sexta-feira, 21 de maio de 2021

as palavras são como gaivotas...



as palavras são como gaivotas, dão asas ao vôo do sonho, espreguiçam-se nos meus ouvidos, derrubam os meus limites, recordam-me com doçura tudo aquilo que perdi, e surpreendem-me com a esperança do que ainda me resta viver, cada estrela me traz um sonho, um sonho que desliza adormecido em mim, estendo-lhe a mão, enquanto rememoro poemas com emoção...são eles o sumo de tantos anos, o que os terá feito nascer? brotaram de silêncios, de memórias que existiram talhadas para serem flores no meu olhar, e que coloquei no papel com uma caligrafia audaz, tão audaz como o movimento das ondas do mar, ou a fúria do vento, mas com insondável ternura...vulcão de ideias de que fui capaz! palavras que observaram meu tempo desvanecendo-se, meu olhar tantas vezes atormentado, sem um sonho vislumbrado, nas metáforas ficou o fastio do silêncio, no ermo da bruma, onde me interrogava se seria eu alguma coisa, ou coisa nenhuma.

natalia nuno
rosafogo

versos calados...



olho a linha do horizonte
ouço o lamento da tempestade
meus versos calados,
frios, na sua própria solidão
sussurram-me a saudade 
até à exaustão.
atravesso a ponte
ao ritmo lento da eternidade
e lembro que ainda estou aqui
não sei como será o amanhã,
tornei-me mestre na arte de sonhar
e o sonho sempre me fala de ti
nenhum outro sentimento
faz o amor ofuscar.
não suporto o tempo que passa
que cerra os punhos e ameaça
alheio ao nosso mal estar
trago-o no rosto
fala de mim e de ti
da saudade boa, que eu gosto!
a inundar de pássaros e amoras
este velho coração
e são a esperança do nosso chão.

natalia nuno
rosafogo
11/2005

quinta-feira, 20 de maio de 2021

ouço as cotovias...






ouço as cotovias noturnas
trago sede de tempo,
tempo que possuí ...
meus sonhos estão cheios
desse tempo que vivi.
nascem flores azuis
no chão do meu esquecimento
e o amor que por mim possuis
faz-me andar perdida, vou e venho
na crista dos sonhos
com que me entretenho...
já nada me arranca lágrimas
trago recordações amontoadas
apoio-me na felicidade d'outros dias
liberto a dor presente, deixo voar as
cotovias...
na palavra o coração diz o que sente
semeio esperança que pode germinar
se o tempo ainda deixar...

natalia nuno
rosafogo 
1986/12
imagem pinterest

domingo, 16 de maio de 2021

cegou-me o sol...



o sol pousou-me na boca e trouxe-me palavras
grávidas de saudade, 
os pássaros cantam em mim ao desafio,
e o rio corre no tempo há uma eternidade
as  águas levam-me os pensamentos nas dobras do vento...
a manhã abriu, e as cigarras exercitam-se em pulos 
nas sardinheiras, 
soltando a voz em cantorias
querendo ser as primeiras
a lembrar-nos a liberdade dos dias.

sem medo de quebrar,
corro rumo à esperança
sinto no corpo e na alma o querer
ser sempre criança,
e com meus olhos o céu abarcar
retirar deles o nevoeiro, 
e no braseiro dos meus sonhos
continuar a sonhar.

assim se foi a viagem,
hoje estou em repouso
com as memórias na mão,
então, escolho a solidão, e ouso
balouçar-me nas nuvens até de madrugada
caio na noite e esqueço a pele enrugada.
cegou-me o sol, a  flor em mim secou
soprou-me o vento chegou Dezembro
dói-me olhar a lua cheia e no pensamento?!
já de nada me lembro! 

natalia nuno
rosafogo
imagem net