segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

o rumor das palavras...



nos traços do meu caminho
a névoa permanece,
cada vez com mais intensidade
reviver o vivido dói

cresce pela manhã a saudade
e pela última luz da tarde tocada
já o sol se foi!

sei que a vida é fugaz pressentimento
da morte, do lamento, e do nada

há sentimentos intemporais
mas o tempo corrompe a esperança
sigo errante, chora demais
em mim a criança.

sinto bater o frio
enquanto semeio palavras
e a noite avança!

meu corpo envelhecido
esquece os golpes do cansaço
não quer quebrar, decidido!
compreende quanta luta inútil
quanto passo,
quanta aceitação,
felizmente ainda me devolve
o sonho, a quebrar a solidão.

natalia nuno
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

o amor que me coube...





como a fome que tenho de viver
igual a tanto d' amor que me coube
é com a mesma que procuro saber
se foi bastante, e a tanto me soube
 
deixo resvalar o  meu pensamento
seja como um mar que nunca acaba
um mar calmo, ou um mar violento
ou sede cinzenta q' em mim desaba

vou caindo no charco da solidão
trago a dor que não pude escolher
dor vai e volta, e não esquece não
é pedra alojada no coração a doer

a vida adormece mas ainda aguarda
procura ainda o sol com intensidade
que o amor adormece  não tarda
tão perto, quanto longe, vira saudade.

natalia nuno

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

o inverno é novidade...



parti para longe de mim,
naquele instante, que me dói
lembrar
meu sonho ficou mudo
foi o fim de tudo!
vil inverno, inimigo a chegar

quando o destino nos tortura
quando o ocaso nos abandona
quando as noites já não trazem doçura
a loucura, é dor dum grande vazio
solidão onde cresce o frio

parti para longe de mim
quando a vida me agrediu
agora na solidão me vejo assim
e olho-me,
como alguém que nunca se viu

varro minhas folhas secas
deste outono que de mim se despede
o inverno é novidade
deixo soltar a saudade
da vida, que foi ensaio breve

esqueço os sonhos que almejei
nada me devolve a imagem perdida
sou uma sombra
em busca de mim mesmo
assim é, o vazio entediante da vida.

natalia nuno
imagem pinterest

domingo, 9 de fevereiro de 2025

sombra duma sombra...

 



de costas viradas aos sonhos
relembro instantes amargos
e esqueço os dias risonhos

remendo meus olhos tristes
rio, choro meu olhar torvo
e nem comigo estou de acordo

vou caindo, sempre caindo
como uma pedra no charco
assim vou levando meu barco

despertam sombras no espelho
desgastando-me a cada olhar
olho-as até, a dignidade me deixar

quando a dor persistente me traz
que a memória dos dias é nada
na garganta do tempo sinto-me parada

não me chegam já as palavras
com que me possa refugiar no poema
voltarei noutra vida com outro tema

sou forte como as raízes do vento
caminho com a morte à espreita
não sei quanto tempo!? mas aguento!

natália nuno




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

mais espinhos que rosas...





nesta viagem sem retorno
águas passaram, muitas águas
mas a sede aguentei!
e eis que dei,
pelas aves redobrando
o canto, como música aos ouvidos

em meus sentidos
mais espinhos do que rosas
trago caídas as folhas ao chão
e em versos palavras mimosas,
trago entusiasmo, também hesitação

acolho-me à sombra do que há-de vir
um dia partirei
- e nada levarei!

somente o que trouxe
meu corpo um rio despido
entregue á terra mãe
tão pouco importa esse pouco
que tenha trazido,
partirei, despojada 
de quanto amor dei, também.


natalia nuno







sábado, 1 de fevereiro de 2025

sonho...




a noite se afoga
na cidade adormecida
noite de névoa foscamente abatida

traz mensagem 
dum dia de chuva cinzento
com as folhagens cheias de tremores
transparentes e o lamento
das fontes cantando
redobrando seu canto turbulento

no ar um aroma a terra
lenta e só, a lua se despedia,
descendo no silêncio estrelado
agitava-se -me o coração de ânsia

o silêncio entrou em mim
como se nunca, nunca terminasse
julgou-se o dono do meu mundo
até à eternidade
como se nesta embriaguez me ficasse,
morrendo lentamente de saudade

frágil e indefesa minha asa
recorda-me a vida que encontrei
leva-me a caminho de casa
mas sei, 
que existe medo e nostalgia
que será caminho para o abandono
já não sei se é noite se é dia!
ou sonho de que fui acordada
e me empurra e extingue no nada

natalia nuno


quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

o pranto e o sorriso...

as minhas memórias aos pedaços
entra o vento pela porta antiga
morrem as rosas lá fora
eu, e os meus cansaços
e a nostalgia que em mim mora
a dizer-se e a não ser
- minha amiga!

um jogo estéril
a vida a tolher-me
escrevo poemas sem sabor
algumas lágrimas a querer
que a luta me cause dor,

palavras que são embargo
o sorriso amargo
no olhar pálida a luminosidade
na boca um travo
de saudade

tantas vezes a tristeza presente
momentos angustiantes
sensação de que nada se sente
outras tantas o sorriso
o prazer desses eternos
instantes

quando invocam a esperança 
e o sol dança na nossa mão
parecendo incendiar-nos a vida
e o coração.

natalia nuno 

sábado, 25 de janeiro de 2025

grito entre trevas...



nem na noite mais escura
o sol deixa de brilhar
o que me faz querer viver?
chegou à mente o inverno
de repente, 
sinto-me insegura
invocada por estranho poder

fico sem consolo ou protecção
tudo parece cair ao chão
aonde ir, aonde ir?
talvez a razão desta saudade
sejam as palavras a ruir 
tiram-me o sonho
levam-me à realidade

palavras tão só o que são
sombras e solidão
trago os olhos no esquecimento
e sequer sabem porque choram
é confusão o que contemplam
que já tudo ignoram...

natalia nuno 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

o frio da vida...



por estreitos caminhos
espreito os céus
sem nenhuma certeza, 
apenas um sentimento vazio
e na alma um cinzento frio

soltam-se dos meus dedos
as vogais
e na garganta ficam-se os ais

teço a vida
com um punhado de nadas
gasto o tempo a pensar
no que fiz
os sonhos, são águas paradas
lento desagregar
dum fogo feliz

preciso de florear caminhos
já que a morte neles espreita
minhas mãos são aves
sem ninhos
já nada semeiam estão desertas

uiva a insistência do esquecimento
mas não cala a dor
- do pensamento.

natalia nuno







terça-feira, 14 de janeiro de 2025

imensa a noite...

olho as migalhas de pão
na mesa
olho as paredes desenhadas
de humidade
livros com gretas nas lombadas
o relógio pendurado 
não trabalha
parou à hora da tristeza,
não tenho mais memórias
Deus me valha!

no corredor uma jarra
deitada ao chão,
imensa a noite
os olhos secos de tanta
solidão

apagou-se o lume na lareira
dissolve-se minha última esperança
tento adormecer as chagas
da lembrança

perco a minha mão direita
já não me importo com as sombras
estou sem palavras,
as teias rodeiam-me a cabeça
não sei que fazer antes
que enlouqueça

ouço o murmúrio da humanidade
que me desfaz o coração,
olho as fotos dos que partiram
- para sempre,
e me deixaram saudade

recordo ainda que seja
o resto de mim,
não posso esquecer-me
nem ninguém pode deter-me
vou sobreviver até ao fim

natalia nuno




sábado, 11 de janeiro de 2025

a minha força...



só em ti força minha
me liberto da amargura, 
ninguém mais adivinha
como nos meus dias
é sempre noite escura.

que se instala com raízes
e abalroa meu amanhecer
apoquenta meu sentir
até quase enlouquecer!

rodeia-me o mundo desolado
penosos são os sonhos
resta um... e anda extraviado!

na memória vozes de mar
pesadelos, donde não posso escapar.

horas vacilantes
onde a dor cresce densa
querendo tirar-me a força
a todos os instantes,
grudando com insistência.

fico só com meu destino
por entre a noite e a insónia
as sombras são uma ameaça,
o pensamento um peregrino
até ao último alento!?
dia a dia a morte me abraça

determinada e livre,
caminho passo a passo
enquanto o coração vive
ou chegue a ele o cansaço.

natalia nuno
rosafogo



quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

presente sem retorno...

lágrimas que são tão finas
caídas quase em torrente
caem dos olhos cristalinas
dói o coração que as sente

voltam à tona as tristezas
na madrugada molhada
e são tantas as incertezas
que da vida sigo cansada

não há pra mim surpresas
nem oásis onde descansar
foi-se o sabor das certezas
deu-se o colapso de amar

minha voz já não vai longe
apagada em nuvem ardente
silenciosa como a do monge
q' em silêncio reza p'la gente

meus sonhos são incolores
escuto o mente e o coração
onde vivem restos d' amores
sobre o crepúsculo do verão

natalia nuno

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

ouso libertar-me...





os poemas florescem,
nem sempre bons, nem sempre maus
transbordam de sentimentos
galgam distâncias como naus
sorriem em meu olhar
que pouco sabe de maldade
nele mora pra sempre a saudade

poemas são entradas de luz
são claridade
são como um grito vindo do vazio
forças oceânicas trepidantes de saudade
são fogo que cruza o horizonte
instante arrebatado, sonho e realidade

poemas são velas para a aventura
deixam o pensamento inundado
e o sorriso ébrio de ternura

palavras num instante arrebatadas
nesta já longa caminhada de
sombras, e ansiedades irmanadas.

natalia nuno







vaivém de sombras...



leve e fugaz inspiração
e a saudade que não me sabe
aquietar
sempre uma tenaz obsessão
a de continuar...

as horas caindo
e eu ainda nesta lentidão
que vai para além da vida
de consciência adormecida
cega à maldade do mundo

esta pausa faz-me esquecer a mágoa
por perder a esperança...
deixo-me entre os aromas das flores
como quando era criança

entre a luz da tarde 
e o mágico fulgor da poesia,
face ao horror e à violência
deixo adormecida a consciência
no meu coração um oásis
de esperança
vai vibrando fundo

aguardando, a paz volte ao mundo.

natalia nuno

sábado, 4 de janeiro de 2025

mistério...



cada pulsação é uma quimera
coroo o meu dia de palavras
há borboletas à minha espera
que levantam meu desejo
de seguir no silêncio, 
no qual habita
o sopro da minha voz.

já a vida corre veloz
continua o coração a pulsar
apesar da solidão crescente
dos anos decorridos,
e dos sonhos feridos
visita-me o futuro
a alertar
como vai ser difícil e duro.

sobressalta-se o olhar
tento saber o que vem nesse «aviso»
sorrio-lhe com esperança, saúde
é tudo que preciso
mas ele, afasta-me do mistério
que esconde e, não quer revelar

diz-me apenas que há  poemas
ainda por conquistar.

natalia nuno