quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

pálidas sombras...




as paredes antigas fascinam-me... ninguém, nem o tempo consegue tirar-lhes o ar misterioso, guardam segredos dos que perderam o norte, deixando saudade, ou quem sabe sabor amargo com a sua ausência...parece que alguém aguarda por detrás das janelas ... quando as olho, consigo abstrair-me da realidade... quando a chuva cai do céu e o vento não cala, mantêm-se nelas as cores sombrias duma primavera empalidecida, resta o sol na memória de primaveras risonhas dentro das quatro paredes... fico no sonho, o outono cala as minhas sombras, desespera por cobrir a solidão que se faz sentir no meu peito, apesar da beleza, a folhagem vai caindo como um pranto ao acaso e sem medo é levada pelo vento norte à sorte...as folhas são lembranças soltas, virá de novo a primavera dar-se-à o renascimento, só a vida não volta....as paredes sombrias ainda de pé, choram de solidão, calam a saudade dos que partiram...ouve-se o lamento e o som dos meus passos buscam em vão!


natalia nuno
janeiro 2010


a solidão me sobra...



sem palavras nem sonhos
esvai-se a vida como rio 
que se afastou da nascente,
não me amo inteiramente,
sinto o coração vazio!
trago as palavras silenciosas
já meu rosto não me reconhece
nem os dedos cantam quando escrevo,
nem abrem no meu peito as rosas.
quando o dia anoitece,
em mim a noite se dobra
e a solidão me sobra.

levo a boca perfumada dos teus beijos
no coração a leveza do vento
e os desejos no olhar desatento.
quando tiver gasto o último olhar
ainda assim hei-de sonhar,
e chamar por ti na minha solidão
o inverno não será a última estação
nenhuma fonte morre enquanto 
a água corre...
assim será em meu coração,
esqueço os passos do medo,
e levo o tempo a amar-te em segredo
meus dedos já não escrevem saudades
despiram-se de palavras saudosas,
nem aves cantam nas tardes
nem abrem no meu peito as rosas.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

um pedaço de mim...

 

já o sol envelhece
desce devagarinho sobre o horizonte
cauteloso, como se fosse um pobre indigente
já não tem a força de gigante
com que os frutos amadurou
veio o inverno e num instante
umas lagrimas soltou.
nasce agora por entre ramos nus
fraca é sua luz.
também minhas alegrias não sei
onde as deixei,
o cansaço e a viagem me tolhem
e meus olhos antigos, não há dia,
que meu rosto não molhem.

falo de esperanças e madrugadas
para esquecer a solidão
lembrar as coisas passadas
e as que virão, 
para não me sentir só
e de alegria gritar sem sentir
na garganta um nó
que o sol que envelhece no poente
agora quase branquinho como o algodão,
volte a sorrir bem quente,
e me tire da solidão.

natalia nuno
rosafogo

sei de mim...




o pensamento assegura-me um mar de sonhos, com aromas arrancados de vermelhas rosas, e nas sombras das palavras, viverás para sempre nas areias desse mar, hei-de despir-te com a ponta dos meus dedos e, nesse instante de fogo, quero-te na inquietude desta minha sede, quando o sangue brota e o coração pulsa...há begónias que florescem na minha saudade, e açucenas tristes que olham meu rosto,  trago teu nome escrito no meu peito, quero um abraço forte e tudo o que vem de ti aceito... diz-me o pensamento que te  mereço, mas sem um mar de sonhos, enlouqueço! solto um grito de verdade, quero morrer, renascer e voltar a amar-te, para de novo te perder... nesta magoada saudade.


natalia nuno

sábado, 26 de dezembro de 2020

nostalgia...



Nostálgica, talvez porque vai terminar mais um ano, coisas minhas...Hoje apetecia-me ler cartas de amor que nunca me escreveram, que me rasgassem o peito de saudade e cobrissem meus olhos de água, me lembrassem que já foram meus olhos verdes, p'los quais andaram apaixonados...dado que já me esqueço uma vez ou outra..mas nem o vento vem falar-me dum poema onde fui notícia, nem que fosse o derradeiro! Hoje, queria que o sol descobrisse meu endereço, me deixasse confessar-lhe meus sentimentos, fizesse parte da minha solidão, e, me trouxesse de volta os dias felizes, amanhecesse de novo a minha vida... Aprendi a fugir da realidade, embora pareça leviandade, para mim é um impulso de bom senso, deixo-me num mundo mágico onde eu e a poesia desfrutamos do aroma dos cravos e das rosas...Não me deixo derrotada! O poeta é um ser inconstante, ora está feliz, ora não, entra em contradições constantes, mas seus dias são preciosos e necessita sonhar nem que o sonho por ventura não se realize nunca...É assim que me sinto!

natalia nuno

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

palavras do vento...




fala-me o Outono com palavras de vento a estremecer as folhas, diz-me que é amor de verdade quando me olhas. talvez insista em conversar com os sonhos de onde me vem um gosto doce que me entra no ermo da alma, talvez regresse a felicidade e nasçam acácias no meu peito, talvez que se apagasse esta saudade que vai e volta e não tem jeito. silenciosa é a noite que hoje vem suave, quem sabe cresça a chama entre nós e eu seja de novo flor no ramo, ou ave que poise na tua mão e redescubra o teu coração. sinto-me viva ao toque das tuas mãos quero viver assim...com o meu olhar no teu ainda que o tempo dos sonhos acabe, eu vou sentir-me essa flor no ramo, ou ave num ninho de folhas de amor, tendo o céu cintilante como cobertor, e o amor a acontecer a todo o instante. 

 rosafogo
 natalia nuno

silenciosa despedida....



na brancura desta página
surge uma estrela que me encandeia
e um desejo infinito que o coração
me ateia,
escrevo com palavras de fogo
sonho-te em cada uma delas
e a noite soletra comigo teu nome
vejo sombras para lá das janelas
e sinto do teu amor sede e fome
choro por dentro, silenciosa despedida
e como ave de asa partida
sofro indiferente na solidão,
diluo-me inteira numa flor de melancolia
e escrevo meus versos mais intensos
do fio da noite até ser dia

branca era esta página
nela procurei a imagem da minha face
espreitei sem ver, para poupar
meu coração, e indiferente sofri na solidão
fiquei a tiritar pela esquina
do  poema, e a perguntar-me por aquela menina,
que jamais regressaria ao calor do meu olhar
trago a esperança pervertida
choro por dentro, 
numa silenciosa despedida.

natália nuno
rosafogo


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

amar-te...



amar-te é uma doença sem fim,
neste rumor de outono
perco-me a tecer poemas de saudade,
sonho contigo noites infindas sem sono
lembrando nossa cumplicidade.
as minhas tardes são de silêncio vestidas,
de  memórias, na memória consentidas
amo-te inteiramente, fico na saudade
de ouvir a tua doce respiração
e o som do tumulto que vai em meu coração.

amar-te é trazer-te abrigado no peito
é não querer nunca este sonho desfeito,
o teu perfume odora meu pensamento
passo o sonho inteiro nos teus braços
deste sonho me chega o alento
esqueço a idade na entrega dos abraços
fico a olhar as águas do rio, e
na fragilidade trago a vida por um fio, mas,
ainda ardo de afectos e meu céu
de azul se ilumina de mil estrelas, 
o sonho parte mas eu,
vejo-me ainda menina...
sonho nestes meus versos de adolescente
com  delírios e beijos trocados,
dobra a tarde vai o sol no poente
segredos nossos a ninguém segredados.
sabe o destino ao que vim!
amar-te é querer-te mais do que m' quero a mim.


natalia nuno
rosafogo

domingo, 20 de dezembro de 2020

Natal

A todos os os visitantes deste Blog, desejo um Bom Natal, que sejam contemplados com saúde amor e paz. O amor e a amizade são os melhores presentes para se oferecer, nesta época de reflexão que os bons sentimentos habitem os nossos corações...




sábado, 19 de dezembro de 2020

senhora de nada...



sento-me no chão
olhando o espelho das águas
e na minha solidão,
na bagagem levo mágoas,
vivas no coração.
trago na sombra da memória
os passos que dei em vão,
e no rosto perfume da tarde perfumada,
enquanto aqui sentada
acaba meu tempo lentamente
não sendo eu, senhora de nada!
o sol na seara é ainda quente
e o vento  perfeito, no peito
vive o amor somente.

abrigo-me à sombra do loureiro
lembrando ardente paixão
daquele amor primeiro
inquieto em meu coração

e a respiração se altera
cai a folha e o meu olhar se esvai,
sonho o amor... ai quem dera,
sonhar e não acordar.
treme o sol no meu sorriso
desarrumou o meu juízo,
no chão quando me sento
mil e um sonho invento,
mas a vida acinzentou.
agora, já não sei quem sou!

natalia nuno
rosafogo



sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

morro por dentro...



envolvo meu olhar no azul celeste
e sonho com tudo que me deste,
a seguir à tempestade, 
o apaziguamento ficou,
a saudade deixou, na liturgia
lenta do vento. que a trouxe ao meu coração
e ao meu pensamento.

morro por dentro!
- é feroz a solidão!
a liberdade abandonei-a na rua
pouco ou nada dela sobra
anda o luar a fugir da lua
e a vida os passos me cobra.

guardo em mim mais um poema
triste, duma saudade, dum adeus
eco que em mim persiste,
lágrimas minhas, sonhos meus
palavras esquecidas,
pela vida consumidas 
numa sonolência entre o que fui
e o que sou,
e só saudade ficou.
desmaia a manhã, é agora tarde
lembranças trazem-me serenidade
a vida de novo viveria,
com os mesmos sonhos que esta
me prometia...sonhos que sinto em mim!
que outro sentido teria
se a vida não fosse assim?


natalia nuno
rosafogo

domingo, 13 de dezembro de 2020

olhos de menina




meus olhos parecem ainda de menina
mas só eu os vejo assim,
já neles cai um inferno
de solidão fina, sem fim.
minha alma é ainda nova
meu corpo pronto a ir prá cova
invento palavras para te dizer
da minha saudade,
que começou e há-de acabar
quando eu morrer.
saudade, daquele amor de outrora
aquele amor que parecia não ter fim
que só nós soubemos amar assim.

nos degraus que vou subindo,
com este meu passo incerto
vai-se me a vida descaindo,
se não te tenho por perto.

de viver és a minha razão
mistério em que eu persigo,
com olhos de menina dou-te a mão
sem ti seria o dia meu inimigo

poiso os olhos no teu sorriso
para ser feliz, é tudo o que preciso.

natalia nuno
rosafogo


fecho os olhos...

                                                    
                                                    

                                  a saudade chega sempre a qualquer hora
e as memórias fazem em mim o ninho
fecho os olhos e lembro todo o caminho
é bom recordar e sonhar, vida fora!
se a saudade me abandonar
fico não tendo mais nada,
saudade é poder lembrar
por quem um dia fui amada.
tudo trago no peito guardado
para nunca a falta doer
só consigo ser feliz assim
lembrar quem nunca esqueceu de mim.
minhas mãos vazias
ainda hão-de escrever
dificuldades e alegrias.
resta-me apenas o que sou
conquistei a felicidade
e hoje trago no peito...Saudade!

natalia nuno
rosafogo

num dia cinzento...



hoje sou solidão
aquela solidão que dói no coração
hoje sou apenas um pedaço de solidão
vazia e sem chão
feita de vidro pronta a quebrar
sem lugar certo onde me sentir bem
hoje sou solidão, não quero nada
nem ninguém
não me tragas flores,
nem me fales de amores
trago no peito vazios
feitos de mármore, frios
onde não me encontro, nem a mim
nem a ti
deixa as flores por aí
hoje não, porque sou solidão
sou memória que ainda vive
aquela que sonha o sonho
que nunca tive...
trago força e esperança
mas a vida é só lembrança
a felicidade já pouco bate à porta
quer entres ou não!?
hoje sou solidão, sinto-me morta.

natalia nuno
rosafogo


sábado, 12 de dezembro de 2020

na nobreza das tardes...



domingo era findo!
chegava a segunda-feira
e ao entardecer acabava eu de nascer
era janeiro, esse mês primeiro
tempo de guerra, tempo de morrer
nascia eu na pacata terra
quando o rio galgava as margens
o vento assobiava nas ramagens
do salgueiro, a ponte tremia
tempo cinzento saí do ventre era meu dia
o primeiro, uma criança é sempre sinal de esperança
os sonhos logo ali me povoaram
trazia amor para dar e logo me amaram.
aos meus ouvidos a chuva batia no telhado
logo despertam meus sentidos
ali fiz a primeira poesia, era meu fado.

os sinos repicavam avé-marias
todos os dias, na nobreza das tardes
e as crianças em correrias
no seu universo imagínário, viviam  
suas verdades...
traziam a aldeia apertada ao peito
também eu ainda a sinto, mesmo ausente.
não há outro céu azul!
nem outro tão belo sol-poente.

trago em mim esta nostalgia visceral
ouço o salgueiro chorar, e o vento
no canavial, saudade do velho açude,
do moinho, da horta, das flores da mãe
da liberdade, de ser eu de verdade.
tudo ao tempo resistiu,
a ponte, o salgueiro e o rio
e até a menina de cintura fina
e pescoço esguio
parecendo flor, continua a sonhar
na sua memória ainda há grilos a cantar
figos na eira a secar, tanto cansaço e á terra amor,
com a frescura do orvalho vai trocando rimas
sempre a nascer,
até um dia de si mesma se perder.

natalia nuno
homenagem ao lugar onde nasci.


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

lágrima a secar no rosto...



cheira a liberdade e a ânsia de vida
o sol nasce e jaz nas minhas janelas
passam andorinhas e ao ver-me recolhida
voam, e eu vôo no sonho com elas.
sonho-me em campo de trigo em terra distante
grão fecundo ali no meu chão amante
grão de silêncio que vive em mim 
a liberdade de sonhar me mantêm viva
neste amargo mar que me agonia e não tem fim.

asas me prendem, sinto-me cativa
sinto o corpo hirto ao fim do dia,
vem a chuva molhar a minha face
e é minha única companhia.
o amanhã surge sem garantia
a vida de tantos dias tão cheia,
que já de lembrar me esqueço!
oculta ferida que sangra em minha veia
nada que eu queira, mas de que padeço.

tempo sem feição traz-me desmemoriada
sinto até que corro perigo
sou folha seca caída, ao chão desamparada,
com a ilusão de ainda viver, mas já sem norte
onde a morte é medo e o sonho é nada.

natalia nuno
rosafogo



segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

poema enfadonho...



hoje comparei-me ao sol que envelhece
precocemente, já não o vejo sorrir,
haja astro, e haja gente
que me sorria sem ter de pedir.
o meu silêncio está de passagem
nem pensar em calar mais um pouco
urgente o vento e sua aragem
para levar este tempo louco.
hoje até a lua está desatenta
não quer nem saber,,
se meu coração bate ou não!
chegou antes do anoitecer
sentiu-se só,
e eu na minha solidão
tive pena dela, meteu-me dó!

vivo a contar os dias
a cruzar a escuridão
de manhã é cedo demais, de tarde é tarde demais
vou sussurrando meus ais
vazio está meu coração.

andam nuvens a rasar os telhados
na rua não se vê vivalma
vivem os velhos fechados
e os novos a perder a calma,
desapareceram os melros
que brincavam no jardim
oh meu Deus que é dos melros?!
que é de mim?!

este tempo tira-me o chão
vivo de anseios vãos
meus versos são andorinhas
perdidas em minhas mãos
pobre de mim
- e das avezinhas.

natalia nuno 
rosafogo

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

embalo o sonho que me resta...



pergunto-me se as coisas podem ficar melhor
porque a palavra não me sai redonda
aqui onde não acontece nada
a vida é maré sem onda,
em vez de redonda é quadrada.
o corpo vive num tormento
na armadilha do tempo,
na prisão dos passos
não há gestos d'amor, não há abraços
o tempo vai vertendo cansaço
retirando à esperança, sempre mais um pedaço.

o porvir é agora uma gargalhada 
palavra redonda corroída, quadrada
é a vida!
na esperança dum abraço ou um pouco
do fogo do amor já quase extinto,
brasa apagada...para sempre perdida!

não minto... hoje a palavra não sai redonda
porque me sinto maré sem onda
é a vida a desdenhar-me?
«há tanto ainda por descobrir e aprender»
a luz do dia, é ainda menina a abraçar-me
olha-me o poema com medo que vá esquecer
onde não estou mais, e de onde parti com dor
numa manhã de primavera, 
com laranjais em flor
e o amor à minha espera.

natalia nuno


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

um rumor vivo...



que procuras tu de verdade 
com essa tua linguagem saudosa?
perdes-te na saudade
e vais morrendo como rosa
que na jarra passou da idade
é frágil tua palavra pronta a morrer
para quê dares-lhe continuidade?
nada és, nada hás-de ser!
como é pequeno teu mundo de ilusão
só a saudade é tua companheira
nesta morte adiada, 
que aos poucos te leva o coração

que procuras então?
se nada acontece, se a esperança já
esmorece,
um golpe de sorte?
como é frágil a tua palavra sem fulgor
disfarças o medo da morte
e a cada instante a saudade no teu 
pensamento faz rumor.

tens um sonho diferente, labareda
que se esfuma 
vives a cruzar a mente, como aguaceiro
que atravessa a bruma, sem alcançar
o sonho, atada a ti mesma, enclausurada
vives uma morte adiada.

natalia nuno
rosafogo


domingo, 29 de novembro de 2020

poema sem coração...



dentro de mim mesma rebusquei
um pouco de claridade qual milagre,
pra esquecer a solidão
em que na escuridão me tranquei
flor mirrada, ressequi ao acabar
o verão.
não me procurem na poesia
que ganhei asas e parti desta monotonia,
quero ir além dos sonhos onde nunca vivi
quero ser como o orvalho que se deita
livremente na relva, acariciando
quero ser o vento silvando,
que a minha força se erga outra vez
quero ver o cintilar da luz na água
e depois talvez, esquecer a mágoa
sou um ser inquietante no poema
as metáforas, rasgaram-me a emoção
não quero ser eu o tema
dum poema sem coração

ponho as mãos em descanso
e às letras dou liberdade
na direcção além do sonho avanço
deixo fluir a saudade.

natalia nuno
rosafogo



voltar a sorrir...



a saudade tem sempre uma lágrima
às vezes feita de mágoa que a enfeita
mas no coração sempre ela se ajeita.
trago a saudade ainda a chorar
da vida e do tempo da juventude,
trago-a na memória a ecoar
o choro que vai no coração, amiúde.
sonhava eu enternecida,
sonhos rosa, plenos de ventura
pensava ser por toda a vida
que a vida, assim vivida
eu tinha segura.
embalada num sonho empolgante
meu viver era pura singeleza
como tudo ficou longe,
- bem distante!
sem certeza, vivo agora da esperança,
e o sonho imenso é agora vago
dentro de mim sonhando a criança
e o sonho dela, que não apago.

«na cálida tarde a luz reverbera»
partem os pássaros sem se despedir
voltarão talvez na primavera
e no teu abraço ensurdecedor, ainda
hei-de sorrir.
debaixo deste céu cinzento
a memória move-se livremente
o pensamento vagueia por um trilho apagado
difícil é trazer a morte na mente
e o coração de sombras devorado.

fico procurando a minha paz
«na cálida tarde a luz reverbera»
com asas de pássaro ainda sou capaz
de chegar saudosa, à próxima primavera
deixarei as minhas angústias morrer
a saudade de novo me fará sonhar
o sonho, de criança antes de adormecer.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

conciliando a vida...

 

hoje estou como as águas do rio
numa manhã calma,
calmo está meu coração e minha alma
o tempo vai mudando a sorte
e ninguém sabe quando o vento
virá de norte...e trará meu desnorte.
hoje escrevo sem saber porquê
olho a nuvem que passa, só ela me vê!
podia falar de solidão, de sonho ou de medo
mas o dia é risonho, e eu, o atravesso
de olhos bem abertos, e esqueço
esse pesado fardo que me suga a alma,
trago em mim uma erupção de sentimentos
um silêncio abrandador me  acalma.

são muitos os nós do esquecimento
mas há lembranças que se sobrepõem
com luz, que eu não deixo apagar
vivas, no limiar do peito, onde a treva
ainda não entrou, e não me leva
ao desespero.
aguardo e, como árvore que floresce
fico na esperança que a primavera regresse
um pouco, a este amargo outono.
hoje até o amor que andava vago
no crepúsculo do coração,
voltou sereno como um lago
com vontade de cantar as folhas ruivas
caídas ao chão, 
lembranças antigas tocar-me-ão
tudo me será familiar, então, valerá
a pena sonhar, com o que ficou lá atrás
entre os limos da memória cansada
e procurar ser feliz até ao fim da estrada.
o tempo o corpo devorou, como se me ferisse
mas eu ainda aqui estou,
a vida vai adiando a descida, 
risonha como o sol que incendeia a manhã
assim estou, porque o amor não se apagou.


natalia nuno
rosafogo

domingo, 22 de novembro de 2020

doce ilusão...

 



o anoitecer trouxe um tom alaranjado, 
faz-me imaginar o inimaginável,
alarga a imaginação e até mesmo o coração
nas jarras há flores que choram
num pranto sentido
olho-as com uma expressão vazia
chega a noite, vai-se o dia.
com a respiração suspensa, num inventário
de recordações, mantenho-me embrenhada
na teia duma vida passada.
agora já tudo é escuridão 
as estrelas pontilham o firmamento
uma rosa vermelha cai ao chão
à vida um enaltecimento
por tudo que lhe dera, até a doce ilusão
de ser Poeta.

abrando os pensamentos de lembranças
penosas, e  com o olhar fixo e sombrio
olho as rosas, nas jarras, neste silêncio
devastador, lembro noites prenhes de intimidades
e amor... despertam em mim saudades
aquietando tudo o mais!
lembro as cartas d'amor, atadas com fio de juta
cheirando por demais, a tristeza e alfazema
algumas escritas e não enviadas
comunhão de sentimentos, em noites consteladas.

hoje os dias têm pouco significado
mais parecem devastados p'lo vento
ninguém sabe quando a hora do crepúsculo
lhe corta o pensamento.
as minhas mãos já não colhem rosas, nem molhos
de alecrim, apaga-se o dia
começa a noite em mim...

natália nuno



surpresa...

Poesia que me dedicou um estimado amigo, João Raimundo, brilhante Poeta.

 RESPIRAR POESIA XXIII

*
a sonhar se fez Mulher
Natália como uma flor
em cada poema constrói o Ser
em cada verso renasce seu valor
jrg

domingo, 15 de novembro de 2020

resta viver de saudade...



o sonho é vã quimera
à espiga murcha se assemelha
tenho a velhice à minha espera
quem lhe disse 
que queria ser velha?!
miragem e sonho meu
diz-me que não é verdade
que nada aconteceu,
no rosto, apenas trago  saudade.

as árvores ficam de pé
e eu não quero cair ao chão
morrerei se não tiver força, nem fé
brinca o sol no além e eu sem ele,
no coração.

trago minhas mãos pesadas
das linhas que nelas correm
dos anéis andam cansadas
hão-de morrer, 
eles não morrem!
olho antigas fotografias
nas quais eu sou tão jovem
e é certo que nestes dias
com saudade, meus olhos chovem.
enxergo raios de luar, mas vejo meu rosto triste, 
já não sei se sorri ou não
só sei que no peito, ainda bate o
coração disposto a amar.

espio o fundo do meu ser
para ver se resta alguma vontade
de alma vazia, não quero viver
resta viver da saudade.

natalia nuno



julgo entender, ou talvez não!



esvoaça louco meu coração
partiu, para onde não sei!
só sei que de amor sofreu desilusão
mandei que ignorasse o amor
e de novo me enfeitei
esqueci o amargor
logo outro mor encontrei.

guardei-o só para mim
tapei-o com folhas de outono
assim chegados ao fim
apenas teria um dono.

mas que ideia foi a  minha
querer mantê-lo nesta prisão
mas quem é que adivinha?!
quanto sofre o amor no coração.

julgo entender, ou talvez não!

natália nuno
este poema faz parte dos primeiros
que criei há bons anos (2001)


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

já nada me derrota



memórias...de infância
o pulsar do tempo alucinado
cego, tanta a obscuridade
rumor nas pétalas que se perdem
saudade...saudade!
vôo lento duma gaivota
silêncio e nostalgia
já nada me derrota!
nem o rosto reflectido nas águas
nem a noite nem o dia
nem as mágoas
nem a morte!
nem sonhos nem pesadelos
nem o medo ou a loucura
faço de tudo aceitação
enquanto palpitar meu coração.

nesta avidez do tempo
dentro de mim um apagão
foge a memória como o vento
restam pedaços de recordação
nada devolve da vida o ardor,
a face perdida, o corpo em flor.

natália nuno
partiu destes pequenos poemas
a minha vontade de escrever, ficaram-se pelo papel
e agora vou soltando um a um, mesmo sabendo
que são castos........



desilusão...



insisto em me esconder
como se do mundo não fosse
não consigo entender
porque é amargo
e não doce.

direis vós, direi eu
que a felicidade está por aí
que a vida é maná do céu
vezes sem conta repeti.

vós que passais pois vede
como é grande a confusão
meus olhos turvos na boca a sede
até o espelho, me olha com provocação

neste insistente abismo
levo as asas estendidas
serei ave que ainda voa? cismo!
tão pouco valem nossas vidas.

natalia nuno
rosafogo
um dos meus 1ºs poemas 
passei-o ao blog para não ficar esquecido na sebenta.



as paredes antigas...

as paredes antigas fascinam-me... ninguém, nem o tempo consegue tirar-lhes o ar misterioso, guardam segredos dos que perderam o norte, deixando saudade ou quem sabe sabor amargo com a sua ausência...parece que alguém aguarda por detrás ... quando as olho consigo abstrair-me da realidade... quando a chuva cai do céu e o vento não cala, mantêm-se nelas as cores sombrias duma primavera empalidecida, resta o sol na memória de primaveras risonhas dentro das quatro paredes... fico no sonho, o outono cala as minhas sombras, desespera por cobrir a solidão que se faz sentir no peito, apesar da beleza a folhagem vai caindo como um pranto ao acaso e, sem medo levada pelo vento norte, à sorte... as folhas são lembranças soltas, virá de novo a primavera e logo depois dar-se-á o renascimento... só a vida não volta!

natalia nuno


terça-feira, 10 de novembro de 2020

Flor...





A uma flor...
Ele, há lá flor mais bela
que te possa ofuscar?!
Seja branca ou amarela
não precisas invejar...
És de raiz bem nascida
q' te impede de murchar
nem vais ficar esquecida
se a morte a vida levar
Se o tempo é teu algoz!?
Mas esperança é sonho!
Não seja a lembrança atroz
nem o amanhã medonho
Não te tirem a esperança
de amanhã feliz tu seres
recorda-te sempre criança
para feliz assim viveres...
Esquece da vida revezes
de tudo o que ela te afronta
o que é preciso é às vezes
vivermos ao faz de conta.
A vida matiza dias às cores
põe-te o coração a bater
se te invejam outras flores...
tens afecto e bem-querer.
natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

pois até de amar-te já passou da hora!




oiço o papel rindo das minhas palavras
mal comecei a escrever,
colocou-me mais uma ruga, rasgou-me o coração
mas jurei renascer,
com doce apego e obstinação.
há um cisne branco na manhã distante,
no lago das palavras que escrevo
e a minha memória ofegante flui
lembrando-me se devo ou não devo
silenciar no poema aquilo que sou e fui.

papel branco que ri da minha caligrafia
na sua brancura só vejo minha alucinação
e o silêncio me toca, fica a mente vazia,
e mudas as palavras na mão...
e eu que te sonhava em cada linha
com toda a plenitude do meu ser
deixo a palavra linha a linha... a morrer!

neste infiel papel branco
mais poemas não lavrarei, fica sobre a mesa
ignorado e vazio, o poema em que te amava
com certeza, são agora linhas
dum deserto inóspito e frio
onde o presente se perde no passado
num mar de tempo que trago a meu lado.
velhas as linhas das minhas mãos,
descansarão agora...
pois até de amar-te já passou da hora!

natalia nuno
rosafogo
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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

quando meu nome esquecer..



na penumbra dos meus olhos, 
há gotas de orvalho, que são mansas
lágrimas que vão rolando no meu rosto,
lembranças que vêm da profundidade da alma, 
lembranças de saudade...
rosto, que tem a quietude dum lago e a calma
da águas transparentes, onde mora
amiúde o sorriso, a minha identidade
em meus versos, meus olhos se abandonam
nos poentes, e às vezes se fixam numa dor
que percorre meu corpo, já longe da ascensão,
e são como uma flor a emurchecer pelo chão
- quando meu nome esquecer
ficarei longe da vida que arde
como folha extraviada pelo vento levada
numa tarde de outono,
será angústia o que me resta,
num silêncio golpeado
pobre rosto rasgado.
na memoria já o sono.

mas aos meus olhos ainda vêm odores
que lhe chegam com a formosura do vento
de flores fulgurantes, odorosas,
jasmins e rosas...
nas minhas mãos cairão cadentes estrelas
de desejo, e serão o ensejo
para voltar de novo a viver como se não fosse
passado o tempo, e os sulcos no rosto esquecidos,
será então a solidão mais doce
o esquecimento, os anos vividos, meus olhos de menina
não se deixam afogar de tristeza,
quando parecer soluçar
afundarei a cabeça no teu peito
e vou-te amar, deste meu jeito.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 3 de novembro de 2020

é a hora das sombras...


é a hora das sombras
passam aves voando ao relento
enquanto minhas lembranças sonolentas
se amontoam no pensamento
vai-se o céu escondendo entre as ramagens
e relampejam na memória imagens
da criança feliz, correndo rumo ao futuro
com seu corpo puro, de tenra idade
é a hora das sombras, hora da saudade
saudade que se levanta como um enleio
na sua verdura quando é primavera.

meu coração despenha-se no vazio
da espera, mas levo o peito cheio
e as palavras resvalam-me por entre os dedos
a cumprir um último destino
desprendem-se sem medos
na hora das sombras, tempo do divino

hora despida que o corpo me percorre
é quase noite na minha idade
mas a luz dos meus olhos não morre
porque até ao fim da escrita
sempre palpita a saudade...no coração!

natalia nuno
rosafogo

sábado, 31 de outubro de 2020

como um rio que corre ao mar...



nos interstícios dos meus sonhos
há roupas molhadas nos estendais
e há meninos de pé descalço risonhos
subindo às árvores
procurando os ninhos de pardais
há um cão solitário preso com corrente
ladrando em delírio de contente
o vento e a chuva não dão descanso
e o burrito carregado lá vai  na frente
com seu olhar manso...
cai uma gota nos vidros da janela
o vento redemoinha as folhas caídas
só se ouve o vento e o lamento
das faúlhas humedecidas
e os meninos descalços ao abandono
ainda procuram os ninhos já sem 
dono,
escuto na distãncia, uma voz conhecida
que chama por mim,
numa angústia consumida,
num silencio de luto, só eu a escuto
neste tempo presente o pavor do vazio
um labirinto de memórias fechadas
estreita-se o medo e se descrê
que as lembranças regressem ao calor
da nossa mente,
chegue a desmemória e a dor
e a vida não seja a mesma, inteiramente.

apagando-me neste sonho
como poderei saber se existo
como posso defender-me
alguém tentará compreender-me?
será que me isolo?
ou continuarei sonhadora amante
no vazio da minha existência inquietante?

grande é a minha resignação
enquanto me souber no teu coração.

natalia nuno
nunca sabemos o rumo do poema, só sabemos
como inicia, depois é um deixar, correr, como um rio
que corre ao mar...








quarta-feira, 28 de outubro de 2020

mar da minha vida...

 


era manhã ainda, quando os pássaros visitaram a lezíria das minhas memórias, trazendo uma luz remendada à minha já tão pouca claridade, caí num sono leve, baloicei entre o sonho e a realidade, deixei cair as horas uma a uma como quem nada teme, e o tempo lá me ia levando, quase mistério!... de que serve estar lutando, se não me leva a sério?!minhas mãos vão remendando o sonho, escrevendo versos a eito, que são como beijos roubados ao amor que trago no peito...do céu cai agora uma chuva densa, descem os rios ao mar, eu com uma saudade imensa...ah! valente mar traz-me saudade e o sonho da juventude perdida, mar da minha vida, solto meus ais, pois d'amor nem sinais, põe tino nas minhas mãos, e no meu destino a memória enamorada, pois se ela descaminha, por certo caminharei sozinha, nesta encruzilhada...sem lembrar de mim, e sem saber ao que vim!

natalia nuno

terça-feira, 27 de outubro de 2020

minhas penas...

 

minhas penas, minha alma as sente
contente ou descontente
sobeja apenas
este remar sem parança,
esta lágrima amarga,
saudade e ternura p'la criança,
e dum tempo breve e saudoso
que trago na lembrança.

de tudo o que trago na mente
só o sonho encurta a distância
e mata o desencanto que no peito me vai,
é sonhando que me prendo à vida
que com o tempo se esvai,
a levar-me ao esquecimento!
ah... como lamento,
se tudo tiver de esquecer!
neste silêncio opressor
onde só o coração é recanto onde ainda
existe amor.

gira à minha volta o sonâmbulo vento
meus sonhos são aves distantes
dizendo adeus ao poente, 
sentidamente lamento,
lembranças de instantes
que não voltam,
entro nas sombras das ramas
e a solidão me acolhe
deixo-me a pensar se ainda me amas,
e no teu olhar eu ainda me olhe...

natalia nuno

domingo, 25 de outubro de 2020

no sonho onde aconteço...



anda uma lágrima em busca
dum rosto perdido
e uma sombra persegue passos cansados
a saudade que ora se aproxima , ora se evade
traz-me momentos amados
ali me vi!
pois o passado estava mesmo ali,
e eu sabia, enquanto a noite estremecia
o sonho no meu sereno sono
era apenas sonho,
deixei-me ir nesse abandono
com medo de despertar
e retornar à realidade

no regresso transportei no olhar
as pétalas das margaridas
que havia no pomar, lembranças sentidas,
esperanças no peito nascidas já tão poucas
e na garganta, palavras roucas.
meus olhos prenhes de cansaços
solitários os passos
e esta vida que não ata, nem desata.
calei o grito, a lembrar o sonho
da minha longa estrada

olho a página em branco
como branca solidão e na minha alma
uns versos onde anoiteço
mesmo que o sonho acontecesse em vão
quero voltar a sonhar, onde aconteço.

natalia nuno


arpejos de sol...

 


na minha memória há migrações

de ideias, sonhos em sobressalto
tempestade de ilusões
às vezes são como arpejos do sol
sobre os trigais que ondulam ao vento,
eu um girassol apaixonado
dando asas ao desejo...a que ainda
me tento.
voam ébrias minhas borboletas
num voejar desatado,
instantes em que amo com paixão,
rebelde este meu coração 
cântaro cheio de claridade
e alada melodia da saudade.

espero sempre pelo sonho
que me ajude a viver
que me adoce o vazio, 
que me ajude a suster 
umas lágrimas teimosas,
ou uns tímidos sorrisos,
que me cruze com ideias gloriosas
a que aspiro, para a essência dum poema,
seja de amor ou de saudade, o tema.

natalia nuno

sábado, 24 de outubro de 2020

deixa-me o sabor da tua boca...



deixa-me o sabor da tua boca, acaricia meu rosto fatigado na tarde lenta em que as minhas mãos tecem palavras de loucura, como se rezassem!...olha-me com espanto, como se eu continuasse a ser o teu encanto, nua ou vestida percorre a minha pele, poro a poro, afunda-me no teu peito com aquele jeito, com que eu sempre coro...não me deixes neste silêncio estranho, ou no vendaval onde me dobro para não quebrar, o tempo cruzou-se comigo nestas longas caminhadas pejadas de partidas e chegadas, deixou sinais que não posso esquecer e restos de esperanças que quero reter...há lembranças que se vão desvanecendo tal como a tarde, percorre-me o sonho na claridade do teu olhar, onde a felicidade e a ternura são canção de embalar...os meus dedos de menina escrevem umas linhas de amor, e nas tuas mãos, esconde-se a lua vestida a rigor...

natalia nuno

lembranças...

Hoje lembrei a adolescente que conservo na lembrança com comovido afecto, e recordei-a feliz e descontraída, no seu sapato alto e saia reduzida. Orgulhosa da sua aldeia e da sua gente que apesar de pobre , era rica de sentimentos, sendo eles que deram sentido e esperança ao desabrochar desta adolescente. Hoje, lembrei também dos rapazes de mãos rudes e palavras desajeitadas e dos bailes onde sonhava ser princesa sem castelo. Há diariamente uma história que conto a mim própria que jorra desta fonte que é meu passado, ora alegre ora sombria mas sempre viva. A aldeia e eu seduzimo-nos mútuamente, há recordações que acarinho e evoco nas minhas horas sombrias e assim me vou distanciando, sentindo-me agora um ponto ínfimo no fim da caminhada. Devora-me o tempo, só a Poesia me reconforta e a memória é ainda guardiã do arquivo onde guardo recordações.


natalia nuno