almas penadas...
pequena prosa
falta apenas um passo para que o sol caia no mar, o céu está dum
azul transparente, sem uma nuvem, apenas uma brisazinha a lembrar que ainda estamos
em abril, nos montes as giestas estão em flor e a urze negra parecendo
envernizada com florinhas brancas despontando, um ribeiro vai cantando, vem
serpenteando por entre os freixos e medronheiros como se tivesse pressa de
chegar a qualquer lugar ou viesse a fugir de qualquer coisa, mais ao longe um
rebanho enfeitando a paisagem, as árvores agarram-se à terra com raízes
fortes, ostentam galhos novos e folhas no seu verde esperança avisando que a
primavera está por aí… também a passarada jorra a sua sinfonia, e outra bicheza tal como as perdizes perdidas
nos matagais procurando com ansiedade correr os campos ágeis e felizes, é hora de pensar na prole de procurar um esconderijo onde os
pequeninos seres possam nascer sossegadamente sem perigos, as carriças fugidias assustam-se com pouca coisa e escondem-se no caniçal, nas silvas e tojos
andam os insectos numa roda viva, alheios a todo o resto. O entardecer vai
ficando cada vez mais escuro, já se ouvem os guizos das ovelhas que retornam ao
curral, ouvem-se os sinos tocando às orações da noite, os carros de bois rangem
estrada fora de volta à aldeia, e na encruzilhada ouvem-se passadas e vozes
baixinhas, dizem ser almas perdidas, penadas, almas do outro mundo que vagueiam
sem que se saiba porquê… a noite traz a sua magia e a quietude, assim como a
certeza dos sonhos, e a esperança num mundo melhor...olho com lentidão o horizonte e ouço bater o coração e no assombro do momento tudo me parece realidade mas, é só a saudade.
natalia nuno
rosafogo
2 comentários:
Oi Natália
Ao ler o seu conto tão bem delineado retratando a paisagem rural transportei-me para a infância e ao findar a leitura a dor sentida de uma saudade que corrói o coração
Lindo mas de uma tristeza deveras tocante minha amiga
Beijos e lindos sonhos querida amiga
Como agradecer-te Gracita, és uma gentil a amorosa amiga de quem eu gosto parece que te conheço desde sempre. Pois é a saudade que hoje ao olhar os campos primaveris, me assola, mas a vida é assim mesmo, eu adoro escrever sobre o campo, foi lá que nasci e cresci e não é fácil deixarmos de ser aldeãs.
Beijinho com muito carinho amiga
obrigada pela visita.
Enviar um comentário