sexta-feira, 19 de março de 2021

olhei o nascer da lua...


olhei o nascer da lua o dia passou,
penso como poderia ter sido
diferente a nossa vida,
se tivesse podido
viver o sonho da juventude,
lá fora a escuridão da rua,
esta é a hora a que amiúde
meu coração acelera,
dentro dele o amor à espera,
mas a angústia inunda-me a alma
como se o vento a açoitasse,
porém exalto de excitação
como se alguém me falasse
com doçura..

lateja-me o coração na garganta
meu corpo prende-se ao teu
teu beijo queima-me o rosto,
nem dei pelo sol posto...na lonjura do céu!
vem a noite buscar os restos tingidos
do sonho, entra pela janela a lua
e deixa-me nesta melancolia.
minha alma nua.

olhei o nascer da lua
esperei ouvir teus passos
ansiei por sorrisos e abraços
esqueci tudo ao redor, e tua,
entreguei-me nos teus braços
como quando éramos jovens
onde tudo era tão terno...

nos ventos da tarde vou atravessando o inverno
com esperança e amor no meu caminho
como alegre rapariga, levada p'la tua mão
perdida em sonhos, voando leve meu coração.

natalia nuno
rosafogo
2011/02

o escoar da vida...


solitária, sou a sombra que resta
ansiando que o dia nasça,
que rompa a claridade
que seja motivo de festa.
o que em mim resta de saudade,
é este meu poema que germina
fruto da minha imaginação,
meu olhar desafia meu rosto de menina,
numa catarse derradeira
sofrida, agora apenas recordação.

vou remoendo o escoar da vida
trago tudo apertado no peito
olho a geada, daqui a nada perdida
reinvento para que o dia seja perfeito.
vou renascer!
nem que seja na minha remota lembrança
e num doce bálsamo adormecer,
sonhar com meu universo de criança.
de todos os lados do céu
um eco desprendido da infância
lembranças acariciadas
por minhas nostálgicas mãos
nestas horas aprofundadas
em viva ternura
com a saudade que em mim perdura.

natalia nuno
rosafogo

quarta-feira, 17 de março de 2021

Sina traçada...



é preciso manter aceso o lume
que a sina está traçada
para a vida e para a morte
é preciso conservar o perfume
ter brilho, ser concha nacarada
melhor pode ser a sorte
que Deus tem pra nós reservada.

há que deixar
aflorar o sorriso
iludir a passagem do tempo
é preciso!
recuperar a alegria
sem ela só noite seria.
conseguir a paz
no resto que de nós ficou
assim me dou
aos anos que cansaram meus passos,
assim me dou
com sonhos e alguns cansaços.
já sei que não me resta tempo desejado
é este o destino traçado.
as perguntas que me faço e me preocupam
são sóis a girar,
são a brisa a chegar de manhã cedo
são a vontade de gritar meu medo
são a alegria onde cantou a primavera
já não tenho mais que engendrar
já nada me espera...


natalia nuno
rosafogo
imag. net
2010/2
este poema é de esperança, porém prevalece a descrença no seu final difícil, não há sentimento firme que nos liberte da sentença que trazemos connosco.

oceanos de ternura...


posso dar asas ao vôo
quimérica onda de brancura
lá longe até onde eu vou
há oceanos de ternura,
valente o mar, onde meu olhar
se esfumou,
olho o azul do céu tristonho
traz-me a saudade e o sonho
ele e eu pleno entardecer
ansiedade em mim a crescer!
nostalgia, aguardo ver novo dia,
desmesurado é meu coração
que se entrega à magia...
logo a vida resplandece em busca de amor
ou felicidade a alcançar,
ou a dor de sempre, de não ver-te chegar.


sinto-me navio perdido entre a bruma
temo em não me apaixonar
antes que o sonho se suma!
ou seja a tarde declinante escuridão,
e na obscuridade permaneça para sempre
meu coração.

natalia nuno
rosafogo
2009

terça-feira, 16 de março de 2021

onde me levas?...

quimérica imaginação
onde me levas?
tenho medo de acordar
expôr o coração à poesia
porque a morte há-de chegar
diz-me o pensamento noite e dia.
não ouvirei mais o ruído das águas
nem o sussurro do vento,
morrerá comigo o poema das minhas 
mágoas, e a saudade onde me alento,
neste poema em que meu peito é raiz
quero acreditar na vida que tanto quis.
acreditar, que meu mar ainda não secou,
meu coração está quieto, sereno
como o amor que sempre nele morou.

imaginação onde me levas,
como posso novamente voltar?
os dias amontoam o vazio no coração
deixam-me perdida nas sombras da vida
a vida a escapar, confusa e confinada,
perco os sentidos, outra vez ressuscitada?
preciso acreditar!
e a esperança preservar.

natalia nuno
rosafogo




segunda-feira, 15 de março de 2021

quero ser menina outra vez...



há crianças de riso aberto
amoras silvestres
e cigarras escondidas
que tocam violino por perto,
nas framboesas abelhas atrevidas,
manhãs sem palavras,
meu sonho desperto...
saltitam os peixes no rio
no degrau da memória permaneço,
coração frio, 
desbravo agora recordações
que não esqueço, trago o
rosto enrugado de tantas emoções.
no andar dos anos de nada esqueci,
ao regressar a mim, revivi a
saudade de tudo,
de horas sem receios restam agora anseios.
como planta sequiosa, trago sede de viver!
a solidão, provoca melancolia
deixa-me ansiosa,
minha vontade a adormecer.

quero voltar a sonhar
deixar-me p´la vida acolher.
deixar de fingir que existo
atirar um grito à toa, deixar cair a máscara
quero ser pássaro que voa
quero esquecer  as horas de desgaste
beber de novo as palavras
dedicar-te um poema a ti que 
me amaste!

quero ser menina outra vez
de riso aberto, 
nuvem esquecida de passar
meu sonho desperto... mas
com medo de acordar!

natalia nuno
rosafogo
2011

domingo, 14 de março de 2021

entretecendo pensamentos...



este zumbido que me enlouquece
restos de festa soam-me na mente,
como enxame de abelhas em festim
e se o corpo desfalece
e o coração já não sente
é o fim...
ou o principio do fim!
jubilosa, festejo ainda
a vida, resignada como rosa 
desfolhada
e, esta dor que não finda.
como malmequer  que não
resiste ao vento
também o sonho vai caindo
no esquecimento.

há coisas que a gente não esquece
olham-se em silêncio as molduras
enquanto o tempo nos envelhece
o coração é pássaro de penas escuras.

natalia nuno
rosafogo
2010