quinta-feira, 30 de agosto de 2018

sinais de luz...



o dia está prestes a raiar
sinais de luz entram pelas janelas
voltam as recordações antigas
e eu sonho com elas
lá está a cortina branca transparente
e a cama  de latão cor de azeitona
mas onde está minha gente, que
agora me abandona?
meu olhar contorna o guarda fato
e o espelho, a mesinha de cabeceira
tudo na mesma, a fita rosa com que ato
o cabelo, a boneca de trapo comprada na feira
gosto de levantar os puxadores um a um
aceito a ilusão de lhes ouvir o barulho, caindo
tenho medo de sufocar, não sei bem
o que estou sentindo,
casa pequena à minha medida
chão de soalho, conheço-lhe os nós
sinto-me perdida...onde estão meus avós?
ouço as gavetas a abrir e a fechar
ouço até o barulho dos talheres
como posso a saudade calar?!
meu pai dizia: casa de mulheres
esposa e duas filhas, e a avó sempre a espiar
a avó fonte de sabedoria, generosa inclinação
para ensinar, as tarefas de aprender e fazer.

acordava a sorrir, o pai levantava-me nos braços
dessa manifestação de carinho,
como é boa esta ilusão de ainda lhe sentir os abraços
uma surpresa, tem que surpreender
hoje esqueço a morte e trago tudo de volta
com inabalável convicção, e o coração
se solta, abro a janela da mente de par em par
e deixo o sol de vez entrar, deixo a saudade no parapeito
e deixo-me na expectativa, quem sabe não  arranjo jeito
de voltar a sonhar com estas viagens que não são novidade,
onde eu mato sempre a saudade.

as lembranças vivem, martelando-me o pensamento
e eu sinto-as vivas a cada momento,
 liberto-me das exigências da vida e, vou fazendo a despedida.

natália nuno
rosafogo





quarta-feira, 29 de agosto de 2018

rio da memória...




é no rio da memória que me sento
na margem, lembrando o tempo em que sonhava,
não escondendo a emoção, dava-te a mão
era um tempo diferente este que lembrar eu tento
em que um bando de aves nos pousava no peito
e eu te amava, tão menina, ainda sem jeito
como a vida é breve,
lembro a cada momento.
ainda hoje espero pela visita dos pássaros
e do vento, a trazer-me de novo
num golpe de magia, o encanto e a alegria
desse tempo que corre no rio da memória
onde me sento.

navego, estou de abalada
o tempo é escasso
levo a saudade e a carência do teu abraço
já cansam meus olhos de ver a imagem,
menina deste meu sonho sem idade
sonho que é já miragem
no verde dos meus olhos é saudade

num bater de asas me liberto
deste sonho e do resto do caminho tão incerto
mas se tempo me sobrar hei-de voltar
aqui à margem do rio da memória onde me sento
sonhando,
aliviando meu pensamento.

natalia nuno
rosafogo



domingo, 26 de agosto de 2018

amor...




amor é sentimento forte
nasce da fonte do sentir
do mais profundo do coração
há quem nele creia
quem se enrede eternamente na teia,
é a alma que se incendeia e refresca
o ar que se respira, vindo do alto
o amor é a vida no céu
são as mãos que despem, olhos que envolvem
pensamentos que trazem a linguagem pensada
é música e poesia cantada.
mas é também a vida em sobressalto.

é agora remanso, quietude
é voltar à juventude amiúde
é sonhar ao morrer da tarde
quando o sol acende o ouro alaranjado
confiar no laço que nos atou  e que Deus traçou
hoje é esperança o que resta no corpo cansado
sentir o caminho vivo e lembrar o passado
que o amor seja eterno em nosso coração
divino licor, eternidade,
eternos sejam os abraços
e acabados os passos... seja ele também
SAUDADE.

natalia nuno
rosafogo