sábado, 15 de maio de 2021

sonhos que invento...



sonhos que invento
de fogo e ternura
em atiçado vento
minha ventura...
abro-te os braços
e deixo-me amar
com amor e loucura
teu amor é cura 
deixa-me a sonhar.

sou feita de chama
tenho fome de entrega
no linho da cama
meu corpo não se nega
e p'lo teu reclama.
com louca vontade
caindo cansado
quando chega a saudade

amor eu não sei
se amor imploráste
ou se eu te o dei
se em mim o incendiáste,
se é uma canção gasta
que de mim se afasta.
ilusão ingénua
ou encantamento
despertando ardor

os sonhos que invento
ah! sei lá eu amor!?

natalia nuno
rosafogo
1985/12
imagem pinterest

no silêncio esmagador...



no silêncio esmagador que oprime, de repente uma ave que cante numa árvore frondosa, uma rosa que abra, o bulício das abelhas ao redor, é sentir uma vontade de viver, deixar-se fantasiar o resto do tempo, esquecer o vento da descrença, seguir em liberdade, sem o mínimo descuido de ser feliz, porque o tempo apouca  corre como um rio fluido, nutrir cada dia com amor e mel como se fosse o último... esquecer a solidão dormente, rir com riso de medronho e continuar no sonho, nunca é sonhar em vão, se ao acordar sentir bater, esse velho coração...

natalia nuno
rosafogo
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sexta-feira, 14 de maio de 2021

legado...




aqui deixo o meu legado, que alcancei da união incansável do meu coração com a escura fragrância do meu ser na sua inquieta agonia, com a luz do jardim da alma, enquanto a sonhar a vida!...nas montanhas azuis que avisto nos meus sonhos, há a premonição de que na noite insistente vou caindo, num emaranhado sem sentido, arrebata-me o sonho sem um gemido, a lua serpenteia nos meus olhos, uma dor mesquinha passa por mim e lá se acaba a esperança redentora de alcançar o céu... no meu coração que não desfalece, não há desolação, e com uma força incessante partilha o fogo da sua fogueira, com quem o queira, dou paz à minha memória, aqui deixo o meu legado, na sua firme dualidade de amar-vos e ser amado...

natalia nuno
rosafogo
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fantasia...


as acácias encheram-se de flor no interior da minha fantasia, baralharam-me os sonos e os sonhos, deixaram-me nesta lenta solidão, com os olhos adormecidos, e a negarem-me as asas de adolescente que me levam sempre à lembrança, mesmo que a memória demore... as acácias trazem o perfume ao meu beijo, quando tenho o coração apertado, o tempo me barra o caminho e, me prende o corpo à negação... acelero meus olhos, mora em mim um vento quente e vou admiradamente longe, onde só as acácias têm cheiros de auroras, vindos pelos ventos até meus pensamentos...onde tu moras!

natalia nuno
rosafogo
imagem pintarest

quinta-feira, 13 de maio de 2021

lágrima solitária...



na paisagem da minha alma 
há um verde perfeito que
não deixa que enferruge a minha esperança,
e é no peito, que guardo a lembrança, onde
penduro os ramos mais alegres da saudade
cântaro cheio de alegria
que é ainda claridade...
uma lágrima solitária cresce e se agiganta
mas depressa se apaga,
é utopia esta mão que sinto que me afaga?
recordo o destino dos meus passos
creio que me perdi por entre os sonhos
tão esfumados, trago agora nos meus traços
cruel significado do que foi a vida,
as sombras golpeiam-me a retina
e adensam minha nostalgia
ao recordar-me menina.

resta-me o fel das rugas e a monotonia
o peso da saudade a cada dia.
nas minhas veias verdes 
de existência enegrecida,
ainda existe a mulher
apagando-se na fuga, vizinha da noite
gravitando, um pouco perdida

natalia nuno
rosafogo



terça-feira, 11 de maio de 2021

moldura empoeirada...


olhei o rosto que fora o meu
nada resta de semelhança
com a mesma avidez, olhei o teu
nada resta da lembrança,
sentei-me na cadeira

a fotografia ali na moldura
a que me deste, a primeira!
ali fiquei perto da janela
a olhar pra ela... com ternura.
terminou assim o dia
lá fora uma chuva miudinha e fria
toca os vidros com lamentos
enquanto vou escrevendo versos
tão modestos,
- com palavras de restos,
esquecendo onde estou
tampouco me lembro como o poema começou.
o que tenho diante de mim
é um dia cinzento, trazendo o vento
a agitar as cortinas,
e no pensamento, um vestígio do rosto, 
assim,
a vida vai ficando remendada
tudo na vida tem um limite,
calada,
meu olhar esbarra na janela
e chora de mágoa, com ela.

e os rostos amarelecem
são uma rendada saudade 
o tempo não atrasa e com pontualidade
a pele perde a alvura,
deixamo-nos pacientemente no sonho
vamos inventando ternura...
dobro as memórias, desmancho as palavras
e esqueço o meu rosto cor de sépia
na moldura empoeirada,
este dia cinzento, em que a chuva bate na vidraça
transformou-se em nada,
e meu rosto há muito perdeu a graça.


natalia nuno
rosafogo
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