domingo, 19 de outubro de 2025

o que resta da infiel memória...


na parede da casa de branco caiada
desenha-se a minha sombra escurecida
e solta-se ao meu ouvido a palavra saudade
da juventude sonhada, 
p'las águas acariciada
que não mais me será devolvida

olho o sol nos canaviais
desperta-me do mais profundo
garras da memória provocando meus ais
dois tempos dois lugares
- meu mundo!

nestes lugares habita o sopro da minha voz
apesar dos anos decorridos
e apesar da solidão crescente
ainda trago nos sentidos,
a sombra do sol, morrendo no poente

e um tapete dourado se estende
irrompe na paisagem
a água do rio torna meu vestido transparente
como antigamente e,
a minha imagem
é como mistério, que se esconde
como enigma que ninguém sabe por onde

acato o destino
cai a noite na aldeia e também na minha vida,
nasce um poema pequenino
com palavras que amo de lembranças queridas
leio-o agora que termina
admiro-o como peça de relojoaria
é um sonho do meu tempo de menina
e enumera as pulsações do meu coração dia a dia.

natalia nuno
imagem pinterest