sexta-feira, 16 de julho de 2021

sonho confuso...



pareci morrer
mas não era a minha hora
mas um dia tem que ser!
partirei sem demora.
virão dias de vendavais
substituindo os dias de paz
haverão choros e ais
mas já tanto se me faz!
rezarei contas dum rosário
que se parecem às contas dum colar
tal como a vida um fadário
peregrina fico a rezar
à espera d'algum milagre
espero com resignação
mas então já será tarde
para meu pobre coração.

vou rezando ladainhas
dada a ausência de ideias
ideias que são tão minhas,
como são das aranhas as teias.
na manifestação desta dor
não consigo abster-me da confusão
será paixão pela vida, será amor
que causa em mim tão grande aflição?

de amor morri
mas não era a minha hora
fiquei aflita, desmereci
mas não esmoreço por ora!
sonho com lenços de cetim
sonho dizendo-te adeus
e tu saudoso, choroso por mim,
com voz trémula, embargada
dirás, a vida sem ti é nada.

natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 15 de julho de 2021

anoitecem as rosas...



anoitecem as rosas,
que irão morrer de madrugada, 
e há sempre um verso que me foge
ele que era chão da minha jornada
sempre há um que me aguarda
e outro que regressa e se entrega
fiel e meigo, ternurento me pega.

vem o sol que dia a dia
traz promessas, e retrocede a tempestade,
acaba com a tristeza que em mim existia
e as rosas, que morrem deixam saudade
impossível o tempo travar,
como é frágil a minha estrada!
vêm meus pássaros entoar
cânticos na minha voz magoada.

doida por morrerem as rosas
digo-lhes adeus sem despedida
em mim secam palavras amorosas
com elas me foge a frescura da vida.

natalia nuno
rosafogo



quarta-feira, 14 de julho de 2021

versos que não escrevo...





como salvar os versos que não escrevo
e os que deixo cair ao chão?
já nada pode surpreender
se nem eu sei, o que me vai no coração.
são tão simples, deixo-os emoldurados
no pensamento um a a um a cada momento
versos que ninguém vai ler um dia
versos sem asas, sem sonhos, sem harmonia
muita coisa pode acontecer
mas versos que não escrevo
estão destinados a morrer
esmagados no meu peito, não sei se devo
é triste, são pássaros a quem não dou liberdade
pequeninos sóis a quem tiro a claridade.

como salvar os versos que não escrevo, 
versos a quem eu amo e odeio
me confundo a cada passo, será medo?
são simplesmente meu retrato, creio.
deixo-os num beco sem saída
vão ardendo nesta solidão serena
poemas que são toda a minha vida
palavras mudas que guardo neste poema.

natália nuno
rosafogo

terça-feira, 13 de julho de 2021

esquecer o vazio...



celebra-se a chuva
agitam-se os ares
ficam teus passos mais inseguros
sem mesmo o desejares.
o pulsar do sol, faz parte do teu dia,
e na tua essência de terra,
existe íntima festa com a natureza,
assim, tua vida será com certeza,
como o despertar do alvor
um raminho de giesta
na almofada...com amor,
e o amor sempre em festa.

o sopro da brisa ao teu ouvido
despida de máscara, feliz serias!
numa melodia alada, plena de alegrias,
a felicidade livre faria sentido...
um cântaro cheio de claridade,
a adoçar o vazio... complemento da tua saudade.


natalia nuno
rosafogo



rosas do meu jardim...



acende-se a noite de palavras
que com as mãos vou semeando
preparo- as devagarinho
aguardo a lua cheia e vou sonhando
no doce silêncio da noite, com carinho,
somos tão íntimas, que as sinto
perdidas em mim, dentro de mim
num enorme labirinto.
palavras que me deixam a sonhar 
enquanto o tempo me foge
palavras sem amanhã, que escrevo hoje.

a noite persegue, lembro a vida inteira,
palavras, que me enlouquecem 
e em mim permanecem, companheiras,
que teço com fios de luar
e ao mais longe da memória
me levam a sonhar.

é preciso semear, é o destino a que vim
palavras em poesia deixar
que são rosas do meu jardim.

natalia nuno
rosafogo




domingo, 11 de julho de 2021

o rumor da solidão...


só a solidão me amedronta
gosto de sentir a cadência da água
esquecer da solidão a afronta
e da saudade a mágoa
de ver o tempo fugir
ficar neste melancólico outono
sentir o abandono
perdida no meu divagar
como se fora gaivota perdida
no mar...
gosto de lembrar o tempo
em que subias pelo meu corpo
como o sol, em que eu era para ti
um girassol, que te envolvia
como atiçado vento,
gosto de ter-te em meu pensamento
invento sonhos, quando a solidão
me apoquenta e a vida se espalha lenta,
no coração neste final de estio
onde só a saudade corre como rio.

arrasa-me o tempo
meu olhar perde-se na vastidão
deixo poucas palavras por dizer
ainda bate meu coração
vai-se apagando em si mesmo
na inquietude que é viver.

natalia nuno
rosafogo