terça-feira, 17 de junho de 2025

os olhos das minhas horas...




dentro dos olhos das minhas horas
há promessas por cumprir
sonhos por realizar
memórias atadas
silêncios,
e sombras do meu sentir

o tempo transbordou
e a saudade aumentou,
o vazio devorou os sonhos
derramou o amor e sua quimera

voltar à juventude quem dera
à promessa dum voo sem fim
que fugiu de mim

resta a memória extraviada
onde não há mais sóis
apenas um silêncio errante,
na lezíria dos meus sonhos
havia girassóis,
- livres e embelezados!

são agora as velhas palavras
a apagar o aroma da antiga
inocência
e os sonhos jamais realizados.

natalia nuno
imagem pinterest


domingo, 15 de junho de 2025

cinco tostões...memórias




uma das melhores memórias, 
as idas à biblioteca
onde ia para o tempo entreter
velhos livros lia, alguns não
próprios para a idade, 
sem recomendação  
era o passatempo, uns  leves
outros pesados,
alguns ainda lembrados.

custava o aluguer de cada um
cinquenta centavos  «cinco tostões»
lidos à luz do candeeiro
enquanto o sono não era pego
era o tempo das ilusões...

era feliz assim
não descansava enquanto
não lhes via o fim

sossegadamente, horas seguidas
lia
e o céu era meu,
e assim o sonho cresceu
e a inquietude me consumia

a tenacidade enlaçava-me
e hoje faço das palavras aprendidas
Poesia!

surgem poemas de saudade
consumidos, quando recordam
tudo o que amei
e momentos por mim vividos
que sempre recordarei!

natalia nuno


o presente, perdido no passado...



hoje vi um rosto triste
como aquele que dá pena ver
com uma ruga taciturna a doer
como o tempo que põe sombra
no arvoredo
este rosto, me deu medo!

hoje espiei esse rosto triste
procurando-o como um cego
a escapar-se ele insiste!
por entre as ramagens, o pego

hoje de novo esse rosto triste
para ser precisa é  como a noite
sustendo a respiração, e insiste
ser lembrança de escuridão

hoje vou esquecer o rosto triste
o silêncio murmura por perto,
sonho com o que ainda existe
para merecer de Deus,
- o caminho certo.

natalia nuno







Poema Marés de Natália Nuno (privilégio)

privilégio...

 https://youtu.be/WXUDFixqE2c

Este menino adora Poesia e é fã da minha. já é a segunda vez que me envia um vídeo com a leitura dum poema meu, sou pois premiada com mais esta homenagem com o Francisco lendo o Poema «MARÉS», com o qual iniciei a partilha no LUSOPOEMAS. Embora não o conhecendo pessoalmente, agradeço-lhe o carinho com que lê, grande recitador, sinto-me uma privilegiada, obrigada.

natalia nuno



domingo, 8 de junho de 2025

olhos selados no ódio..




enche-se de inquietação
o coração,
entre meus ouvidos o som 
da guerra
e do choro, que deixa um fogo
preciso na minha escrita
tudo ela devora
- guerra maldita!

destino e sua impiedade,
onde habitaram quimeras
a dor agora não sara
já não há primaveras,
e como um tear que não pára
chegam notícias gritantes
e morre-se a todos os instantes

olhos selados no ódio
surgem de suas entranhas,
injustiças tamanhas
atormentando um mar de gente

com avidez rancorosa
e uma teimosia indiferente

não há um sonho eminente
a paz não encontra retorno
há morte e o fumo embacia
o poente

quem dera que cada homem
estendesse uma ponte
e que o amor fosse a fonte
que a todos a sede saciasse

natalia nuno

quarta-feira, 28 de maio de 2025

perguntas que a mim faço



às vezes encontro respostas
que queria ignorar
a perguntas que a mim faço
ao olhar o rosto,
morto de cansaço

desencadeia-se um nevão
na alma e no coração
as lembranças também fogem
aos dedos de solidão,
fico cativa, como a que não
está morta nem viva!

um sopro de cinza permanente
é a sombra da recordação
que o coração sente,
a saudade dos trinados
das promessas e ardores
desesperados, e desencontrados

mansas lágrimas pelo perdido,
crescem nos olhos como formigas
tantos anos ter vivido!
trago o rosto enrugado
memórias consumidas
de tanto labor, tantas fadigas.

natalia nuno
imagem pinterest