sexta-feira, 8 de maio de 2020

à luz do coração...



partiram sonhos em barcas
tingiu-se meu rosto de medo
veio a noite d' estrelas parcas
levou-me a alma em segredo

foram sonhos naufragados
em nevoeiros... azuis do céu!
tesouros por lá abandonados
de amores perdidos... tu e eu!

meu coração ficou na espera
na loucura de pomba perdida
saudade a chamar a primavera

nasci de novo, cheguei agora
venho dum cansaço renascida
lua, q' na noite  de ti enamora

natalia nuno
rosafogo


a saudade és tu!...



a saudade é meu tecto e meu chão,
é felicidade, é metade duma estrela,
que guardo nas algibeiras da memória,
sempre que a mente e o coração.
relembram nossa história...

na alma trago um caudal de sinos
que tangem sem pausas,
nestas letras que escrevo
como diamantes pequeninos.

hoje não bate o sono
aproximo-me da noite
e dum sonho de amor perfeito
nele me abandono,
e a saudade és tu!
toda a paz em mim, amando-te do meu jeito
a saudade é meu tecto e meu chão
e tu lá dentro a paz
do meu coração.

natália nuno
rosafogo



esperança fruto esperado...



há pratos de várias cores
lisos, às riscas e às flores
na mesa dos senhores!
e há pratos  sem cores
sem flores, vazios,
 na mesa dos trabalhadores

sofredores!

uma velha ferida
neste mudo labirinto antigo
enquanto uns têm vida e,
só olham seu umbigo,
outros morrem aos poucos
trazem no rosto o limite
e um soluço que os transfigura
ainda assim no coração a ternura
sonhando com uma vida boa.
já que esta é vida de calvário
do dia a dia é o suor no rosto
que limpa ao sudário.

mas há os senhores
leões altivos a cravar as garras
que comem em pratos de cores,
lisos, às riscas ou às flores,
felizes dando gargalhadas
à custa das mãos gretadas
q' servem por esmola os senhores

a esperança é fruto esperado
sempre no cansado peito
do homem que sofre pisado.

só uma força o faz mover
o trabalho!
e o bendito sol que o alumia
se lhe perguntarmos o que deseja ter,
dirá:
- ter trabalho todo o dia
 aguentar espinho a espinho
é esta a minha fé,
- o meu caminho
viver inteiro e morrer de pé!

natalia nuno
rosafogo




quinta-feira, 7 de maio de 2020

elegia...



a noite já desce
sobre  a pele dos sonhos
enquanto a solidão cresce,
acabou-se o fogo que me aquecia
e o cansaço se impõe
a fazer-me solitária a cada dia
como sombra desolada
e fria...
afirmo-me na minha loucura
os fantasmas são reais
a vida nem sempre foi dura
agora é por demais.

o tempo gravou sem piedade,
fecho-me em mim mulher
assim vou morrendo de saudade,
enfrento a verdade
venha o que vier.

nada procuro nem espero,
a vida é golpe de asa
logo se cai no abismo,
vem a morte e arrasa
versos  tristes, testemunhos
de tempos velhos,
sombras de mim...
odeio os espelhos
a olhá-los me oponho
olho o luar sem fim
agarro-me ao sonho!

natália nuno
rosafogo

terça-feira, 5 de maio de 2020

alegria amealhada...


meu coração está distante
lá onde aprendi a amar-te
ele que sente, e não consente
- não me deixa libertar-te!
quando me aquece o sol,
ainda vivo,
e deixo-me levar nas asas
dum passarinho
em sonho,
ressuscito a adolescência
e por lá
dou-te a mão e caminho

sigo contigo mão na mão
hei-de enrolar ao meu,
- teu coração!
com corrente de prata e luar
e ter-te como nunca te tive,
desafio, os escolhos da vida
e o inferno da solidão
e fico nos meus sonhos, onde a menina vive,
envolta em nuvens de algodão,
até ao clarear da madrugada
com a alegria amealhada.

seja o sonho da noite
mais longa da vida,
a ele me entrego
como quem volta à terra prometida.

natalia nuno
rosafogo



dou comigo a pensar...



 «valente o mar traz-me saudade e o sonho», dou comigo a pensar em como gostaria de partir por esse mundo, olhar novos horizontes, olhar o sol-pôr sobre as águas e ter o céu por limite... esperar a chegada lua brilhante, deixar fugir os pensamentos, e se a sorte o permitisse, viver belos momentos! esquecer o pesadelo destes dias tristonhos este tempo que dói, que na alma corrói, odeio ver-me a branquear fechada na solidão, mas vai-se levando,  talvez voltemos a olhar a vida e a lembrar que é preciso vivê-la... o tempo amedronta-nos no seu correr, o rumo certo seria aproveitar cada momento, se estamos vivos,  façamos o caminho, os tempos estão mudados mas, uma pessoa habitua-se a tudo, e como costuma dizer-se há mais marés que marinheiros, o que há-de ser, há-de ser, não se lhe pode fugir!... os liláses voltarão a florir, não vou desistir...os sonhos fundem-se com a noite constelada, meus pensamentos fugazes já um pouco perturbados dobram perante a solidão, mas valente o mar traz-me ainda o sonho, e eu ainda me pergunto meu destino foi ter-te amado? seja a vida um sonho e não um navio naufragado...

natalia nuno
(a esperança é um sentir inexplicável)

domingo, 3 de maio de 2020

a ti mãe...



Como é possível tudo ter passado?!
Não sei nada dessa viagem que fizeste sem querer
Lá nesse céu palidamente iluminado.
Revoltei-me com a dureza da partida
Que mais podia fazer?
Se eras minha mãe querida.
Cedo ao desejo constante de ao teu colo voltar
Não havendo nada que eu mais quisesse agora
Sensação única, autêntica que vou guardar
Assim como a manhã serena em que foste embora.
Ontem lembrei o teu xaile negro
Aquele onde me protegias do frio e do vento
Onde convivíamos ambas em segredo
Enquanto teu olhar me envolvia sem cansaço nem
lamento.
A saudade às vezes me traz uma dor maior
Mas não quero o passado fechado
Quero lembrar-te com todo o meu amor
Sonhando sempre ter-te a meu lado.
A lembrança te leva ao meu eu mais profundo
E é lá que te vejo, minha mãe
A melhor mãe do mundo
E é lá que te vejo.

natalia nuno