sexta-feira, 25 de setembro de 2020

a dor da ausência...

doçura quase tímida quando me abraças,
cobre-se o céu, e a vida muda de côr, 
nossos desejos ardem até ao delírio 
«perdidos no mais intenso amor». 
horas de loucura, quando o sonho é precioso, 
e eu sinto o teu roçar, e quando me enlaças,
fico pronta pra te amar! 

vê como avança rápida a vida
e o nosso fervor em chama, 
passaram anos, ficou da ausência a ferida
hoje recuperamos... porque a gente se ama! 
que o amor nunca silencie
traga sempre nele o aroma a jasmim
que passem as estações mas nunca as emoções
nem o teu amor por mim.
dizias-me adeus, no vazio tropeçava na solidão
uma ternura cega, lembrava os olhos teus,
mágoa imensa no coração
era grande a minha fragilidade mas com amor inteiro,
morria de saudade... 
e à tua chegada, era a festa, a chama, o calor
abraçados, «perdidos no mais no mais intenso amor»

 natalia nuno
 rosafogo
pintarest

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

deslizo o ferrolho dos sonhos...



  deslizo o ferrolho dos sonhos, deixo as portas entreabertas e sigo o destino dos meus passos, levo o olhar enxuto e no coração a sede dos abraços...fico imune à sentença dos anos, podem vir luas e marés e enfeitiçados oceanos, que não haverá dor que me quebrante nem pena que os meus olhos apague, agarro o sonho e jogo o jogo da vida um pouco à sorte, vencendo a morte e as horas de incerteza, e é assim, sonhando, que o tempo sepulto para que pare o corroer dos meus traços, que deixe de golpear-me a pele, não quero sentir o seu peso a rodear-me, a calar-me a alegria, a consumir-me numa cinzenta melancolia, tornando minha existência enegrecida...quero esquecer o silvo do seu rancor...busco a vida e suplico-lhe amor...

natalia nuno

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

é na noite que levanto asas...

 



é na noite que levanto asas nas minhas mãos e olho nas minhas entranhas o mundo de palavras que as faz mover, e aí encontro o enigma do jamais escrito...e nos vestígios que escolho, brota sempre a saudade dum instante, de todos os instantes.


natália nuno

a lucidez...

 


a lucidez sempre nos interroga... porquê esse vôo até ao obscuro, porquê esse abismo inesperado, essa inquietude que é fogo, esse contar de rugas novas... deixa que te acompanhe a formosura do vento, o correr das fontes azuis, a verdade dos sonhos, despoja tudo o que é dor e deixa-te levar num passo doce, com os olhos duma criança...


natalia nuno

o passado...

 


é o passado que se desenha na aura deste pensamento em vôo nas minhas mãos... enquanto os meus olhos riem, treme a água no açude e eu criança, com um tremor de asas no sangue...no reino da minha infância o silêncio, e o vento rondando nas ramas, logo o chilreio lânguido do pássaro, ignoro quem voa melhor, se ele, se eu... juntos pelo acaso deste sonho meu.

a natureza abre-se ao meu assombro...

 


a natureza abre-se ao meu assombro, afasto-me da gente que passa, volto ao sossego do meu pensamento, às vezes converto-me noutro ser, o meu corpo é um mar e na corrente os meus sonhos embarcam, o tempo é abolido, e eu prossigo na luz da quimera confiada num milagre...de repente quando a turbulência aflora, caio na realidade, ficam sem luz as paisagens do meu olhar...interrompe-se o vôo ardente do meu sonhar...

natalia nuno

rosafogo

começaremos novamente amanhã...

 


começaremos novamente amanhã, recordaremos que sentimos frio, chegar-nos-ão vozes que recordaremos, mas optimistas amaremos a vida sem que o teu olhar macule a alegria do meu...chegarão horas de solidão, de recordações, e com voz ainda clara e a mente em harmonia, palavras cálidas diremos um ao outro...não sei se o novo amanhã ensombrará os nossos olhos...não, isso eu não sei...ou se a solidão será definitiva, talvez nosso amanhã nasça já sem horizonte!? mas não fico atada ao medo, beberemos mais esse dia como se fosse o sumo dum fruto , deixaremos que o sol gire nas nossas mãos, havemos de encontrar um motivo que ilumine com veemência o que já não volta...


natalia nuno

florzinhas do campo...



quem disse que as florzinhas do campo não têm beleza?!o pequeno sorriso da erva, o puro que há na inocência das folhinhas pequeninas, a sua oculta ternura, seu matinal nascimento logo que nasce o sol... são braçados de frescura, gaivotas de água, sol e melodia, que chegam à minha lembrança....gotículas de orvalho, sorrisos adormecidos, perdendo-se em meu ser, neste anos tão velozes e lentos que vivi, em experiências repetidas e que jamais esqueci... a intensa primavera, o corpo esverdeado da terra, transbordando de aromas e cores, borboletas azuis, brisa de música e nostalgia...na fiel memória, o medo de ficar vazia...

natalia nuno

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

deslizam os sonhos...

vens com o perfume de cerejas silvestres
 e é como se pressagiasse um milagre,
 mas na realidade, 
não existe agora mais que a saudade
 dum intenso amor. 
 o coração inunda de felicidade e tudo é memória, 
um mar de saudade e a escrita me desafia
deslizam os sonhos, as tuas mãos anunciavam magia 
nesses tempos risonhos dum imenso amor. 
 hoje há sonolência nos meus traços
 permanece quase desafiante, 
e como a luz cinzenta do poente 
vou dando passos, 
mesmo que a dor me quebrante
 é no fervor do meu sonho perdidos no mais intenso amor
 que sou tua e tu meu amante.

 natália nuno
 imagem pinterest

velhas palavras...


 é possível, que agora estas velhas palavras
sejam viajantes de fracasso
ou náufragas nos meus olhos em desordem
com desejo dum abraço,
desejo é uma quimera
ai quem me dera, quem dera!
a felicidade que anda fugitiva,
resta a palavra sobrevivência,
dou comigo viva!
nesta paixão tão embutida
como se fosse uma ferida.

memórias atadas
que se soltam dum tempo
que já não existe
abre-se a manhã e o sonho insiste
que nasça no meu sorriso
um bando de pássaros,
como nesse tempo amado.
o sonho me incendeia, de novo o amor por ti
e é um medo que se aninha
sofro em esquecer-me
desse amor errante que caminha,
que se despe de sentimento,
e se recompõe depois ainda mais forte
trazendo palavras velhas
de que me amarás até à morte.

depois da ternura entregue
sempre o mesmo pavor
os mesmos sonhos em solidão
pródiga a minha mão
escrevendo velhas palavras d'amor.

natalia nuno
rosafogo



domingo, 20 de setembro de 2020

fiquei-me ali a uma esquina...



fiquei-me ali a uma esquina
a somar umas vagas horas
olhei-me era ainda menina
recordei brincos d'amoras

a manhã era de poesia
e eu brinquei até à tarde
fui menina neste dia
logo me veio a saudade

escrevi meu nome no chão
com uma pedrinha de giz
depois desenhei um coração
o que à terra tanto quis...

mais que sombra não era
mas tinha asas voei...
tinha os meus à minha espera
mas era sonho e chorei

meu nome já não é papoila
desfolhou-se por entre o trigo
nem menina e nem moçoila
sou mulher de tempo antigo

mas me lembro de ter sido
meus olhos se lembram bem
a menina dum tempo ido
entre o rio e a banda de além

e sempre que o sol sorrir
meu coração reaquecer
à minha memória há-de vir
o som do moinho a moer

encho as mãos de lirismo
elas que cantam e choram
há dias em que tanto cismo
que saudades não demoram

fico como ave lenta
sem vontade de voar
mas o coração acalenta
que um dia hei-de voltar

faço bravo meus versos
como Poeta amo a terra
trago-os aqui, ali, dispersos
já p'lo mundo andam na berra.

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest 


o outono já se faz presente...

 


o outono já se faz presente na sua escura fragrância, é um jardim na penumbra...a sua luz é sensual, passa o seu tempo numa quieta agonia, é tempo de inacabados sentimentos, vai-nos desfigurando as feições e despindo a vida em silêncio, fala-nos com voz melancólica, sutura-nos as feridas, para que nunca mais voltem e desfralda um arco-íris em nós para que a memória não se esfume, quer que perpectuemos o valor da vida para que não se apaguem recordações, e nem sorrisos que arrancamos aos sonhos... tranquilo amigo é este tempo de outono...que se importa que continuemos cuidando de nós, mesmo no frio das horas..olho o horizonte e procuro por aquele fogo feliz, e já não sinto e não sei por quanto tempo seguirei neste mundo a que pertenço, as ruas são incertas e fugidias e as sombras aumentam, sinto o mundo a desabar fico sentida e muda de olhar quebrado, estremecem os rios do meu corpo e o vento adormece no meu peito...

natalianuno