sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

já a manhã se assoma...



como é bom sentir o cheiro,
da manhã, 
deixar as palavras sossegadas
lembrar apenas gestos de amor

saudade o coração a sente
os olhos a lacrimejar dão a entender
como se pode ser indiferente
a esta saudade?
passam-se dias, fogem as horas
e por perto
logo a morte sem demoras

na solidão recordamos
amores vividos
que nos acordam o corpo e a alma
despertam todos os sentidos

a doçura também pode ser amarga
quando se extingue a felicidade
e a saudade, não nos larga

e de repente uma ânsia de ternura
um vai vem de sombras melancólicas
enquanto a saudade perdura
e eu ensimesmada, querendo deter
o tempo,
levantar o meu pulsar
decifrar a claridade desta manhã
com paixão por mais um dia no olhar.

sábado, 30 de novembro de 2024

sortilégio...



a saudade sempre vai comigo
enraizada nas lembranças
chamando-me, fazendo em mim
abrigo
deixo-a em liberdade 
e nos meus dias brota a nostalgia
e, nem os sonhos se convertem
em verdade.

agora, cada palavra é pássaro
que voa
é formosura escrita
é a saudade que grita
para que a dor não doa!

saudade sopro de ternura
traz-me o trinado dos melros
e a ventura de recordar a juventude
na brisa dos canaviais,
leva pra longe meus ais

urde os passos dum poema
é andorinha que rasga o vento
quando ela é o tema,
é paixão não é lamento

nasce a poesia, doce e bela
é mar no meu olhar,
logo a saudade a quere-la

e eu sou um navegante
é suave é amor, 
que enraíza em mim no instante.

natalia nuno

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

a outra e eu...



tenho medo de escrever
medo de sair de mim
e não voltar
a que escreve, traz a palavra
emocionada
fica intensamente ligada
à sua loucura
sabe amar ainda com paixão,
mesmo sendo mordida de amargura

voltará a mim ou não?

tenho medo desse enamoramento
desse sacudir os versos
que a adulam
desse afogo e desafogo
desse  gosto e desgosto
entre ela e a poesia
não volte mais a meus braços
nem noite e nem de dia

mas sempre lhe sigo os passos!

olho-a face a face
vejo-lhe a paixão ardente
e indago porque razão?!
se quem sobrevive não é gente
talvez nem sua paixão.

leva-me a supor
que quer levar-me ao desespero,
mas sempre por ela espero
com amor, um ardor, belo
sentimento, 
dividido de admiração
entre a outra que escreve e eu
e esta paixão 
que em nós cresceu.

natalia nuno
imagem 

terça-feira, 19 de novembro de 2024

prementes sonhos...

chegou quando sonhava
um som, à minha janela
era o inverno em segredo chegava
com uma carta de recordações
com palavras calando
nostalgias e cegas ilusões
num instante soube
que era a dor selvagem
dum grande vazio

débil a minha voz de frio
meu sentir,
foi um clamor apagado
o corpo quebrado.

onde deixei a branca primavera
o verão estonteante
e o fervoroso outono?!
lembro agora:
extraviados, num percurso
já distante

prementes sonhos, frio e nostalgia
despeço-me de outubro
e de saudade me cubro
até um dia.

natalia nuno


terça-feira, 12 de novembro de 2024

umas linhas d' outono...


e como a vida foge
surgem nuvens cegando
o nosso bem estar
um vento forte
na fronteira com a morte

contemplo o silêncio que me
envolve
sinto o desamparo em frágeis
instantes
um navio perdido entre a bruma
uma vida com tudo, e sem coisa
alguma

mistério de sonhos invictos
absurda miragem do que não alcancei
e um dia quis
um porto seguro onde ser feliz

felicidade
é clara e anunciadora
dum azul céu
mas pouco duradoura,
surge a solidão, inverno
que não termina,

sonhos, eu tenho desde menina!

sou como tarde declinante
que entra em escuridão
range o tempo e o tédio
fazem moradia no coração

um dia voltarei pela sombra
azul do arvoredo,
sentir-me-ei alegre e redimida
então rirei
do segredo celeste da vida.

natalia nuno

domingo, 10 de novembro de 2024

sonhar, distanciar a pressa...



um sonho vem à mente,
como uma tristeza que surge
do outono, ou ditosa luz de verão
e descarrega na gente, então
um fardo de lembranças 

abraça-se uma a uma
com olhos d'água
palavras, poucas ou nenhuma
precipita-se em nós a mágoa

a saudade senta-se 
ao nosso lado,
como dona, entra em casa
e faz estadia,
trazendo com ela 
um fardo de nostalgia
e a ventura que foi nossa um dia

o amor vive enquanto queima
abre-se um sorriso de esperança
o coração teima,
ganha-se um pouco de alento
e ousa-se agarrar o sonho
mesmo de rosto já macilento.

o coração vive enquanto bate
esquecer a ventura que é sonhar?

não!
minha alma absorta...
distancio a pressa
- nem que o poema
tenha de rasgar!

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

o eterno inimigo...tempo



ando à procura dos sonhos 
onde possa abrir caminho
aos salpicos do sol,
desde a aurora ao arrebol

procuro sorrisos vestidos de branco
visito imagens escondidas
nos recantos da memória,
olho os brancos da fisionomia
que vão descrevendo minha história

antes que minha ânsia
continue a debater-se
antes que tudo me sufoque,
ando à procura de papoilas
que habitam os meus dedos
e que a esperança os toque!

procuro uma lufada de ar
quente,
para que a vida não acinzente,
caminhar sem dúvida, o caminho
até ao fim
não deixar a apatia chegar a mim

não quero tornar inútil a jornada
trago imagens a borbulhar
na mente e a vontade redobrada,
quero ser água livre, 
que nem pássaro poder voar

e a palavra sempre me ensina
uma porta de saída!
para o sonho, para a vida.

natalia nuno