sábado, 11 de junho de 2016

réu de mim mesmo...




meu espírito poético,
aquele que vagueia como um duende fascinado,
ressuscitando a minha infância,
tocando o sonho e esquecendo a realidade,
ressuscita lembranças até ao esgotamento
e com elas traz-me a saudade...
só ele sabe falar-me do tempo
do tempo que conspira contra mim,
é este espírito, a luz que me olha assim
e que me faz esquecer
os dias
que me esvaziaram os olhos,

e num esforço palpitante, 
num chamamento ofegante
pega-me na mão e dita-me o que escrever

sede d'amor, dores, alegrias
uma e outra vez
até a carne me rasgar
e eu num silêncio de pedras
escrevo até cansar...




natalia nuno
Lausanne 05/06/2016

poema indizível...



nesta hora frouxa nada perdura
será que tudo foi em vão?
o amor a ternura,
tudo não passou de ilusão?
cantarei  a saudade dobrada
alegremente, solta, embora insegura,
a cada dia dos que me resta viver
adornada de amor e dor, amuos,
no peito às vezes dureza e amargor,
farei nascer suave balada
balada de amor.

trago comigo a força do mar
não deixarei  nosso amor abrandar,
chegou a hora, o momento fadado
para fazer falar, 
esse teu olhar calado...
abre-se a nossa manhã com um arrolhar
de rolas...
na noite deixei as estrelas e a saudade
a crepitar no coração
deixei-me de desvarios, já não me sei
só sei, que atei o meu destino ao teu,
perdi o tempo, avanço por degraus na penumbra
no fundo da obscuridade
surge uma luz,  e no meu ser ainda vivo
há pulsações de saudade.

natalia nuno
Fussen, 08/06/2016