as ruas da minha memória
eram de terra batida, chovia
ainda recordo o cheiro a terra
desse tempo de nostalgia
tudo incrivelmente distante
brincávamos na rua
vivíamos sem medo
a aldeia era minha e tua
e a amizade o segredo,
banhávamo-nos no rio
para aguentar o calor de verão
e no inverno à lareira vencia-se o frio
café ao lume, fatia de pão
na mão...
ouvia-se o vento
enquanto a tempestade passava
e com Deus no pensamento
pedia-se em oração
e a tempestade amainava.
tudo era simples assim
o pai tratava da horta
e a mãe dos filhos e do jardim.
havia fotos penduradas
na parede
antepassados que não conhecia
olhava-os dia após dia
«dali ninguém os arrede
que à avó são familiares
tios, avós, pais, e netos
ali nas fotos aos pares»
tempos de poucos afectos
de reprimidas emoções
de sufocados desejos
também de desilusões
alimentando-se ansejos
mas recordar me alimenta
guardo sempre esta vontade
e nesta manhã cinzenta
de silêncio vazia, chega a mim
a nostalgia
tudo lembro com saudade.
natalia nuno
foto do pinterest
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