sexta-feira, 9 de julho de 2010

QUEIXAS DE MULHER
















QUEIXAS DE MULHER


Escrevo coisas miúdas, pequenos nadas
Hoje lembrei a cozedura do pão
E as vozes dos pássaros nas madrugadas
E a soma dos dias que já lá vão.
Tudo sem enfeites nem vaidades!
No uso das palavras sou singela,
Remato meus poemas com as saudades.
Saudades da saudade de mim e dela.
Lembrei um ramalhete de flores,
Lembrei-me até de comprimir meus ais
Ao lembrar-me de antigos amores.
Que ficaram no tempo, não contam mais.

Dia após dia, dias banais
Solidão de mulher, queixas de mulher
Ditas até cansar, serão demais?
Desfolho-as como quem depenica um malmequer.
Na língua procuro dar um nó
Mas gosto de lembranças desfiar
Assim, nunca me sinto só
Deixo sempre a saudade a rematar.

Mas escrever perfeito, não é meu forte
Escrevo coisas miúdas, fios partidos
Descozo a Vida, antes que chegue a Morte
Da infância perduram palavras nos meus ouvidos.
Hoje lembrei a cozedura do pão
Os anseios das gentes no dia a dia
A pobreza, a aldeia onde tudo era pouquidão
Que importância tinha se a Vida lhes fugia?!
Todos sabendo que nenhum dia iria ser diferente.

E lembro que nasci no seio desta pobre gente.

rosafogo

Pouquidão palavra que me ficou da infância, dita
pela minha avó referindo-se a pouca coisa.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

ONDE O SOL SE FAZ DESEJO















ONDE O SOL SE FAZ DESEJO

Meu amor é história velha
Mas sempre renasce com um beijo
É como telhado sem telha
Onde o Sol se faz desejo.

Amor de longa travessia
Desde cedinho ao arrebol
Atravessou atalhos, caminhou noite e dia
Amor que nasceu e brilhou como raio de Sol.
Amor que é meu porto de abrigo,
meu mundo,faz tempo vem da mocidade
Não está esquecido que o amor não tem idade.

Não é já lume aceso, nem faúlha apagada
Breve foi a Vida, efémera passagem
Por mim voando, deixou-me a alma quebrada
Fechada numa gaiola onde só entra a aragem.

Passa o vento sinto-me a nascer de novo, agora
Cansada do caminho de sombras embaciado
Já salto o hoje, talvez amanhã melhore e na hora
Retiro o Sol da gaveta e volta o amor renovado.



natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MEUS OLHOS BAILAM















MEUS OLHOS BAILAM

Meus olhos bailam com a beleza de pequeninos pés
Bailam sobre saudades floridas, com ligeireza
E minha poesia borboloteia de lés a lés
E é singela flor do campo, mas tem beleza.
Arranca arrepios deste corpo esquecido
Dona das minhas esperanças, decifra meus segredos
Ateia meu olhar quando anda perdido.
E deixa a saudade escarpar-se por entre os dedos.

Quem nunca sonhou?
Quem nunca desejou?
Minha existência se consome rápidamente
Cada segundo é parcela que se esvai
Pinto meus anseios numa tela lentamente.
E olho a lua sobranceira que do meu céu não sai.
É progressivo meu esquecimento
Às vezes minha solidão aumenta
E as palavras que entoo são recordação e tormento
Quando quero lembrar e a memória não assenta.

Se grito, responde-me apenas o eco
Sinto nos ouvidos a toada
Chego ao cimo do monte, trago meu coração seco.
E uma asa cortada.
E na outra, o sonho a esvaziar!
E minhas horas passam sem as puder parar.
Resta um fio de esperança, qual flôr recém aberta,
por gota de orvalho matutina
O tempo não perdoa e eu fico alerta
Mas é Deus quem meu tempo destina.


natalia nuno
rosafogo

domingo, 4 de julho de 2010

QUE É FEITO DE MIM?













QUE É FEITO DE MIM?



O meu canto lembra sempre Outono
Mas vou cultivando Primaveras
E sem descuido ou abandono
Faço delas minhas quimeras
Dos meus sonhos faço um jardim
Dos meus ais uma queda de àgua
Brota, límpida com cheiro a jasmim
Levando com ela minha mágoa.

Deixo-me consumir pela Vida
Trago a alma deserta de esperança
Na testa mais uma ruga perdida
Nada resta da menina da trança.

Abro minha vela ao vento norte
Nesta azulada tarde
Largo meus olhos pelo oceano à sorte
Devassada pelo vento minha saudade.
Há em mim um sudoeste impetuoso
Onde minha imaginação se aviva
E onde sonhar acordada eu posso
Sem da Vida me sentir cativa.

Desce o Sol sobre a crista do monte
Tudo recolhe na natureza
Estende-se o silêncio pelo horizonte
E em mim cai dia a dia a incerteza.



natalia nuno
rosafogo