quarta-feira, 4 de julho de 2018

eternizar o sonho...




gosto de lembrar quando punha flores no cabelo
era eu uma flor de cheiro campesina
com perfume a flor de laranjeira
gosto de lembrar meu cheiro de menina
menina, que trago comigo a vida inteira
gosto de eternizar o sonho em mim
deixar-me como se fosse intemporal
e adormecer neste sonho
como se ele não tivesse final

gosto de lembrar a fita escocesa
e o cabelo negro esvoaçando ao vento
olhar o campo as flores a natureza
e as estrelas à noitinha no firmamento
gosto de esquecer o amargo da emoção
de esquecer os dias que já não têm luz
entregar-me de alma e coração
ao desejo da memória que ainda me seduz
gostava de esquecer o medo, o frio
o vazio, de recuar ao tempo de menina
vestir meu vestido de popelina
olhar-me vaidosa no espelho d'água
e lembrar-me saudosa mas sem mágoa
gostava que uma janela se abrisse
e na paisagem dos teus olhos
menina ainda me visse...
e do sonho tudo pudesse de novo acontecer
e os sobressaltos da vida para sempre esquecer...


natália nuno
rosafogo
escrito em 10/10/2009




palavras perdidas...


perdem-se as palavras, sem objectivo
como folhas caídas em dia de vento
perdem-se tímidas, sem lenitivo
e ficam perdidas na vida sem tento
e às vezes, não chegam para dizermos
da imensidão do nosso querer
outras saem da boca sem querermos
e dizem o que nos vai na alma, sem temer.

difícil é encontrar as palavras certas
para exaltar adormecidos sentimentos
perdem-se em silêncios, em linhas desertas,
desvanecem, entristecem de tantos lamentos.
são elas beleza, quem escreve não sonha, nem sabe
acha sempre a última mais bela que a primeira!?
quando esta é como o botão que se abre
que o Sol sorrindo leva na dianteira.

tanta palavra perdida e o poeta ao lado!?
perdido também ele na sua canseira!?
nem sabe se lembre... ou esqueça o passado.

rosafogo

natalia nuno





segunda-feira, 2 de julho de 2018

mais morta que viva...



cai o orvalho no meu sonho descuidado
vem do choro das ribeiras ao primeiro
raio de sol, trazido pelo vento norte
traz das rosas o cheiro
e a notícia gélida da morte
estranha mágoa deixa-me pensativa
sinto-me flor em jarra d'água
mais morta que viva.
há nuvens sombrias e os lírios
estão tristes, passam os meus dias
e nem sei se existes, oculto amor
oculta dor, por mim já choram os laranjais
e um rouxinol na tarde canta os meus ais
meus olhos adormecidos, deixei-os a descansar
enquanto o silêncio à minha volta é tumular.

medonha e baça é a luz do candeeiro
chegou a noite saudosa, outro sonho desfeito
descanso a cabeça no travesseiro
e sonho com o amor que me cabe no peito
olho as velhas estrelas, e penso como foi
curto o caminho, o azul já não fica distante
e eu quero deixar-me morrer ...lentamente
à luz do poente.

natalia nuno
rosafogo