago calado
Feito nada, no fundo dum poço.

Sem esforço de rememoração
Já tantos anos á distância
Ainda desperta a recordação
Dos dias felizes da infância.

Ao acaso surgem livres na minha mente
Tão livres como vôos de andorinhas
Repetem-se insistentemente
Expontaneamente
Estas memórias minhas.
Ao revê-las sempre uma nova alegria
Varro cuidadosamente a memória
Quero-a leve, quero lembrar cada dia
Cada página da minha história.

Quando a memória tiver sono
Serei um mar sem governo
Uma voz no tempo ao abandono
Num sono para sempre eterno.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 4 de abril de 2011

LEMBRANÇA COR DE AÇAFRÃO



Pululam flores leves e abundantes
Flores espalhadas com a cor do açafrão
Outras de tom lilás
Lembram-me finos caracóis, por instantes
E a saudade me leva lá atrás.
Quando mal pisava o chão.

Lembranças em vaivém,
Um perfume acariciador
Que exala aqui e além
De prazer e de dor.

Uma lembrança trémula e cintilante
Como uma pedrinha azul, turva já
Meu olhar a capta neste instante
Com fidelidade a vê por lá.

O pensamento é o grande doador
Aflora e desencadeia a lembrança
E eu ainda amo a criança
Sinto-me dela prisioneira
Lhe tenho amor,
A recordo como a uma flor
Que bem cheira.

Só a memória é a ponte
Que a ela me conduz
É tão doce voltar à fonte
Ficar absorvida na luz.

A ausência se torna presença e então!?
Volto a olhar as flores cor de açafrão
Da lembrança, breve felicidade
E muita, muita a saudade.