sábado, 3 de julho de 2021

hora de recordar...



semeio palavras na aragem do vento
palavras com aroma de infância
passeiam-se pelo firmamento
crescem na claridade do meu olhar
na saudade ao lembrar
sussurram por entre os lírios do campo
palavras onde me encontro brincando
e nelas meu coração pulsando.

minha alma segue nesta melancolia
a vida fugidia, e
cada paisagem me lembra um rosto
amigo, cantam as papoilas, o rio
e os melros com seu assobio
palavras rasgam o arvoredo
e seguem do meu coração sem medo
liberto-me da humana sentença
e cuido desta serena felicidade
antes que a morte me vença
e eu parta com a dor da saudade.

natalia nuno
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quinta-feira, 1 de julho de 2021

tempo brusco...





clareou a escuridão
e eu espero a tua chegada,
tento escapar a este tempo brusco
e procuro ao lusco-fusco
não me deixar p'lo tempo perturbada.
pudesse eu pôr de lado a solidão
a sofrida dor não ser mais inquietação!?
deixar meu coração bailarino
de novo ser violino
dançar até às últimas notas
depois, cair redondo e pesado
por tanto ter amado,
sempre que para mim voltas.
esta força que trago dentro de mim
que parece ter, mas não tem fim,
faz-me correr como um ribeiro,
às vezes sinto-me árvore dobrada,
outras, altiva como pinheiro,
p'lo sol abandonada, dias e anos
sempre do mesmo fardo carregada.

esta tarde morna e molhada
e eu de alma pesada!

natalia nuno
rosafogo
05/2007
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horizonte de saudade...



sinal de nada
tudo tão inquietante
na mão da noite pela calada
um sentimento bem definido
a saudade,
que segue a minha estrada.

o passado erguido,
fico desabitada de mim
corro ao encontro do chamamento
às recordações sem fim
ao profundo da memória
fica-me o coração a contento
perante mim a tenra idade, a história
desde o jogar ao pião
até à ameaça da solidão

toda a infância... gaiola dourada
o mel da flor a idade do amor,
o fogo rubro da meia idade
agora, horizonte de saudade.

natalia nuno
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quarta-feira, 30 de junho de 2021

trago um sonho...




trago um sonho inventado
pássaro que canta em mim
na frescura da manhã,
despertando meu silêncio,
trago-o do passado
com promessa dum canto sem fim

lendários os dias
tuas mãos macias
nas minhas entrelaçadas
palavras doces apaixonadas
suspiros de amor
sentimentos a abrir em flor.

feitiço de beijos
neste sonho me desejas
acordo do sonho inventado
quando tu me beijas
e este desmedido coração
a ti se entrega com louca paixão.

natalia nuno
12/2014

segunda-feira, 28 de junho de 2021

cacho de uvas ao sol...



a inquietação do meu outono
é como um mar gelado
tremo a qualquer sobressalto
e me tira o sono
num profundo cansaço deito a cabeça
na almofada, e assim fico até de madrugada.
fiel à memória, sinto-me viajante
às raízes que fui perdendo num instante.
penso na morte, e também na vida
e nessa inquietação vou ficando adormecida
num delírio de descrença
não sou nada, nem de ninguém
só estou presa na saudade
que me leva sempre mais além.

além, onde a vida era despertar
e havia frenesim em mim
quando era cacho de uvas ao sol a amadurar
quando tinha asas de voar
e sonhos sem medida, nem fim!
entregava-me à paixão, sempre com nova ternura
e amor no desmesurado coração.
ergo-me contra o tempo
surge um fulgor entre meus dedos
ressuscito sonhos que ainda acalento
e sulcando a memória vou soltando medos.

natália nuno 
rosafogo
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poema decadente...



é noite, dorme a paisagem
e a solidão gera meu sono,
só a lua na sua passagem
não nos deixa ao abandono,
ilumina a terra com luz da eternidade
e deixa-me do dia a saudade.
o tempo pára a cada estrela que nasce
a noite faz-se,
amargas as minhas entranhas
ouço a mais triste balada nostálgica e chorosa, 
saudades tamanhas...
nas mãos não trago nada,
nem no coração, que herdou a solidão
numa passagem lenta e dolorosa.

o caminho não me leva a lugar algum
já não me resta força suficiente
o tempo do porvir será pouco ou nenhum
impaciente, escrevo, 
quero acreditar que chegará a aurora
guardarei meu último gesto, a última palavra
e logo chegará a hora.

natalia nuno
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11/2014



domingo, 27 de junho de 2021

condão...




trago este condão de vida
que é luz que me ateia
se ando um pouco perdida
só teu amor me incendeia.
memórias e afeições
que em versos lavro
há nelas indagações
do que poderia ter sido
diferente...
mas nada altero!
no universo da minta mente
é teu amor, que ainda quero.

é prata derretida
lenta a dor saudade é ferida
mas não desespero.

natalia nuno
01/2015


quando nasci...



quando nasci, nasci sem vontade
o tempo começava aí 
a roubar-me a idade...
começava o ano, fazia frio
mas lá fui nascendo, trazendo
comigo a força do rio.
gritando magoada, a voz ferida
senti-me perdida,
o dia cinzento, estranho,
e eu sem tamanho,
sem nome
sem saber quem era, 
resolvi não querer...e minha mãe à espera!
eram as curvas e encruzilhada
subi uns degraus voltei a descer
e meu coração batia de medo
de não ser amada, 
então pra nascer, ainda era cedo!
daí a saudade do lugar donde vim
onde me abria como uma flor
não tinha idade, nem nome, 
mas sentia amor...
nasci por fim, no xaile da mãe enrolada,
era então madrugada e eu vim
pronta para amar e pra ser amada.

natalia nuno
01/2008