sábado, 15 de novembro de 2025

saudade é tormento...



anda a cotovia nos trigais

ando eu contemplativa

e as andorinhas nos beirais

numa roda viva...

respiro o aroma campesino

nuvens agrupam-se rendilhadas

viver de saudade é meu destino

que me traz recordações tão delicadas

neste idílio enamorada

lembro os campos da minha terra

a frescura e a fragrância

que pela aldeia se espalha

lembro a criança a jogar à malha

trago uma lágrima furtiva

desperta em mim um sublime sentimento

sinto-me viva...bem viva!

mas a saudade às vezes é tormento.

 

natalia nuno

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com o pulso do tempo...



há um pouco de inércia 
que a memória assume
por vezes é grande a desordem
a um sopro de abandono se resume
como se duma flor colorida
passasse a um galho ardido
cansada da vida

já não recupera
o que dantes alcançava
é como se fechasse um pouco a janela
da minha vida
torna o destino sem meta possível
ou talvez este chegue veloz
mas nenhuma esperança tida

parece ficar detrás dum véu de bruma
num vazio já um pouco prisioneira
sem volta de ser a primeira
a não deixar-me esquecer coisa alguma
vai tornando-se um hábito esquecer
debaixo da língua a palavra se afoga
na sombra dos olhos me vejo a perder
a luz de outrora.

.natalia nuno
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terça-feira, 11 de novembro de 2025

palavras sem sentido...


despertam palavras com furor
nesta solidão vazia,
saltam ainda algumas com amor
e, eu sempre alheia à alegria!

acordam memórias
a felicitar-me por ainda estar viva
dou comigo a recordar histórias
esvazio esquecimentos
e afago meus sentimentos

inquieto-me com o tempo
que me resta,
e escrevo poesia triste
com palavras ou rimas soltas,
- tristonhas, já sem festa!

no pensamento
como um ferimento,
trago barulhos medonhos
sentires amargos
e os últimos sonhos
em atropelo

é total a obscuridade
neste meu vazio a anoitecer
chora o coração noite afora
chega a saudade
p'lo amanhecer

palavras espalham-se sem sentido
aproximam-se da melancolia
que alastra e de tudo me afasta

imensa a minha força?
como um ventania!

natalia nuno
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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

um fogo diminuto é a vida...


trago asas apagadas em pleno voo
no olhar o negro da noite desolada
o tempo, o caminho atravessou
fiquei p'la solidão devorada

hei-de cair ali mais à frente
ouvindo o eco do sonho
perdido na mente,
juntamente a vinda da morte
transe profundo 
faz com a vida o corte

é a vida e seu senão
que veloz se evade
sob a exaltação e
a saudade


para lá do inverno o tempo se parte
indeciso como folha que cai
ao chão
ao tocar esse chão, já não
brilha a alegria
e uma lágrima que humedece,
no olhar se cria
desce
no rosto com resignação
a aguentar do corpo a traição

no espelho a face retida
misturada com as sombras 
que a golpeiam
um fogo diminuto é a vida
quando os sonhos já não se anseiam.

natalia nuno
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sábado, 25 de outubro de 2025

já tudo era ontem...


a noite abriu o baú dos sonhos
num belo arrebatamento, a felicidade
surgiu, deixando nosso coração na saudade

dos anos predadores, fomo-nos habituando
supondo-nos agora sós e ignorados
fechados em ruídos, pelo destino golpeados

ante a tristeza uma lágrima que se afoga
ameaçando, incendeiam-se desmemórias
ante o sangue  que nos interroga

sonhos que abarcam uma distância maior
um reino d´aromas longe, mas tão perto de nós
onde sonhos deixam-nos rendidos ao fogo do amor

natalia nuno
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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

o vazio que me quebra...

às vezes fantasio
prefiro, a passar tempo vazio
sinto que o longe já se cala
que ao menos o vento
me venha à fala,
guarde minha memória,
ouça meu lamento
e da minha história

- o que me vai na alma!

não vou perder a oportunidade
de ouvir a saudade
que me visita amiúde,
filtrando minha quietude
talvez o remédio para a minha
solidão
quando esta, é minha prisão

às vezes, cresce uma angústia
que à pele se agarra
e nada mais sei, nem quero saber
descrente deste mundo envelhecido
o desejo e o nada, o vazio
tão meu conhecido,
a mim se amarra

então, fantasio!
e nos degraus da imaginação
fujo aos golpes e redemoinhos
sigo por outros caminhos
sou a que não sou
e vou
abrindo  uma brecha
na vida opressora.

natalia nuno
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domingo, 19 de outubro de 2025

o que resta da infiel memória...


na parede da casa de branco caiada
desenha-se a minha sombra escurecida
e solta-se ao meu ouvido a palavra saudade
da juventude sonhada, 
p'las águas acariciada
que não mais me será devolvida

olho o sol nos canaviais
desperta-me do mais profundo
garras da memória provocando meus ais
dois tempos dois lugares
- meu mundo!

nestes lugares habita o sopro da minha voz
apesar dos anos decorridos
e apesar da solidão crescente
ainda trago nos sentidos,
a sombra do sol, morrendo no poente

e um tapete dourado se estende
irrompe na paisagem
a água do rio torna meu vestido transparente
como antigamente e,
a minha imagem
é como mistério, que se esconde
como enigma que ninguém sabe por onde

acato o destino
cai a noite na aldeia e também na minha vida,
nasce um poema pequenino
com palavras que amo de lembranças queridas
leio-o agora que termina
admiro-o como peça de relojoaria
é um sonho do meu tempo de menina
e enumera as pulsações do meu coração dia a dia.

natalia nuno
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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

palavras de existência...





as palavras seguem seu rumo
como água
procuram o rumor da tempestade
na ânsia de chegar ao mar
levam com elas a saudade
e não se deixam aprisionar

há palavras que são recordação
das nossas sensações
vestidas de insondável doçura,
seguem vestidas de lamentações 
ou de violência dura 
  

há palavras quando a solidão
é maior
faz-me companhia uma breve dor
às vezes «un je ne sais pas qua»
que me traz um alívio ligeiro
logo a saudade em chega primeiro

há palavras quando a sorte
nos abandona,
também quando ela nos corteja
vai-se escapando a vida, e assoma
a morte que nos beija

as palavras dormem em mim
em sossegado esquecimento
vão ouvindo os caminhos do vento
trazendo-me à alma o aroma do jasmim.

natalia nuno
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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

onde deixei a lembrança?...



no sonho caminhei
pelos lugares da minha infância
perdida  me perguntei
onde deixei a lembrança?

que embaraço
- nem um abraço!

por ali os pássaros já não
anunciam madrugadas
nem surgem rostos aos postigos
e as mós dos moinhos estão paradas
onde estão meus amigos?

do sonho quem dera fugir
e da saudade que não
me liberto
sinto-me a exaurir,
sem a lembrança por perto

meus versos já trazem rugas
nos umbrais da sua inquietude
da saudade não conseguem fugas
e num reino de sombras
vivem amiúde

perco-me no passado, bem presente,
confusa neste mar de tempo
à distância,
perdida me pergunto
onde deixei a lembrança?

meu coração recolhe a dor da terra
que ficou deserto desde que a deixei
todos os recantos minha mente encerra
e a saudade no peito fez-se lei

meu olhar é farol que embacia
e meus sonhos vou reescrevendo
entrego-me à promessa que um dia
mais morta que viva, os lugares
estarei de novo vendo.

neste inventário de saudades
levo comigo a descrença
ficam nos versos verdades
e nas margens do rio o frio
e o vazio da minha ausência

natalia nuno
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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

entrega...



viaja a boca até à boca
alegria, loucura feitiçaria
e já a mão se desloca
cresce o desejo, esfuzia
no rosto a alegria

magia, o entusiasmo redobra
coisa louca, 
os beijos da tua boca
o meu corpo te cobra
que seja dia de festa.

e o que tem de melhor?
a entrega ao conquistador!

... e eu me entrego por amor. 💕

natalia nuno
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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

o tempo nos toca... pequena prosa



penso em como a felicidade nos fortalece, e a dor nos enfraquece à medida que o tempo passa...ver os filhos e os netos tornarem-se homens e mulheres, faz-nos abolir do pensamento a passagem do tempo , faz-nos perder a noção que ele passa e não perdoa, tocando-nos com a sua mão invisível, e quando nos apercebemos, os anos felizes e descuidados passaram, são agora como um rosário de penas rezadas.

natalia nuno

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palavras na hora...




perdida nas horas, onde tu és ainda,
morre-me o tempo de ti...

mas o sol não afrouxará
apesar das sombras.

natalia nuno
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o silêncio do meu inverno...





inclino-me sobre o espelho das águas amenas
e choro minhas penas
abrigo-me dos dias de frio
fico olhando o marulhar do rio
as águas desoladas pressentem minhas mágoas
e eu, como pomba que arrulha no ramo
segredo-lhes que existo
porque te amo

fica a vida lenta e sombria
e a luz do sol amarelenta ao anoitecer
do dia
lembranças saudosas são rosas e malvasias
no meu peito
há alegrias ingénuas e emoções mimosas
que quebram a solidão
as decepções e o desalento
as aves apagaram os gorjeios na margem 
do rio que corre em mim
esvoaçam no meu céu cinzento
em sombra e silêncio
do inverno que me esfria
e vão pousar longe no chão
ilusão...

onde ainda se veem estrelas, e restos de sonho
da minha juventude
rasgam-se meus dedos em vão
em estremecimento de primaveras passadas.

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domingo, 5 de outubro de 2025

meus olhos d'hoje e de amanhã...



sobre o mar secreto dos pensamentos,
surge de quando em quando
uma nuvem negra
vai-se desviando o fio da vida
pronta, a morte, um susto nos prega

o que fica para trás
não se recupera jamais,
sequer se é capaz
de limpar as lágrimas
e calar os ais

a distância entre o que fomos
e o que somos
mede-se por silêncios

e às vezes as emoções são bem fortes,
quando corremos em busca da felicidade
deixamos acontecer às sortes,
até que o coração morra de saudade

há sinais inquietude nos meus versos
porém, não deixo a folha vazia,
- escrevo
palavras temperadas de sol
são formosa profecia, são elas o farol 
que ninguém embacia
-mesmo que parta um dia!

natalia nuno
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poema só para mim...



verdes como  hera
que subindo vai
esperam, desesperam
e um dia a vida neles cai
meus  olhos onde estão,
que olham e não veem nada
em estéril contemplação?
são eles e eu cansada!

verdes, não veem o verde dos campos
a vida sempre a mesma!
o futuro é não... ou nem sabido,
pálido e sombrio
paisagem onde não há rio.


entra por mim adentro um calafrio
vejo minha estrada desdobrada
a chegar ao fim,
já tudo me esquece
até de mim!
nos olhos tristes dissipa-se a aurora
passa por eles o tédio
hora a hora.
hoje não sei se sou
ou não sou!
não sei se existi
meu olhar turvou,
nem me sei aqui.

águas passadas que inda fazem dano
sorrindo interiormente
apercebo-me, como a vida
foi um engano,
fustigou-me o tempo
os olhos que se abriram ao nascer
flores imprevisíveis
nascidas de verde
um dia irão morrer, 
quando a solidão e a carência
fôr rumor de mágoa e do amor
a sede...

já não invento sonhos
dou-me à sorte
neste final, sulcado pela morte.

natalia nuno
rosafogo
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deixa-me sonhar...



não m'acordes do sonho

nem me retires a ilusão

se o amor é vivo,

- risonho,

sonhos vão, outros virão!

tristes, imóveis, parados

cansados andam meus olhos 

e de lágrimas marejados,

da saudade que em mim sinto,

olhando atrás por instinto

esta saudade eu combato

ponho-me a pensar em ti

agonia não desato,

de tanto lembrar de ti

eu já de mim me perdi!

 

natalianuno

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sexta-feira, 3 de outubro de 2025

os dias da flor...



 surgiu o dia em ebulição, aí senti um desejo doce, não era de vinho, nem de pão, mas a alegria obtida de me sentir de novo eu, do véu que envolve a memória trazendo-me o sonho, e de novo os dias da flor, eis-me viva com o peito a arfar, neste encontro com a que de mim se perdeu, e a manhã fica mais rosada e fresca a terra e o céu...é a recordação que sempre me acode, restitui-me um pouco de alegria enquanto a vida é neve ao sol....

memórias rimadas...




as memórias eu não quero calar
são elas orvalhos nas madrugadas
hei-de por certo sempre lembrar
enquanto as raízes não forem cortadas

vivo  meus sonhos bem acordada
de mim, ainda não estou esquecida,
- de mim não me sinto abandonada,
e a memória da solidão se esquiva

a ninguém importa, a mim tão pouco
nem espero que meu entusiasmo dobre
às vezes o coração ainda se porta louco
quer-se vivo, pois d'amor não é pobre


por isso digo lembrar-me é promessa
- vou de tudo lembrar pela vida afora!
ao bater valente o coração não cessa,
promessa cumprida ontem, aqui e agora

não sou de ficar sentada à espera de nada
nem de lamentar-me ou sequer chorar
vou viver com audácia a vida que me é dada
enquanto estou cá, vou ousar sonhar...

natalia nuno
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rumo...

 

lento outono, assim sou eu de verdade 
como folha caída ao abandono,
- no coração a nostalgia, saudade... 
tudo unido do princípio ao fim, 
da verde à amarelada folhagem, 
é assim hoje minha imagem, 

deixem-me em paz então,
- escuto o passado e o futuro neste pedaço de chão, 
onde a fé já esmorece e tudo se entristece...

conforma-me, se o amanhã voltar!
- a noite, estranha doçura deixa, 
talvez a saudade a lembrar...
- em mim uma íntima queixa, 
difícil é o caminho, mas há que caminhar.

natalia nuno
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domingo, 28 de setembro de 2025

destino...



o tempo une-se à minha vida
do início até ao fim
leva a alegria de mim
passa sem dar conta,
e sempre este rame rame
me afronta.

nunca me abandona a nostalgia
no coração arrebatado 
nele renova e ressuscita
dia após dia,
a saudade,
prossigo na obscuridade
onde trémulas morte e vida
me perseguem, metade 
por metade

sinto a presença
dos aromas das flores,
dos pinheiros os cheiros
a levar-me à exaustão
como paixões e amores
e a vida ainda fosse Verão

ao meu e ao teu coração
ver-te e ver-me nos teus olhos
é sentir ainda presença,
porque somos saudade
do amor que voa na proximidade

aproxima-te, aproxima-te e verás o mar
d'amor, que se espraia até nós
o tempo enche o ar d' aroma a jasmim
amar-nos-emos até ao fim!

natalia nuno

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

sou o tempo que em mim perdura...


só me restam poucas palavras por dizer
que ressoam em espaço fechado
e eu proponho-me a esquecer
mas fica uma ferida aberta
por tanto as ter amado

assola-me o frio
da noite deserta
sinto na pele orfandade e o medo
o peito aperta,
num instante sinto uma lágrima
que me procura

sou o tempo que em mim perdura
trago a memória da infância
interrompe-me a voz da água
e à distância, meus olhos calam a mágoa

a vida vai caindo cansada
no fundo bem fundo do meu ser
a ela me sinto agarrada
e vou vivendo, enquanto o peito
de ar encher

há palavras que se calam entre as tuas
que jamais  esquecerão
o amor e a tranquilidade 
para sempre vivendo como recordação
em harmonia lenta, com saudade!

natalia nuno


terça-feira, 23 de setembro de 2025

murmúrios da noite...





noites intensas
com o vento a rondar
rio de trevas, cresce a solidão
e, nem restos de sonhos a sobrar
a ânsia e a dor são agasturas,
reverdece a nostalgia no coração
das noites enluaradas de ternuras.

sou mulher sonhadora
entregue ao tempo, à chuva e ao vento
a vida me é devedora
da pele lisa que já não tenho,
de lembrar-me quem sou, e de onde venho

defraudados os sonhos surge o amargor
o frio da vida e do espelho, 
trago o rosto impávido de certeza,
a única coisa que resta são estas mãos,
com sua estranha destreza.

escrevo cada palavra com a doçura
que a saudade me dá de mão cheia,
sempre com lealdade e ternura
como se fosse abraço que me rodeia

não posso saber quando será a definitiva
neste mar fugaz que é a vida
por maior que seja o vazio, 
pelo tempo que perdurou em mim
ficará por certo, dentro do meu ser, perdida.

a memória leva-me ao eu mais distante,
enquanto a desmemória
- é meu medo constante!

natalia nuno
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parte de mim...



a solidão refugiou-se no meu peito,

 partilha comigo o tempo,

 acomodou-se, 

e agora passámos a andar de mãos dadas


emoções dentro de mim

dão conta da minha conduta, 

um dia me sinto demasiado nova, 

outro demasiado velha, 

e lá se vai meu equilíbrio, minha harmonia, 

aqui delinearei parte de mim, dia a dia

e escreverei do passado sem pretensão  

e estados de espírito no presente,

deste meu coração.


natalia nuno

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rente ao mar...

 



hoje o mar alterou-se, sabe-se lá porquê...

 ficou paranoico, avassalador, 

mas depois, deixou-nos a fúria

- de o amarmos em liberdade,

mais tarde passou-lhe a cólera 

e veio-nos beijar com paixão, e delicadeza,

e ali mesmo fiz um verso e foi o desvario

 

com frio,

nele adormeci o sol , 

coloquei cigarras a cantar nos canaviais

 e acreditei 

que era verdade o sonho que eu, o mar e o sol sonhávamos...


natalia nuno

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sexta-feira, 19 de setembro de 2025

ao tocar a noite...



lembranças ilusórias
que são ilusões sem fim
trazem histórias
destroem-me os dias
e os sonhos que restam em mim

sonhos poeirentos
turvos, sem luz
são pássaros aos ventos
amor no peito girando
- a saudade lembrando!

chega o inverno a meu sangue
débeis versos chegam ao fim
corpo de estremecimentos exangue
esfiapado o viver, a morrer em mim.

ainda a criança que sou
arrasta-se a criança que fui!
delas a melancolia se aproximou
e  assim a Poesia tristeza possui.

natalia nuno
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música de outono...

no patamar da noite

fecham-se flores no jardim

e eu recebo a SAUDADE em mim


esse preciso sentimento

que tudo torna presente

traz música de outono

 ao pensamento

e amortalha os ais que o coração sente.


na nostalgia da tarde, há rosas

que chamam por mim

lembranças sem fim, 

-ouço-lhes a voz!


e o silêncio torna-se profundo

a noite espreita, 

imensa é escuridão

minha vontade, numa esquiva hesitação

é  pássaro cansado da viagem,

sem asas, nem ramo

- onde se abrigar!


sobrevive a esperança do amor 

o poder tocar.

 

natalia nuno

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

quando o mundo pára...

há um brilho de vida

no olhar, quando falas de amor
na noite sempre se adivinha o desejo

e lá vem o calor, 

de mais um abraço

na boca o sabor, o sabor do beijo

no corpo o cansaço

o último estertor sai-nos da garganta

e um pássaro esvoaça na retina

tudo nos encanta, sou tua menina.


o tempo agrediu-nos, tanto devorou

mas o amor saiu ileso,  sobreviveu,

é lâmpada que não se apagou

 

natalia nuno

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palavras redimidas...



lá atrás ficou a juventude
abolida p'los anos
volto lá amiúde, em sonhos
para defrontar onde se meteu
minha euforia, minha alegria

à noite chegavam as estrelas
e os pirilampos do céu
no vaivém da nossa eira
as cigarras cantavam noite e dia
escondidas no trigo por malhar
a cotovia na oliveira se escondia
e o morcego que não dava sossego

tudo se enraíza na inquietude 
da minha memória
que saudade da minha juventude

na estrada o chiar dos carros de bois
e o pastor com rebanho logo depois

lá em baixo no rio
coaxavam as rãs
e eu, 
ouvia a melodia
ia longe, a noite de breu

na erva entrelaçavam-se as lagartixas
e nas árvores procurando pouso
os pássaros faziam rixas
logo a lua já me trazia o sono
e eu sonhava com ela no seu trono

fecho os olhos e ainda sinto
os aromas das flores de laranjeira
o voejar das abelhas nas cerejeiras

o sol crescia na ladeira
e um fervor ainda me alcança
tudo me chama, vive ama e canta
a alegria, a saudade, a criança
o ser inteira, neste sonho que criei
êxtase onde vivo e viverei

natalia nuno
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o que vira depois?...



perguntei-te outro dia

o que acontecerá aos dois

vivendo, sem mim vivias?

e o que virá depois?

talvez  juntos não caminhemos

talvez a vida imponha separação

mas de amor juntos viveremos

unidos pelo coração...

 

natalianuno

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sorrisos aos molhos...

nosso amor é loucura

é aroma que embriaga

que importa se é maior a ternura

doce prazer que nos afaga


é amor de perdição

pra mal dos nossos pecados

não quer saber da razão

traz-nos tão enamorados

 

este amor tão verdadeiro

que me traz assim tão louca

tem do alecrim o cheiro

o beijo da tua boca


vamos assim vida fora

trazemos sorrisos aos molhos

no silêncio desta hora

nos teus ponho meus olhos


amor que é mar embrabecido

que não se dá por vencido...

 

natalia nuno

12/2007

aldeia Sta Justa