quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

desço a ladeira sem pressa...




havia uma ladeira em declive
lá em baixo o rio e as flores
que eram brinquedos, bonecas que nunca tive
flores de todas as cores, como o futuro
que imaginava enquanto no rio lavava
não há imagens que eu esqueça
existo ali, toda eu sou alegria
existo, em sonho assisto à beleza
da natureza pura alquimia

desço sem pressa a ladeira
o rio me espera encharcado
até hoje namora o salgueiro ao lado
a tarde já recai, regresso à eira
onde um pouco mais de sol e mais de vento
torna tudo um acontecimento
malham o trigo os malhadores
rapazes novos a pensar no casamento
nos amores, será a alegria certa
e serão abençoados,
trazem os dias contados
a noiva levará o véu
e o rio espelhará o azul do céu
recordação que doce se entranha
e toda a vida nos acompanha.

já as sombras caem, as primeiras
estrelas se acendem
meu coração em agitação
e meus pensamentos ao sonho se rendem
e ninguém sabe até onde vão...

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 8 de janeiro de 2019

livro que ninguém leu....



o coração vive de ilusão
embalado de nostalgia
como uma vela que se apaga
assim passa mais um dia,
e quando o olhar se alaga
faz lembrar uma tempestade de verdade,
que trespassa a memória
corrói as entranhas até não sentir
mais nada, ficam os sonhos na almofada
e alastra um gemido no escuro
depois, apenas o respirar no silêncio duro
se escuta,
perdidas as  esperanças, perdida a luta.

sou agora livro antigo, ninguém leu
um oásis de memórias que adormeceu
não há saída não
meu coração vive de ilusão
apagou-se tudo da memória, até os lírios
nas imediações me olham tristes,
a cada entardecer debruço-me nos lambris
das janelas, pousam as andorinhas em frente
espiam-me como se soubessem de mim e eu delas
há vasos vazios nas escadas, vidros partidos
cortinas desbotadas e portas sem fechadura
que importa, quem lá vivia morreu d'amargura

o céu hoje é mais azul, azul é tranquilidade
dia em que se envelhece ou morre de saudade
pensei-me menina com sonhos e risos
que não consentem partir, mas e
o medo da morte, tenho medo de dormir,
medo até das folhas agitadas pelo vento
tenho medo, que meu céu fique cinzento.

arrumo os medos e as lembranças que me ferem
levanto-me mais uma vez,
ainda há dias de alegrias invento-me
menina nos teus braços,

natália nuno
rosafogo