quarta-feira, 29 de maio de 2019

fragmentos deste dia...


os dias quase felizes
quando recordo minhas raízes,
ninguém sabe até onde meus pensamentos vão
abro as janelas do peito, e
ninguém sabe quando há chuva  ou sol no coração.
vou arejando p'lo caminho
num passo que já não voa, não corre,
mas o sonho, vive em mim, não morre.
às vezes, a alegria faz-me companhia
como o sol que chega e cobre a areia
quando a noite se desfaz em dia
e, deixa lá atrás a lua cheia,
subo ao céu azul intenso
onde o sol planeja, e o mar me beija.

aspiro o ar que o vento faz mover
e o mar beija-me os pés com ternura,
ali fico a ouvi-lo num sussurrar de afecto
até ao surgir das estrelas com o anoitecer
e num sossego perfeito, aconchego-me ao teu peito
e sei que é sonho...eu sei!
os sonhos para mim foram sempre de esperança
sonhos, são promessas que trago de criança.

natália nuno
Monte Gordo
28/05/2019
imagem pintarest

dormência dos sentidos...





este cansaço nos olhos
este tamanho emurchecer
resto de farrapos, escolhos
caixa de medos a que me entrego sem querer,
murcham comigo as rosas
os sonhos, eles que eram mariposas
já não voam,
exausta, oiço vozes no silêncio da minha surdez
quem sabe sejam os ventos que me trazem os medos
à memória que se despenhou de vez.
tudo agora é despegado de razão
tudo é, coisa nenhuma
o vazio da alma o adormecer do coração
a dormência dos sentidos
nas noites que vão passando uma a uma
a violência do tempo, é ferida que não cura
moldou-me como o mar molda a areia
com batida que sempre dura
fui menina de sonhos desde que nasci
e por sorte serei até à morte
sei ao que vim, tanto me dei
e tão pouco a mim!
sou agora um outono desfeito
à espera que a longa noite chegue
com a solidão dum grande mar
à espera da manhã que não virá
nada sou nada serei, minha voz se calará
e mesmo assim de forma estranha
esta saudade que me acompanha
para sempre ficará
na solidão do que escrevo.

natalia nuno
Monte Gordo 29/05/2019
imagem pintarest