sexta-feira, 15 de outubro de 2021

bálsamo do tempo...



a saudade traz o bálsamo do tempo
antigo, mergulho nela sem rumo
às vezes recua delicadamente
e a vida esvai-se em fumo.
em cada poeira varrida do nosso olhar
agitam-se as flores a cada momento,
sem nenhuma murchar,
esperança mágica, que nos afaga
o pensamento.
vazia de palavras, meu corpo já se rende
vergada ao fim do dia,
a luz fluindo na memória ascende
o sol é meu confidente
tudo é a meu favor
a beleza da tarde envolvente
e o vento ainda volteia no ar,
a memória de acordes a transbordar
e mais um dia a deixar saudade
e o sonho que eu amava?
será só ingenuidade?!
nada tão doce como o primeiro ardor,
estremeço, só de pensar
- nesse tempo d'amor.

natalia nuno

parte de mim...



é na escuridão da noite 
que mais cresce a solidão
que mais se sente a vida gasta
e mais dela o tempo me afasta
consumida vou p'la noite fora
com o resto de esperança que ainda
em mim mora...
é na noite que me sinto pouco mais que nada
tomara chegue a madrugada,
mas o negrume não tem fim
e um arrepio se faz em mim!
sonho acordada, a noite vai alta,
dissimulo que a tristeza não existe
talvez surja um momento de serenidade
se estou triste, não é por minha
vontade...
hoje estou ausente,
arranjei asas e voei
esqueço os silêncios da noite
também os ruídos do pensamento
talvez o sonho me acoite,
a vida não seja mais um lamento,
seja chama intensa
e, a minha mão de solidão
a tristeza vença.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

doce loucura...



a solidão descansa no meu peito
e é à noite que se torna atroz
acabando por dormir no meu leito
e a saudade logo aparece veloz
trazendo memórias que bem lembro
do tempo de emoção e deslumbramento
no silêncio da saudade
ainda me ponho a sonhar
como se a vida fosse eternidade
e o amor tão grande como o mar.

sinto-me um pássaro livre
a liberdade me acalma e embriaga
e a criança que em mim vive
fica sedenta à espera que a vida lhe traga
mais um sonho alado
como nesse tempo já passado.
volto a sentir o aroma a jasmim
e a apreciar de novo o sabor desses momentos
doces sinfonias do amor em mim,
e minha alma a ganhar novos alentos

em doce loucura até à exaustão
tudo isto é mais que a visão dum sonho
é deixar bater forte o coração
eternizar nosso amor de estrelas risonho.

natalia nuno
(poema iniciado em 2001)

terça-feira, 12 de outubro de 2021

prenhe de fantasias...



na tranquila tarde o sol ateia
meu coração pula alheio
ao que o rodeia...
meus olhos sem receio
despedindo-se das vidraças.
e no esgaçar da memória
lembro-me de momentos
em que me abraças.
foge-nos o tempo de sorrir
aproxima-nos o tempo de ir
dói-nos o peso da verdade
alguma amargura, esperança pouca
e tanta saudade,
tanta coisa por dizer
mas seca-se-nos a boca.

há um rumor de beijos no ar
que nos faz lembrar nossa primavera
quando contava os segundos para ver-te chegar
que feliz eu era!
agora, neste entardecer, há um eterno sentir
num canto do coração meio adormecido
que ainda nos faz sorrir
ao lembrar nosso amor colorido.

fico dorida a pensar 
no sacudir da vida
lançando-nos na poeira do esquecimento
como fruta que ficou no pomar esquecida
onde já nada germina,
onde não sou mais menina
nem brilha meu olhar como estrelas e o luar
hoje prenhe de fantasias
invento palavras loucas
que para lembrar-te são sempre poucas.

natalia nuno
imagem pinterest

domingo, 10 de outubro de 2021

e tudo o vento levou...



sobre os socalcos ventosos
passa uma nuvem cinzenta
que me consegue distrair
assim, meu coração se aguenta
em mais um dia que há-de vir.

uma névoa de chuva densa
misteriosa e imponente,
lança tudo na escuridão
enquanto o medo fustiga
as paredes do coração.

respiro profundamente,
ouço o grito no horizonte
do ribombar do trovão,
e no cimo do monte
árvores inclinam ao chão.

apaga-se a candeia com o vento
reza a avó com devoção,
ainda no meu pensamento
ouço o farfalhar do rio
vejo a lareira meia acesa
esse dia longínquo o frio
amolgava meus olhos de incerteza.

o vento fustigava as janelas com cortinas
de pano puído, soprando livremente
até outro dia ter nascido
o verde das hortas brilhante e, novamente
o sol aparecia,
a avó à Santa Bárbara rezava
enquanto  o vento inda gemia,
mas já a lareira ateava
e na candeia a luz bruxuleava.

voltava ao campanário a voz
a água do rio era agora leitosa
e o chão da terra ficava ensopado
a vida continuava custosa
mas a resistência é grande éramos por Deus
um povo amado.  

a boca da mãe sorria, tudo volta a ter encanto
na do pai, nem um ai,
e eu feliz no meu canto, 
ao lume
ouço a reza do costume,
que tem a força que tem!?
a avó rezava seu rosário como ninguém.
hoje, resto eu!
tudo o vento levou e a morte se afadigou.

natalia nuno