sábado, 2 de dezembro de 2023

queimando meu olhar longínquo



as nuvens andam embaciadas
o tempo cinzento
chega o negro das noites desoladas
tudo é incerteza e escuridão

e eu sem alento!

a memória atravessa recordações
meu corpo são ribeiros de veias
espelhando os meus segredos,
vou desnascendo as ilusões
caio na fronteira dos meus medos.

hoje sou uma tela derrotada
sou perdida paisagem sem remédio
tudo é incerteza e tédio, 
na escuridão
levo extenuado o coração.

ávida a vida se evade
eu arauta do silêncio, ouço
o eco insistente da saudade!

natalia nuno
rosafogo



quinta-feira, 30 de novembro de 2023

quimera...



hoje escrevo versos de silêncio
calados cá dentro do peito 
cinzentos como a neblina do dia
vou amaciando-os ao meu jeito
nesta luz de outono
gritantes de nostalgia
que se despenha no meu corpo

desistem de mim as forças
o tempo flui e não pára
preciso de sol que me encandeie a pele
acariciando-me como doce mel

a vida é um barco de lenços acenando
que na fúria deste mar vai partindo
já pouco há que celebrar
a viagem findou
e eu com ela findo

na memória aprisionei o céu de Setembro
e o pôr do sol ao fim do dia
para ver se sempre me lembro
e se a memória não se extravia

a quimera nunca mais quis ser quimera
e eu sonho chegar à próxima Primavera

natalia nuno
rosafogo
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domingo, 26 de novembro de 2023

apenas a saudade...

uma nuvem negra desce
e na memória cresce...
a nostalgia traz a noite, a incerteza
de sonhos, ainda assim,
- a vida vai fluindo!
cálida, com matizes de velhice.

cinzenta sobrevivência, às vezes
com murmúrios e tolice.

velozes correm lágrimas 
em turbilhão,
despenham-se p'lo rosto
nascem rugas de solidão,

precipita-se uma avalanche de vento
e na memória crava as garras
pronta a levar-me ao esquecimento

as palavras acariciam minha boca
como a querer consolar-me,
louca, agastada na obscuridade,
fica então entre mim e esta folha
apenas a saudade!

entrego à noite minha loucura
gravito em espaço cego
escrevo sonhos de angústia e paixão
e de repente cai no vazio
a imaginação,
fica a face do silêncio
- tudo é incerteza e escuridão!

natalia nuno
rosafogo
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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

palavras azedas...



há palavras dolorosas podem crer
deslizam na mente e causam agonia
um dia percebe-se que fizeram doer
pedir perdão, fora de desuso hoje em dia

há sempre muito mais por dizer
mas nem sempre tudo pode ser dito 
delapida a esperança, deita tudo a perder
boa, é a palavra dignificada, eu acredito!

têm-se mil para maneiras de dizer
e as palavras elevadas não se perdem!
as que dão esperança, as de bem querer,
ficam na memória e jamais esquecem

às vezes como uma espada causam ferida
mais vale o aroma duma palavra... amiga.

uma vez e outra vez mais, e tudo termina
cremos que sempre saberemos, sem saber
tudo o que sabemos é a vida ...nos ensina!

escrito em 2010
natalia nuno

terça-feira, 21 de novembro de 2023

indiferença...


é no silêncio da tarde
que envelheço eu e meu dia
enterrando-se nas sombras
e penso que na verdade
não sei quem me amou
nem sei se amei a quem devia

tudo deixo para trás
com um sabor nostálgico
final de viagem, em paz.

caminho que já não oferece
qualquer regresso
nem envolve qualquer esperança,
e o amor é perdida luz,
permaneço nesta letargia
desde quando as estrelas dormem
até â luz intensa do meio dia.

e é na tarde que meus dedos 
adormecem, e esquecem
os anos vazios 
a  cruel saudade
com cinzenta indiferença,
e da vida a profunda paixão
vai-se apagando dentro do coração.

o vento o golpeou 
e a solidão neste estado o deixou
com a nostalgia daquele que já
nada possui.

natalia nuno







domingo, 19 de novembro de 2023

odor a solidão...



noite fatídica ancorada na insónia
diz-me que estou vencida
anoite e a sua nostalgia
como que a predizer a vida

trago o meu fervor à deriva
o silêncio diz-me que estou só
mas nos meus olhos a sede
da beleza do dia, sinto-me viva.

sou flor solitária à espera do sol
que me alenta na sede e no pranto
na memória a liberdade do mar
e as cicatrizes mal curadas do coração
tristezas por enterrar
e ainda o fogo verde da ilusão

ameaçador o pulsar das horas
sinto-me engolida pelas águas
rumor de mágoas
odor a solidão

natalia nuno
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domingo, 12 de novembro de 2023

palavra solitária...


saber-me viva
aqui onde não me podem alcançar
só a solidão é minha companhia
e versos ainda verdes, que sempre vou amar

lanço palavras ao acaso
como quem anda à procura
e é tamanha a nostalgia
que de loucura me arraso,
me derrubo dia após dia

mas há sempre uma onda ardente
que me arrasta
e lá sigo adiante, confiante
como quem nunca parecera envelhecer
eu, e a inútil palavra solitária
que se aproxima e evade
e é ferida aberta, saudade.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest