sábado, 13 de junho de 2020

AMO A VIDA...



desce a mim
o bálsamo da saudade
ao longe ouço o chorar da fonte
chora com suavidade
como quem chora à despedida
vai a vida
a mais de metade
quase toda está vencida.

encho o vazio das horas
de lembranças e de saudade
do anoitecer às auroras
fugindo à realidade.
e quando irrompe a noite escura
um sentimento de solidão
então deixo-me em ascenção
num sonho de leveza pura.

olho as nuvens à passagem
lentas como meus pensamentos
andamos nesta viagem,
a aguardar melhores proventos.
já não sou mulher guerreira
sou rouxinol morrendo no ramo
mas serei sempre a primeira
a dizer à Vida: eu te amo!

natalia nuno
rosafogo

o outono...



o outono cala as suas sombras, desespera por cobrir a solidão que se faz sentir apesar da beleza e, a folhagem vai caindo como um pranto ao acaso e sem medo, virá de novo a primavera e logo depois dar-se-á o renascimento... só a vida não volta....

natalia nuno

quinta-feira, 11 de junho de 2020

o tempo é abolido...



o tempo é abolido e a cada instante é deslumbrado o olhar... a vida sempre abre uma fuga, para esquecer o que vai mal no presente, abre-nos um outro caminho e nós acreditamos na luz da quimera, do amor, ou de algo que nos parece bem ao olhar...quando o sol se vai no horizonte à distância fico a decifrar o tempo e a sombra começa a penetrar-me a alma, então sou a aparente quietude dum lago onde a água é calma e transparente e nada nem ninguém consegue turvar...

quarta-feira, 10 de junho de 2020

bem vindo o azul da noite...




bem vindo o azul da noite sobre o rosto verde da folhagem, logo é a hora em que os corpos se enrolam, as bocas se juntam, famintamente se amam... a janela continua aberta, recebendo o vento amável, só ele testemunha o absoluto deleite do amor entre quatro paredes... vai implorando morrer entre os amantes...encostada a uma esquina a lua traja de prata, alheia à janela aberta, tocando com os lábios a terra a seus pés e, deslumbrada, olha cada palavra que o poeta frustrado, coloca sobre o papel branco da côr das flores da magnólia, e deixa num verso uma réstia de doçura..
natalianuno

terça-feira, 9 de junho de 2020

no poleiro da memória ...



no poleiro da memória papoilas vermelhas a atear a chama antiga, neste outono onde os desejos e os sonhos ainda não empalideceram, e são razão bastante para me arrancarem da solidão... não há rio de tristeza que me afogue, nem loureiro que não me abrace, e eu respiro na margem como se ainda fosse fim de verão, mas já o outono me açoita, e o inverno me cerca... uma ameaça fere e suga-me o ânimo...o tempo! quero adormecer sobre minhas lembranças, perder-me nos passos até ao fim da rua onde teu amor me chama, e entregar-me como lírio silvestre se entrega ao sol num último gesto, logo que a manhã se afoga ou o entardecer se rasga...crio assim em minha mente um espaço de beleza e amor, entre o silêncio e o vazio e, o coração se aquieta...
natália nuno