sábado, 1 de julho de 2023

poema está tenso...



o poema está tenso
à espera de ser iniciado
quer ser água livre
percorrer o aroma frondoso
das margens do rio,
que em mim vive, e corre,
e o momento estrondoso
da chegada ao mar...e aí morre!

quer ser testemunha
do que resta do meu mundo
silencioso e profundo
a borbulhar de imagens
quer saber dos meus pássaros
das lágrimas, dos sorrisos
e das paragens
que faço pelo caminho
que se estreita e me estreita
e me leva do ninho.

natália nuno
rosafogo

sexta-feira, 30 de junho de 2023

um sonho indelével...



aliso o cabelo
de chuva e de ventos
e quem sabe despenteie 
meus pensamentos,
e neles o que me dorme

talvez fique conforme
o modo de recordar-te?!
o amor me leva ao sonho
onde o tempo sem me dar tempo,
provoca o esquecimento de amar-te

fica a vontade abatida
e os pensamentos em pedaços
cerca-me a noite, e adormecida
sonho ver-me de novo em teus braços.

natália nuno
rosafogo


quarta-feira, 28 de junho de 2023

tanto bate à minha porta...



a tristeza chega como quem 
vem dum outono.
trazendo uma sombra que se fixa
no olhar
sombriamente, fica
o sonho ao abandono

a tristeza é um sentir 
que rasga o silêncio
e rompe meu rosto frio
um tremor  humano deixa
cair-me no vazio


a tristeza vez alguma me conforta
é cega e implacável
- e tanto bate à minha porta!

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 27 de junho de 2023

companheiros nas noites...



quem são nas noites
meus companheiros?
a chuva e o vento
e as vidraças embaciadas,
os velhos candeeiros
e as velhas fotos desbotadas
um relógio que já não dá horas
e uma inquietante ansiedade
rostos do passado que me olham
com saudade...

pensamentos a subir e a descer
rondam condenados
ruas intermináveis da mente
minhas mãos a escrever
o que o coração dita, e o que ele sente

e minha insónia que não quebra
mais distante um sonho
já esquecido,
senta-se de novo a meu lado
e assim a vida tem sido
este sonho ensimesmado.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 26 de junho de 2023

tudo é plenitude...





hoje ouvi o canto quebradiço
dos grilos, na ladeira
já a sombra ameaça, a fogueira
do sol que abrasa.
agora é doce a cadência da brisa
traz o perfume do eucalipto
tudo é plenitude
tudo quanto a alma precisa

alcança-me a flecha da lembrança
banho-me nas águas no açude
sou de novo criança
e o  tempo fugitivo
a criar em mim inquietude

vai vem de sombras outonais
multiplicam-se no pensamento,
brincos de cerejas e outras coisas
mais,
uma ânsia de ternura,
um estado de frenesim

e o mar da noite em mim. 

natalia nuno
rosafogo