sexta-feira, 9 de outubro de 2015

absoluto abandono...






o sol já se deita sobre os arrozais
os pássaros insistem em cantar
seus madrigais
mais um dia passa no calendário
da minha vida
um desafio de vencer ou perder
dias brancos de sombras e vazio
e a morte no meu encalço
de uniforme com galões dourados
olhando-me com olhos de cobiça
e raiva embutida
querendo levar-me a vida

magoa-me a sua frieza
caprichosa, de encanto estouvado
e a certeza de que irei protestar
ainda que debilmente
resistindo às suas investidas,
baterá inesperadamente
à minha porta
partirei sem animosidade
silenciarei em mim a saudade
serei o sol que regressa à fonte
a sombra ou a brisa que desliza

gaivota a caminho do horizonte...

natalia nuno
rosafogo




quarta-feira, 7 de outubro de 2015

o meu quinhão de céu...


o meu quinhão de céu


quem nunca teve a minha idade
escusa de demandar inutilmente
porque entre o sonho e a realidade
há caminho, longo mar existente

que venho da nascente a poente
criei asas que soltei ao vento...
asas e sonhos de tecido tranparente
e resignada, sobra-me ainda alento.

a alegria escondeu-se, é coisa rara
ou talvez dentro de mim...a tenha!?
mas se fugiu meu coração não pára

coração feito de sede e terra lavrada
e esta força remendada donde venha!?
é a força de amor que me traz regada!

natalia nuno
rosafogo



solidão crescente...



este poema traz palavras de sol
e delas nasce vida,
e há uma linha azul onde sobrevoa
uma gaivota sobre o mar
já se afasta, e o poema apenas a começar
mas a palavra é audaz e tanto lhe faz
vai continuar...aproxima-se a onda
molha-lhe o vestido, ai quantos sonhos
terá ela tido!?
menina, mulher, triste ou ferida?
desiludida, gélido o olhar!
e o poema a querer conquistar.

mas a palavra é um astro iluminado
e o poema prolonga-se decidido a ser partilhado
é a solidão crescente
e não há palavra que aguente
continua numa forjada procura
de querer alegrar a menina mulher
susssurra-lhe ao ouvido
mas é tarde, para ela já nada faz sentido.
deita-se na corrente, assim
não há poema que aguente.

natália nuno
rosafogo



outono da vida...



nem a fuga da luz, nem o último abandono
nem a sombra que não é noite nem dia
apenas a melancolia do outono
cria um vazio carente
que nos envolve de saudade
já nada acontece, só no olhar
as lágrimas são humidade
a mente jardim de memórias
vozes distantes, que nos golpeiam
o peito...
é outono, e as minhas artérias estão cheias
e o meu signo é perfeito...
vivo bem com a nostalgia
traz-me um odor a laranjeira
e a paisagem dos meus primeiros passos
e na névoa do sonho, os abraços
a luz e a força para continuar
com uma acha de ternura no olhar.

o tempo de outono embrumado
reúne os restos dum passado perdido
no silêncio que se distancia
cansado, muito cansado
mas lembrado dia a dia
continuo como um leito que procura
seu rio...a remendar a força
dos meus olhos tristes, choro e rio
e nem tudo é solidão!
assim, o outono me dá consolo e protecção.

natalia nuno
rosafogo