sábado, 31 de agosto de 2019

mágoas que se prendem...



as coisas do dia a dia
são coisas com que me entretenho
como pequenos frutos que vou colhendo
desde o imenso tempo de onde venho
as lembranças vêm devagar até mim
e a vida parece-me imensa
e por fim, chego exausta ao anoitecer
o silêncio é meu chão e a saudade é
intensa em meu coração
os dias são de colheita, mas nem todos iguais
de mel ou de fel, de sentimentos desiguais
pequenas coisas na memória cansada
o coração nem sempre adormece feliz
e já nada vai mudar
 e eu digo, sou a que nunca soubeste amar.

as coisas do dia a dia
são mãos vazias cheias de nada
são a alegria, de quando tudo acontecia
pequenas pontes que não chegámos a atravessar
pouca coisa que escoo calada
pensamentos a fazer de conta que meu céu é de luar

as coisas do dia a dia
são pequenas asas que me ajudam a voar
são de mim o retrato a preto e branco
são meu tempo de criança a brincar
vozes perdidas que consigo escutar
o caminho do rio a quem oiço o eco
que me segue, quando já me perco.

natalia nuno






volto a ser rio...



a amarga flor da saudade
traz lágrima que desce pelo rosto
curva-se este até os joelhos tocar,
e traz à vontade, a vontade de adormecer
sem tempo nem medida
e, calar a dor, desta saudade sentida
o rumor seco dos ventos,
uma ausência infinita,
as mãos caídas no ventre
num adeus mudo que a saudade
faz crescer de repente.

há sempre uma ânsia em mim
a pernoitar
volto a ser rio, como se ainda não tivesse
secado, deixo-me ao mar levar...
aceito este meu fado,
sonhos e alegrias ardem, na cegueira
das utopias...
e na passividade dos dias
que são uma eternidade,
de enfado, deixo  na saudade o pensamento
abandonado,
na alma é sol posto,
a névoa encobre  meu rosto
e o coração bate num silêncio agitado.

ainda assim, perdida num mundo sem espaço
quero sentir a terra de pé descalço
a ternura pelo cantar dos pássaros quero sentir
e brindar à vida enquanto ela em mim existir.

natalia nuno


segunda-feira, 26 de agosto de 2019

libertação...



sinto-me solta na imensidão das palavras
perco o frio que à alma andava colado
e a vida em mim se ateia
e tudo vem à ideia
corre um tempo de memória, como
um encontro marcado, e um abraço estreito
dum amor que trouxe ao peito
liberto-o no sonho da viagem,
não ficou nada por dizer
junto ao peito só fez paragem
ficou tudo por acontecer.

e lembro este amor com ousadia
sem arrependimentos, com uma certa nostalgia,
ficou a sombra desse raio de sol
na memória que já se esboroa
vapor de água que escoa,
doce libertação nesta escrita
do que ainda sinto no coração
volto a ser daquele tempo
escrevo poema sem fim
com ilusões e verdades
poema a morrer em mim
nas traças das saudades.

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest