sábado, 25 de dezembro de 2021

este é o meu sonho...





chora a árvore, cai a chuva no ramo
choro eu quando a saudade
leva pra longe, quem amo.
silenciosamente como agora,
de coração partido,
uma lágrima se quebra no vidro,
nesta hora, minha vidraça comovida
dá conta da tua partida.
espero por ti, até as árvores terem
folhas douradas,
até serem p'lo vento levadas e,
minhas memórias misturadas.
e numa tempestade de emoção
dobram-se sentimentos em amarga solidão.

há palavras não ditas em agonia
palavras perdidas cheias de amargor
na mente giram pensamentos
e eu espero temporadas, por ti, amor.

se minhas noites não se aquietarem
meu coração quebrará em pedaços
não haverá noite enluarada
enquanto não me sentir em teus braços.
quero ter-te no meu sorriso
ter teus olhos olhando os meus
é tudo quanto preciso
para sentir-me de novo menina.
suspirar e, cair como uma estrela do céu
deixar que tua voz ressoe como um sino
e tocar o sonho meu,
o de voltar a sentir-te menino.

natalia nuno
rosafogo
este poema levou anos para sair 
da sebenta. 
02/1995




sonho que é miragem...


vêm as aves saudar-me
por entre  folhagem
trago da infância esta tão nítida visão,
o redobrar do canto, como que a chamar-me
havendo entre nós hipnótica atração
já não existe o tempo
desagregou-o o vento
nem céu azul, nem estrelas
ou seria o meu pensamento
que ao ouvir o meu lamento
se cansou de vê-las?
já não há saída deste labirinto
o que resta deste mundo é nada,
assim o sinto!

procuro uma palavra que seja
uma porta de saída,
neste poema quase sem vida...
sou uma história que se esquece
deixo um sonho inacabado
e o mundo para mim fenece 
dou meu tempo por terminado.

vêm as aves saudar-me
por entre  a folhagem,
no sonho já não ouço o borbulhar do rio
já não existe nele  minha imagem
vai-se o sonho, a pensar me ponho,
- sinto a vida presa por um fio.

natalia nuno
rosafogo

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

a vida está feita...



não há hora para escrever perfeita 
nem já há passos decididos,
porém a vida está feita
e os sonhos perdidos.
não dá para pensar em regresso
chegou a última paragem
da viagem
à vida nada mais peço,
paro e olho-me no espelho
espelho embaciado,
que de tão velho,
nem ouve meu coração acelerado.
não quero perder o sol-pôr
nem olhar atrás que me causa dor.

faço o balanço da viagem
volto à beleza das coisas simples,
e ganho alguma coragem
neste meu caminhar profundo
as palavras resvalam perante os dedos
como que a extinguirem-se num sonho maior
enquanto me apresso a arrebatá-las com amor.

natalia nuno
rosafogo

sábado, 11 de dezembro de 2021

quimera...



encho meus dedos de leveza,
quando a natureza me abre os braços
cresce em mim a esperança,
esqueço os medos e dou mais uns passos,
sob o sol da tarde, há aves felizes
nas árvores nasceram mais uns rebentos
e mais um sonho nos meus pensamentos.
as palavras soltam-se e respiram,
volto ao ponto de partida
e o sonho se torna vida...
abro a porta ao poema com simplicidade
fecho os olhos, volto atrás ao passado
tão distante, onde ficou a felicidade,
que é agora saudade.

à esquina do vento, a menina
da minha recordação,
escoam-se noites e dias
e minha mente quase em vão,
o sol já declina para o poente, 
lembro a aldeia, por lá ficou a juventude
aldeia onde cresci e me fiz gente
fonte de milagres onde me refugio amiúde.

as palavras comovidas adormecem
no poema, enquanto mastigo sonhos,
de mim se esquecem
deixam-me perdida, os anos envelhecem
já não ouço a voz da quimera
e a solidão, à noite me saúda,
a natureza me dá força, tudo muda
hei-de alcançar ainda a primavera.

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

meu sonho incendiado...



minha terra de aromas, meu universo de criança, ensinaste-me o alfabeto dos pássaros, a fala das águas livres, foste testemunha da minha rebeldia, da minha existência singela, da minha inocência, dos meus amores... és hoje em dia a minha saudade, chega aos meus olhos o sorriso dos teus verdes, a luz formosa do teu céu azul como nenhum outro, o teu sol com lânguidos fulgores, trago-te tatuada em mim com ternura, eras feita de ouro, água e melodia dum acorde de violino ao nascer do dia...tanta fragrância nos teus pomares, a lua abrindo claridades nas tuas vielas, hoje ao recordar-te vai uma mínima diferença entre a felicidade e a tristeza, deste-me a alegria transbordante duma inteira juventude... o meu coração é ainda jovem para amar-te como quando procurava a sombra fresca das tuas árvores, ou tomava banho nas águas do teu rio, o sonho percorre-me e extasia-me, e o vento traz-me a recordação que é para sempre, de saudade de verdade!

natália nuno
imagem pinterest


sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

sonhos que sonhei demais...



o céu infinito está escuro
e o vento sopra desabrido
gaivotas voam em círculo
tempo de inverno duro!
o sol atravessa a madrugada, descolorido
o mar gélido e imenso
tempestuoso, ameaçador
louco como um grande amor.
as palavras vagueiam p'lo meio da tempestade
e ela ali no cais no mar da sua tristeza
morrendo de saudade.

os pensamentos sucedem-se uns aos outros
e a memória já se contradiz
a vida é como o mar, ruidosa
mesmo quando se procura ser feliz.
continuo à procura de conchas na rebentação
para fazer soprar a chama da imaginação
e numa forma sentida, falar de sentimentos
quanto mais neles procurarem
mais me acharão...

este é o poema onde deposito meus ais
um jogo de palavras, onde sou e não sou
sonhos que sonhei demais,
no perto que é tão longe
que o coração me quebrou.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

sonho suspenso...





num mundo velho vão morrendo estrelas
e todo o calor humano vai-se perdendo,
há rugas nos rostos, olhares desolados
a liberdade acendendo velas, 
e a dúvida vencendo.
este poema é da minha inquietação
fica meu sonho em suspensão
mais longas que minha vida são as guerras
sem fim...
rasga-se um arrepio em mim!
anda às escuras meu pensamento
toda a vida em mim já pesa
já nem sei se faz sentido alguma reza!
quando o pensamento acordar
será tarde , será o fim  do sonho
será inverno fora e interiormente
e a esperança permanecerá ausente.
sou o poema da minha inquietação
faço dos versos tempestade
meu alimento, meu pão
enquanto morre de saudade
o coração!

natalia nuno
imagem pinterest



sexta-feira, 26 de novembro de 2021

sonho doce, sonho louco...





a vida é uma corrida,
é uma passagem,
e a felicidade não é mais que uma
miragem!
para quê deixar embaciar o olhar
e pôr de negro o pensamento,
deixar tudo em desalinho,
de que serve o lamento?
se a vida é seguir caminho.

levo um rosário de cansaços
na minha estrada interior
prendem-me à vida os laços
a quem me entrego por amor

e na santidade das horas
do tempo que não volta mais
há um sonho onde sempre afloras
na saudade dos meus ais

e a vida que é corrida
feita suavidade e dureza
tem hora de tristeza adormecida
olhos cheios de encantamento e
beleza...
embranquece o cabelo como a neve no inverno,
mas nosso amor será eterno!
e o sonho onde sempre afloras
sonho doce, sonho louco
é a mistura de todas as horas
dum tempo que soube a pouco.

natalia nuno
rosafogo






quinta-feira, 25 de novembro de 2021

sonho imaginário...



trago as mãos agitadas
os dedos querendo libertar-se
o coração a cansar-se
e as pálpebras cerradas
estremeço e o sono não vem
aqui e além, o sonho vencido
as palavras cheias de frio
faço-as saltitar, quando ao amor
sorrio...
digo-lhes que as amo
sussurro-lhes ao ouvido,
elas sabem que é por ti que chamo
que tudo aqui está vazio de ti
que aguardo a labareda incessante
e o frescor que me traz a cada instante
o teu amor.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

domingo, 21 de novembro de 2021

teço sonhos...


há silêncio no meu peito
a noite vai madura
e o luar o meu rosto emoldura
trago a esperança a madrugar
na esperança de ver-te chegar.
a saudade cresce de mansinho
pressinto-te a cada hora
a estreitar-me nos teus braços
pela noite fora...com carinho.
então sou flor aberta
aroma que a ti se oferta.

quando o luar se esconder
vou-te dizer
- és tudo o que a vida tem
pra me oferecer
trago lembranças e saudades tuas
passaram por nós tantas luas
hoje já não temos noites de luar
os sonhos esses sim, inda são meus!
no peito, o mesmo coração para te amar
nos olhos, a cegueira de olhar os teus.

natalia nuno
2014

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

lugar sem nome...solidão



estou hoje num lugar sem nome
meu coração no silêncio entrou.
já a vida se some
de tanta ansiedade, triste ficou.
o pessimismo apaga a chama do meu olhar
neste lugar sem nome, aqui
onde a harmonia podia germinar
onde cheguei e tanta vez te senti,
hoje inquietação, o que posso vislumbrar.

e pensar que tantos sonhos tive
dentro de mim a esperança sempre acesa
e ainda a criança que em mim vive
vai sonhando esquecendo a vida e sua aspereza
os sonhos são ilusões perdidas
ocultam-se na mente com amargor
e nesta terra sem nome 
eu sinto a dor
da vida que se some.

não sei onde ir buscar mais vida, emoção
agora vive em mim apenas desalento
os dias jamais florirão
cairei como eles no esquecimento.

natala nuno
rosafogo






sábado, 30 de outubro de 2021

devagar liberto o medo...



chega do mar a brisa,
e o sopro azedo do vento
e a vida precisa
de novo, o encantamento.
chega o Outono silencioso
com luz bruxuleante quase cega,
e o tempo sempre atento
me pega!
a vida é vasta ventura
é sonho não demora,
ah...esse tempo, faz tempo agora!

é hora, 
surge a morte com sua trama
o reverso de quem sonha, de quem ama,
e é tão mais triste
o poeta em mim morrendo,
vive morto a ver a saudade crescendo...

e dói!
sobe-me a dor à garganta, sufoca,
devagar liberto o medo,
liberto-me da aspereza da morte
e à sorte em segredo, 
sinto-me como ave que não sabe onde pousar,
agarro-me à vida que tem outras vidas
que procuro entrelaçar.

quero o tempo reter
enquanto puder
e depois devagarinho
seguir caminho
sem lamento, nem sofrimento,
talvez numa tarde de outono
como hoje, tocada pelo vento
e pela brisa do mar
apagar tudo do pensamento
bater asas e voar.

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 26 de outubro de 2021

na memória das tardes...




na memória das tardes 
há silêncio constante
e um olhar distante
repleto de saudades,
ouço o voo das abelhas
e o trinar das andorinhas
fazendo ninho nas telhas.
absorve-me o pensamento
aquele momento
em que me enlaçavas pela cintura
era eu uma folha leve levada p'lo vento.

fingia que me eras indiferente
mas quase o chão me faltava
quando sentia tua ausência
de tanto que te amava!
sonhava encostar-me ao teu peito
perdia-me na suavidade do beijo,
hoje fecho-me por dentro
para não sofrer o desejo.
já a noite tomba e eu vazia,
esqueço tudo, até de mim!
como se fosse fácil chegar ao fim
deste dia sem de ti me lembrar.

livro-me das palavras
para não cair na tentação
saudade dói, finjo não sentir
mas a dor assalta-me o coração,
deixo-me adormecer nas memórias passadas
tinjo de côr estes meus pensamentos
caminho com as feridas disfarçadas
amanhã ganharei asas e novos alentos.

natalia nuno
rosafogo


sábado, 23 de outubro de 2021

rosas brancas em atados laços...


olho as mulheres cansadas de andar,
trazem no rosto o abismo da solidão
laboriosas a vida inteira sem parar
no sorriso já não existe emoção.

não tiveram asas, todos os sonhos,
vão pedindo á vida dias melhores
basta-lhes  olhar os filhos risonhos
e assim vão esquecendo as dores.

todo o caminho é um terço rezado
de cansaços,
flores onde o aroma já não tem perfume
rosas brancas em atados laços
a quem ninguém ouve um queixume.
é inútil esperar por melhor,
e se a vida tece algum laço d'amor,
depressa o desfaz e lhe causa dor.
na palpitação das horas
o sonho anda ausente
o desgaste é ferida dolente
urdida de tédio,
a vida é assim, não tem remédio!
é o sacudir da vida que chegou,
é a vida feita em pedaços
é um terço rezado de cansaços
já foram bonitas, foram primavera
rosas brancas em atados laços,
agora, nos dias menos amargos
ainda vibra uma labareda...

natalia nuno




quarta-feira, 20 de outubro de 2021

viver é bom demais...



meço a dor e o pranto
pela mesma medida
o amor a quem quero tanto
e a vida que me vai de fugida.
um sonho belo e vago
um beijo dos teus lábios
mesmo discreto, é bom demais,
esse desejo em mim trago
ébria d`amor vou suspirando ais.

uma noite como esta, de breu
lembro tudo o que ficou para trás,
meço a dor e o pranto meu
apenas ambiciono paz!
o pensamento tem força
mas nem sempre razão
às vezes, põe cinzento o coração.

encosto o peito ao peitoril da janela
olho o céu que me cobria de felicidade,
esse céu que me entrava pelas vidraças
que saudade... da estrela do norte, só eu e ela,
ai dor da saudade, quanto me amassas!
aguardo pelas neblinas matinais
ainda espero viver, 
viver é bom demais.

natália nuno
rosafogo
este poema foi começado em Abril
de 2006, hoje criei o final.



versos soltos...



eu sonho e sou livre
tão livre como criança
que em mim vive,
mesmo se a idade avança

o vento poderá estar
contra mim
mas levarei a esperança
até ao fim...

sou um ser de paixão
não me deixo vencer
saudade trago no coração
que vive e me deixa viver

tenho alma de menina
e um rosto sem nome
trago no olhar a sina
de poesia, a sede e fome!

no grito trago Poesias
nas olheiras trago idade
do desgaste dos meus dias
onde morro de saudade.

trago uma rosa ao peito
morrer é coisa certa!
com poesia me ajeito,
a garganta já se m´ aperta.

poemas sempre existem
foi sonhando que os criei
os sonhos, persistem?!
na solidão os  amarei.

natalia nuno
rosafogo
11/1988






sexta-feira, 15 de outubro de 2021

bálsamo do tempo...



a saudade traz o bálsamo do tempo
antigo, mergulho nela sem rumo
às vezes recua delicadamente
e a vida esvai-se em fumo.
em cada poeira varrida do nosso olhar
agitam-se as flores a cada momento,
sem nenhuma murchar,
esperança mágica, que nos afaga
o pensamento.
vazia de palavras, meu corpo já se rende
vergada ao fim do dia,
a luz fluindo na memória ascende
o sol é meu confidente
tudo é a meu favor
a beleza da tarde envolvente
e o vento ainda volteia no ar,
a memória de acordes a transbordar
e mais um dia a deixar saudade
e o sonho que eu amava?
será só ingenuidade?!
nada tão doce como o primeiro ardor,
estremeço, só de pensar
- nesse tempo d'amor.

natalia nuno

parte de mim...



é na escuridão da noite 
que mais cresce a solidão
que mais se sente a vida gasta
e mais dela o tempo me afasta
consumida vou p'la noite fora
com o resto de esperança que ainda
em mim mora...
é na noite que me sinto pouco mais que nada
tomara chegue a madrugada,
mas o negrume não tem fim
e um arrepio se faz em mim!
sonho acordada, a noite vai alta,
dissimulo que a tristeza não existe
talvez surja um momento de serenidade
se estou triste, não é por minha
vontade...
hoje estou ausente,
arranjei asas e voei
esqueço os silêncios da noite
também os ruídos do pensamento
talvez o sonho me acoite,
a vida não seja mais um lamento,
seja chama intensa
e, a minha mão de solidão
a tristeza vença.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

doce loucura...



a solidão descansa no meu peito
e é à noite que se torna atroz
acabando por dormir no meu leito
e a saudade logo aparece veloz
trazendo memórias que bem lembro
do tempo de emoção e deslumbramento
no silêncio da saudade
ainda me ponho a sonhar
como se a vida fosse eternidade
e o amor tão grande como o mar.

sinto-me um pássaro livre
a liberdade me acalma e embriaga
e a criança que em mim vive
fica sedenta à espera que a vida lhe traga
mais um sonho alado
como nesse tempo já passado.
volto a sentir o aroma a jasmim
e a apreciar de novo o sabor desses momentos
doces sinfonias do amor em mim,
e minha alma a ganhar novos alentos

em doce loucura até à exaustão
tudo isto é mais que a visão dum sonho
é deixar bater forte o coração
eternizar nosso amor de estrelas risonho.

natalia nuno
(poema iniciado em 2001)

terça-feira, 12 de outubro de 2021

prenhe de fantasias...



na tranquila tarde o sol ateia
meu coração pula alheio
ao que o rodeia...
meus olhos sem receio
despedindo-se das vidraças.
e no esgaçar da memória
lembro-me de momentos
em que me abraças.
foge-nos o tempo de sorrir
aproxima-nos o tempo de ir
dói-nos o peso da verdade
alguma amargura, esperança pouca
e tanta saudade,
tanta coisa por dizer
mas seca-se-nos a boca.

há um rumor de beijos no ar
que nos faz lembrar nossa primavera
quando contava os segundos para ver-te chegar
que feliz eu era!
agora, neste entardecer, há um eterno sentir
num canto do coração meio adormecido
que ainda nos faz sorrir
ao lembrar nosso amor colorido.

fico dorida a pensar 
no sacudir da vida
lançando-nos na poeira do esquecimento
como fruta que ficou no pomar esquecida
onde já nada germina,
onde não sou mais menina
nem brilha meu olhar como estrelas e o luar
hoje prenhe de fantasias
invento palavras loucas
que para lembrar-te são sempre poucas.

natalia nuno
imagem pinterest

domingo, 10 de outubro de 2021

e tudo o vento levou...



sobre os socalcos ventosos
passa uma nuvem cinzenta
que me consegue distrair
assim, meu coração se aguenta
em mais um dia que há-de vir.

uma névoa de chuva densa
misteriosa e imponente,
lança tudo na escuridão
enquanto o medo fustiga
as paredes do coração.

respiro profundamente,
ouço o grito no horizonte
do ribombar do trovão,
e no cimo do monte
árvores inclinam ao chão.

apaga-se a candeia com o vento
reza a avó com devoção,
ainda no meu pensamento
ouço o farfalhar do rio
vejo a lareira meia acesa
esse dia longínquo o frio
amolgava meus olhos de incerteza.

o vento fustigava as janelas com cortinas
de pano puído, soprando livremente
até outro dia ter nascido
o verde das hortas brilhante e, novamente
o sol aparecia,
a avó à Santa Bárbara rezava
enquanto  o vento inda gemia,
mas já a lareira ateava
e na candeia a luz bruxuleava.

voltava ao campanário a voz
a água do rio era agora leitosa
e o chão da terra ficava ensopado
a vida continuava custosa
mas a resistência é grande éramos por Deus
um povo amado.  

a boca da mãe sorria, tudo volta a ter encanto
na do pai, nem um ai,
e eu feliz no meu canto, 
ao lume
ouço a reza do costume,
que tem a força que tem!?
a avó rezava seu rosário como ninguém.
hoje, resto eu!
tudo o vento levou e a morte se afadigou.

natalia nuno

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

este rio que sou...






este é o rio que sou
que ama e que chora
o riso... o tempo levou!

numa manhã de orvalho,
é rio que desagua e se evapora,
e ao anoitecer da minha vida
as coisas boas ficaram  perdidas
e no coração emoções doloridas,
os dias recolhidos
levam-me ao esquecimento,
deixam-me surda e dolente,
mas é perfumada a minha ilusão
quando te abro meu coração
e me sinto gente...
o coração já tropeça
numa saudade muda e fria
aguarda que o pensamento amoleça
e o deixe viver de fantasia.

natalia nuno

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

o silêncio do meu inverno...





inclino-me sobre o espelho das águas amenas e choro minhas penas, abrigo-me dos dias de frio, fico ouvindo o marulhar do rio, as águas desoladas pressentem minhas mágoas e eu, como pomba que arrulha no ramo, segredo-lhes que existo, porque te amo... fica a vida lenta e sombria, e a luz do sol amarelenta ao anoitecer do dia...lembranças saudosas, são rosas e malvasias no meu peito, há alegrias ingénuas e emoções mimosas, que quebram a solidão, as decepções e o desalento... as aves apagaram os gorjeios nas margens do rio que corre em mim, esvoaçam no meu céu cinzento, em sombra e silêncio do inverno que me esfria, e vão poisar longe no chão da minha doce ilusão...onde ainda se vêem estrelas e restos de sonhos da minha juventude, rasgam-se meus dedos em vão, em estremecimentos de primaveras passadas

natalia nuno

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

perdida de mim...




perdi-me de mim não sei
só a saudade vem dizer-me
que perdida d'amor me deixei
dia a dia a esvanecer-me.
para mim não existe o hoje
sem tua boca por perto,
o amor traiçoeiro me foge
ergo o sonho, mesmo q´ incerto,
assim ora cantando, ora chorando
tal como dia e noite chora a fonte
pobre louca...
o pensamento delirando
p'lo amor que anda a monte,
sonhando, sonhando,
com beijos da tua boca.

falo com sinceridade
acredito a toda a hora
vem dizer-me esta saudade,
dos suspiros que em minha alma aflora
trago o meu sono sem sonhos
e o rosto sem alegria
os pensamentos medonhos
vagueiam, numa nuvem alva e fria

chegam a mim nostalgias
difíceis de apagar,
passam noites passam dias
sem sono
- olho a estrela polar...
quero escrever um verso mais perfeito
para lembrar o tempo atrás
ao encostar-me ao teu peito
que tão saudosa me traz.

morrer d'amor pouco importa
desfalecer nos teus braços
antes querer-me assim morta
que não ter os teus abraços.

natália nuno
rosafogo





domingo, 26 de setembro de 2021

Tempo sem tempo...



há gestos esquecidos
no tempo perdidos
e sorrisos à distancia
afastados em esquecimento,
numa profunda incerteza
fica a vida uma tristeza,
cresce o lamento...
um resto de amor desliza no peito
desprovido de tempo e de sentido
nem sequer dá um passo 
ao encontro dum abraço.
tudo para traz ficou
sente-se agora um estranho cansaço.
já não há saída deste labirinto
saudade...é tudo o que sinto.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

o meu sentir...




as palavras em silêncio, famintas de cada detalhe vão pousar na branca folha levadas pelo vento da memória em suave movimento, antes que o pensamento encalhe, e o meu sentir se torne instável, por vezes molham-me as pestanas, e tudo varrem da memória como se areia fosse...mas hoje a saudade é doce, e não há palavra que me distraia ou m' afecte, a solidão escorre-me pelos dedos e a a saudade afasta meus medos, dou mais um passo, enquanto as rugas vagueiam no meu rosto, e eu lembro aquele abraço, já tão longe ficou Agosto, surge o Outono como um mar da minha tristeza, e só há palavras feitas de pedras e urtigas, não me engane o dourado sol, já não sou um girassol, hoje não vou perder meu alento, a eterna Primavera andará em mim até hora tardia, enquanto durar meu dia...

natalia nuno
imagem pinteret

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

a saudade e o vazio...



hoje só oiço o vento passando,
uivando,
amplia a saudade e o vazio
acabou-se o gozo do verão
e à minha imaginação,
vêm manhãs enoveladas
e cheirosas madrugadas
com aroma a flor de laranjeira
e que bem cheira, na
memória que já perece 
mas parece que renova,
como pássaro que se liberta,
e esquece até vida incerta,
assim sou venturosa inda que pobre
tenho os pés assentes na terra
e o céu é cobertor que me cobre.
a vida que tanto me arrasta!
sinto nela sempre uma mais valia,
a paz e o amor a mim me basta
que seja a morte tardia.

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 21 de setembro de 2021

vazia de palavras...



vazia de palavras, sou a sombra do que fui, 
trago o sonho a esvair-se
mas o pensamento não se rende
nele a poesia está presente e ascende
ao céu da inspiração,
- hei-de perpectuá-la
sobre ramos de hera subtis,
é o coração quem me diz!
é minha ânsia que não haja esvaimento
no coração, nem no pensamento,
meu sonho há-de chegar mais além!
ainda que eu vá buscar memórias esvaídas.
os lírios murchos também
empalidecem, ficam de folhas caídas.
detenho-me a sonhar
enquanto o sonho me acolhe,
a alma não se veste de inverno
e de lágrimas o olhar não molhe.
- esboço à vida um sorriso terno.

natalia nuno
rosafogo

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

pedaço de mim...



nada vejo, nada acontece
nem a respiração se altera
e é quando a saudade aparece
já o sonho, por mim não espera!
nem sei se rume ao sul ou rume ao norte
perdi meus cinco sentidos
numa velha barca andam à sorte,
de saudade e ternura vestidos.
encosto-me ao teu peito
e desvio os rios do pensamento,
talvez possas sentir a dor que depura
e assim desse jeito, 
haja um momento de ternura.
atravesso a vida buscando em vão
a chama possível ainda,
mas resta a solidão que não finda.

levo na bagagem um pedaço de mim
como se fosse pedaço nu do deserto
se a morte é um rio sem fim
eu quero ainda ter-me por perto.

natalia nuno
rosafogo


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

momentos d'amor...



um cordão de flores me envolve o olhar,
trazendo o cheiro da maresia
entrelacei-as nas minha mãos
enquanto meu coração se abria
e com um vagaroso sorriso
invadi-te o desejo
procurei um beijo
toquei-te delicada,
já chegava a madrugada...

natalia nuno
(rabiscos)
imagem pinterest

domingo, 5 de setembro de 2021

adormecem os medronhos...



a noite já beija a terra
todos os vultos se vestem de escuro
soltam-se os sonhos
adormecem os medronhos
quando o sol se vai por detrás do muro.
a lua estende o manto, sonho,
enquanto com o  luar, me encanto.
os dias esvaziam-me a mente
trazem até mim arranhadas memórias
penso nelas levemente
como se o destino se tivesse antecipado
e me falasse dum lugar abandonado
já um pouco impreciso,
desnorteados meus passos,
não me levam a lugar nenhum
mas no eco das lembranças ainda surgem abraços
e no silêncio fica a menina sem idade
a viver sem sonho algum
numa réstia de saudade...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest





terça-feira, 31 de agosto de 2021

pensamento...



o peito é um mar sombrio, quando a noite surge enferma sem estrelas... as ondas do pensamento em movimento brusco, vão em grande tumulto desbravando meus sonhos de náufraga... a cada dia mais inalcansáveis, até me deixarem obscuramente no esquecimento...é este o medo que sobe os muros por detrás de cada sombra.


natalia nuno

pensamento...








a carência de ti não me abandona, invento tempo de felicidade.. meus olhos abertos pelo fogo da ternura voltam a embebedar-se de alegria num beber lento e doce , e a memória volta àquele momento distante quando comecei a desejar-te...

natalia nuno

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

poema sem tema...



meus versos deliram
quando começo a escrever,
pensam que enlouqueci!
ficam a ver,
o que meus dedos desenham
em frente a si...
sinto-me um rouxinol,
voando sobre seara amarela
sedento de sombra, fugindo do sol
ou duma papoila singela
acoitada p´lo vento, lamento
do rio, o silêncio, o vazio...
afundam-se os lagos dos meus olhos
e sobre o papel, nasce mais um poema
sombrio!
sem tema, sem côr, sem qualquer noção
poema saído da minha solidão.
natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

se o amor já não arde...



estendo a colcha de renda
sobre a cama
ouço o bater do coração que te ama
os lençóis estão frios
e o poema ainda mal começou
inconformado com sonhos vazios,
angústia me causou.

dizendo-me baixinho:
segue, e deixa-me p´lo caminho!
um gosto amargo aflorou-me à boca
quase morri por coisa tão pouca.
ás vezes é um verso que desaba
por um  motivo qualquer,
logo o poema não acaba
queda-se em mim a sofrer.

se o amor já não arde
foi-se o tema, já é tarde!

natalia nuno 
rosafogo


quinta-feira, 26 de agosto de 2021

na emoção do caminho...




sou uma história antiga, perco-me nos sonhos, só a saudade é minha amiga, no momento certo, quando já não encontro felicidade ou ternura, é sempre ela que perdura, e os meus pensamentos voltam a ter alento, lembrando os inolvidáveis dias da infância mesmo após tanta distância, são rosas de inverno ou nuvens de verão enchendo meu coração...a vida recomeça como se nada fosse, mais embriagadora e mais profunda, na ilusão de esperar o que nunca vem, porque a vida é fugaz e foge também, subtilmente, começa o tempo da obscuridade, do silêncio e do tédio, geme em nós a escuridão, sem remédio...olho a sombra azul do arvoredo, o resto do caminho me dá medo, saudade das laranjeiras brancas em flor, saudade que me protege da dor, com os lábios cegos de ternura, surges tu, meu primeiro amor...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

o som da noite...




o som da noite traz-me recordações
das ramagens os gemidos
chegam-me aos ouvidos
coloco a esperança num voo maior
e vou sonhar com amor...
o poema nasce um pouco a cada instante
expressa um pouco a minha realidade
eu na solidão e ele ao lado
trazendo-me à memória o passado.
as palavras na boca acabam por sucumbir
aguardo p'lo júbilo desse tempo
que no sonho há-de surgir
a chamar-me, ao virar da esquina
e ali me encontro menina, 
para mim quase desconhecida
deixo-me nesse céu que inventei
envolta no que sempre amei
a memória de ontem, linguagem de vida.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

aldeia que me viu nascer...




sobre o que me vai no coração,
e na lembrança...  a aldeia que não se esquece, a que era menos alindada, menos evoluída, muito mais rural, com o rio que não respeitava as margens ía beijando furiosamente a aldeia e alagando as hortas, aldeia de cheiros característicos, que não saem do nosso olfacto apesar de passarem anos, a farinha no moinho. a fermentação dos figos, o lagar de azeite, e até o cheiro dos panos da azeitona... aldeia de pomares em flor, das promessas de amor pelas vielas, das procissões de colchas nas janelas, de caracóis e velas acesas, dos rapazes no largo da praça, do jogo das cântaras entre eles e raparigas no largo do poço, as mesmas moças que se bamboleavam com graça de enfusa à cabeça quando por eles passavam, aldeia dos sinos a tocar  p'las dores dos que partiam e dos que ficavam, há coisas que doem lembrar, o adro e a igreja, com a escola ali ao lado, onde fomos felizes e já cheios de sonhos...por tudo isto a saudade, lembro também as andorinhas que gorjeavam imperturbáveis nos beirais, e, lembro muito mais, deixo-me levar nas asas dum passarinho, ressuscito a adolescência e caminho contigo de mão na mão, até ao teu coração me enrolar como uma trepadeira, pois esquecer-te não há maneira...a vida passa e a força declina, surge no pensamento um turbilhão de lembranças, aí me vejo menina a jogar à apanhada com outras crianças.

natalia nuno
imagem pinterest

abismo do pensamento...

escuto o silvo do vento
hoje traz uma lamúria com rancor
entra no meu pensamento
deixando um pouco de amargor.
silencioso tempo, estranho cansaço
recordação constante
que vem de longe, distante.
lá fora um mundo morto


com pequenos vestígios de vida
levanto os olhos só vejo o lado negro
o lado torto...
poucas estrelas existem, é como se Deus
nos odiasse, 
ou a natureza nos deixasse
sem porta de saída.
só lágrimas mundo fora, 
nem pássaros, nem risos, é hora
duma indiferença sonolenta,
todo o mundo a felicidade inventa.

vento de tempestade, sombra e morte
minhas janelas estão tristes com o lamento
por detrás dos vidros o silêncio da tarde
escuto notícias que são realidade,
realidade triste, que causam a qualquer ser
o medo, a prisão, a imobilidade.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest




sábado, 21 de agosto de 2021

a vida é uma balada...

deixa que pulse em cada verso
pequenas coisas de nada,
ainda que o mundo seja perverso
escreve noite fora até de madrugada,
arranca do coração o choro e o riso
já tão pouco falta, coloca o teu sorriso
enaltece até o que não sabes...



por mais anos que vivas apenas sonhas
ter asas como as aves, que te deem  liberdade
de sonhar, a vida não dura uma eternidade,
explode nas palavras mesmo magoada
e escreve sobre coisas de nada,
ainda que o peso do tempo te apoquente,
solta-te em pedaços vivos de paixão,
a vida é uma balada
tantas vezes ouvida na escuridão.

ouve a gritaria dos pássaros na alvorada
e escreve pequenas coisas de nada!
versos curtos à toa, na noite que te resta
até que a alma te doa...

natalia nuno
imagem pinterest


sexta-feira, 20 de agosto de 2021

melancolia...

jorra no peito a esperança
e uma secreta alegria
lembro a casa da infância
e o sol que nela havia.



afasto as cortinas da tristeza
meus passos espreitam com cuidado
percorrem com certeza
o lugar que ainda dói, mas é passado
hoje sou uma garça a deslizar
porque o tempo me é dado
trago o passado
na ternura do olhar.

trago as emoções por dentro a gritar
e aves dentro do grito
em sonhos a querer voar,
grito aflito,
de menina mulher pela vida vergada 
rendendo-se à solidão
carregando no peito a dor calada.

fico na esperança à espera
meus versos despem-se na madrugada
o sangue em minhas veias acelera
enquanto a vida... é tão sem nada!

natalia nuno 
rosafogo
imagem pinrest

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

no segredo da tarde...



no segredo da tarde abrem-se as águas dos meus olhos, mas, no meu coração sinto a alegria duma ave livre, percorro o ocaso vermelho com satisfação, e posso imaginar-me num dia de luz de verão, sinto-me o último pássaro tocado pelo sol e pelo vento, que renuncia a partir, passou o outono cintilante de amarelo e dourado, já se apanhou o centeio, veio o inverno em nostalgia aprofundado, há sombras nas ramas, oscilam os abetos, mas eu sei que me esperas, que me amas, é bom sentir o presságio dos teus afectos...depois mais tarde, serei ave que voa sem qualquer memória, beijada pela bruma, e a quietude renascerá em mim até ao fim...no destino da tarde em pleno entardecer, acariciada por nostálgicas mãos ... as tuas!

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest