quarta-feira, 15 de agosto de 2018

secam os goivos no jardim da horta...



sem fala com garganta a apertar
sigo em frente, ergo-me da solidão
e deixo-me desaparecida, vou então
tão longe quanto a minha memória
pode recuar...
provida de esperanças
albergo o sonho no coração
e a menina abismada
que caminha incerta, dá-me a mão.
numa solidão só sua,
encoberta pelas romãnzeiras
e seguida pela lua neste momento
que invento...de novo
volta a ser, a menina do povo.

deixa-se impregnar desse mundo
onde nada mais sabia, além
do que dizia o pai e a mãe
embalada pelo som do rio
olhando-se na corrente
- lá fica entre sempre e agora
numa ída e volta, lá onde o sonho mora

secam os goivos no jardim da horta
ai de mim, que o sonho é já tão baço
minha gente está morta...
chora o salgueiro quando por ele passo
no celeiro já não há nozes,
nem grãos de trigo ou cevada
estremeço ao ouvir-lhes as vozes
na noite pela calada, partiram,
- tudo agora é nada.

estas memórias guardadas
que às vezes penso esquecidas
são lágrimas dos olhos molhadas
são sorrisos e tristezas de chegadas e
partidas... de partidas e chegadas.
na terra onde nasci meu sonho já entardece
e meu coração estremece
o que tive, a memória não esquece,
mas já se esfuma...
que siga eu sempre em frente,
que terra pra mim só há uma,
aquela com que ainda sonho

natalia nuno
imagem da internet
pintarest







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