quinta-feira, 22 de outubro de 2015

entre o sonho e a realidade...


clareia o céu
prenúncio do alvorecer
canta o galo, despertando
as sombras da noite com seu clarim
rasga-me as pálpebras cerradas
a mim, e afirma que é dia
dia de romaria, e sem sono
já com a chávena de chá a ferver
me abandono... e tudo vem à imaginação
tudo invade minha privacidade
a mente e o coração
deixando-me na saudade.

lembro a impetuosidade
dos beijos dados
em sonhos guardados
e fico a flutuar com a mente desalinhada
bebo o chá agora morno
e à realidade torno
e do sonho não resta nada...
sinto-me folhinha ao sabor
da tempestade
os olhos são dois postigos iluminados
e na turva memória a ansiedade
de lembrar desse amor
que me deixou saudade.

e o galo cantou
em mais uma madrugada
em mim? nada mudou!
mas eu, sinto-me mudada.

natália nuno
rosafogo


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

escolhi ser assim...






escolhi ser assim,

depois de tantos anos
que passaram por mim,
nada da minha vontade me afasta,
se eu pudesse,
ou tivesse o poder de fazer acontecer,
acabaria com a falsidade
e a crueldade
e os corações rudes tocaria
com amor, gentileza e cortesia.

escolhi ser assim,

talhada de orgulho que não se rende
que avança impetuosa e tenaz
que se perde e afoga na palavra
metade é guerra outra metade é paz
sou a que não entende,
o eco do que já não existe
a que procura dignidade na queda
no pulsar que em salvar-me persiste,

escolhi ser assim,

e o que sobra é por fim
a lágrima persistente
febrilmente estrangulada
e no fundo da memória,
uma chuva ressuscitada
que é felicidade livre
que o coração inunda.

natalia nuno
rosafogo












Muros do esquecimento




já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
só a solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.

nem que seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente mais uma lembrança
que irá colhendo... uma a uma
com paixão,
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
a memória será espelho partido
pássaro solitário, silencioso,
virá o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
um sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
como vestígios de vivências estremecidas.

natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

já nada tenho...



fugiu-me últimamente
não sei porquê,
entreguei-me  à tristeza
esqueci a alegria
a tristeza me retém permanentemente
numa inquietação sombria
ao mesmo tempo numa doce melancolia.
e nesta minha solidão
só os gorgeios são o barulho do meu
silêncio, e os pássaros que cantam
nas franjas dos arvoredos
fazem com que esqueça meus medos.

já não vejo mais nada
nem penso seja no que fôr
a vida tem um gosto amargo
depois de anos vividos
resta do rosto o suor
e da mente os sonhos quase todos
perdidos...

olho as últimas corolas alaranjadas
balanceiam suavemente ao vento
e as folhas secas pisadas
como meu brutal tormento
só as palavras não têm algemas
e entre os vivos têm sempre lugar
enquanto eu prisioneira,
vou escutando meu lento desagregar.

natális nuno




Amanhecer no campo



Dormem ainda as plantas
enquanto a lua resplandece
e desce, sobre a terra desce...
Angustiado o salgueiro chora,
aguarda o alvor, o amanhecer,
a hora de se rever
nas águas do rio que alaga a
margem...
Este rio com coragem
que segue em frente noite e dia
leva pressa no andar
é velha sua valentia
é ardente seu cantar.
Abre-se o dia
passam nuvens nos céus
como é bela a criação de  DEUS!
Acordam os pássaros nos ramos
vão atravessando o espaço
estremece a terra inteira
brilha já o sol na eira
gorjeios ouvem-se nesta manhã
de primavera
perfeição verdadeira
que não se perde com o tempo.

natalia nuno
rosafogo






quero estar contigo




Quero estar contigo
e sentir que estás comigo
na alegria de me amares.
Sentir-me numa bebedeira de chuva
sentir o travo fino da uva
esquecer do céu  trovejares,
fazer a hora durar
o amor perdurar
da memória não perecer.

Que a tua boca fique sedenta
mesmo que o sonho possa quebrar,
teus olhos felizes a gargalhar
e dentro dos meus o sol aceso
perdida nos teus braços
nesta noite infinda
esquecer do tempo o peso
Tempo que nos deixa ser ainda
eu e tu!
Quando nada restar
e se instalar o ruído da solidão
o amor sobreviverá
à morte do coração.

natalia nuno
rosafogo